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Relatório dos EUA sobre direitos humanos agita Guiné-Bissau

Lusa
15 de abril de 2022

Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil e Liga Guineense dos Direitos Humanos criticam governo guineense. "Direitos humanos estão a conhecer um retrocesso nunca antes visto", alerta Augusto Mário Silva.

Guinea-Bissau PAIGC-Mitglieder
Foto: Iancuba Dansó/DW

O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário Silva considera que o relatório dos Estados Unidos sobre os direitos humanos na Guiné-Bissau reflete a realidade e o Governo guineense deve agir rapidamente para inverter a situação.

"O relatório reflete aquilo que é a realidade da situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau e que a Liga já vinha denunciando há algum tempo", afirmou o presidente da organização não-governamental.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos divulgou, esta semana, o seu relatório anual relativo à situação dos direitos humanos no mundo e no caso da Guiné-Bissau referiu que a impunidade continua a vigorar no país, facilitando a corrupção e o tráfico de droga.

"É lamentável, que depois de muitos anos de luta e de sensibilização, ainda continuarmos a ter situações deste género e não vermos nenhum sinal de melhoria da situação dos direitos humanos", afirmou.

Augusto Mário SilvaFoto: DW/B. Darame

Segundo Augusto Mário Silva, o Governo deve "agir rapidamente no sentido de inverter" o quadro.

"Temos de lembrar que a maioria dos parceiros internacionais têm como bandeira da cooperação o respeito pelos direitos humanos e corremos o risco de ver alguns aspetos da cooperação bloqueados por falta de respeito", afirmou.

"É importante o Governo começar a trabalhar com as organizações da sociedade civil e com os parceiros na inversão deste quadro negativo da situação dos direitos humanos da Guiné-Bissau", sublinhou.

Augusto Mário Silva alertou que os "direitos humanos na Guiné-Bissau estão a conhecer um retrocesso nunca antes visto". "Neste momento, temos um regime político que em vez de promover os direitos humanos tem estado a eliminar, a aniquilar, completamente o livre exercício dos direitos fundamentais", afirmou.

Do relatório, o presidente da organização de defesa dos direitos humanos destacou, entre outros, como elemento essencial a corrupção dos juízes nos tribunais e a manipulação política dos tribunais para interesses políticos.

"Estes elementos de facto vieram confirmar aquilo que já vínhamos a alertar, para o perigo da derrapagem do Estado de Direito na Guiné-Bissau. Quando os tribunais são permeáveis à manipulação política significa que deixam de ter capacidade de avaliação no quadro da imparcialidade e isso também facilita a impunidade, que o relatório também deu destaque", afirmou.

Augusto Mário Silva destacou igualmente a violência policial e os ataques contra a liberdade de imprensa, bem como a falta de atitude do Governo em relação àqueles atropelos, deixando transparecer uma certa "conivência".

"Infelizmente o Governo não tem tido um comportamento de quem queira pôr fim a estas práticas, antes pelo contrário, a atitude do Governo revela uma certa conivência", disse.

Encerramento de rádios

Outro dos assuntos que tem sido muito criticado nos últimos dias no país é o encerramento de dezenas de rádios, decretada na semana passda pelo governo, por alegada falta de pagamento de licença de emissão.

Na altura, em entrevista à DW, o Sindicato dos Jornalistas denunciou estar-se perante um ataque à liberdade de imprensa, altamente perigoso.

Jurista Fodé ManéFoto: Braima Darame/DW

Já em declarações, esta semana, o jurista Fodé Mané, do Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil guineense, afirma que esta medida constitui uma "violação flagrante" do que consta na lei.

Segundo Fodé Mané, o Governo cometeu uma "omissão ao não decretar os pormenores de como as rádios podem conseguir licença ou podem ser retiradas". Isso porque, explicou, na "lei que regulamenta a atividade de radiodifusão remete para um decreto que nunca foi aprovado, significa que o Governo não tem mecanismo para atuar".

"Outro aspeto é a própria taxa fixada. Há regras para a fixação das taxas que têm de passar pelo Orçamento Geral de Estado e autorização da assembleia, mas foi fixada pelo ministro das Finanças e da Comunicação Social, sem nenhum critério objetivo", sublinhou.

Fodé Mané disse que a lei também foi violada na questão do encerramento. "As medidas de encerramento, segundo a própria lei, devem ser decretadas pelo tribunal. O Governo através da inspeção constata se existe ou não alguma violação, se constatar, chama a atenção, se houver persistência da violação a pessoa está a incorrer em crime e quem é titular da ação penal é o tribunal. O encerramento também não pode ser por via administrativa, como o Governo está a fazer", explicou.

Para o jurista guineense, "há um conjunto de violações que estão a ser feitas por que tem força apenas", lembrando que as rádios, segundas as instituições internacionais, contribuem para o desenvolvimento humano. 

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