Segundo a Cruz Vermelha, 3 mil pessoas ficaram sem casa e 600 estão desaparecidas. Presidente classifica tragédia como "devastadora" e pede apoio para o país lidar com desastre. Entre as vítimas estão 30 crianças.
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As enchentes que afetam a Serra Leoa desde o fim-de-semana já deixaram cerca de 300 mortos e 600 feridos nos arredores da capital Freetown, informou a Cruz Vermelha esta terça-feira (15.08). De acordo com a organização, mais de 3 mil pessoas estão deslocadas devido às inundações e 600 pessoas estão desaparecidas. Por isso, teme-se que o número de vítimas aumente.
O Presidente da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, afirmou que os cidadãos estão "devastados" com uma das piores tragédias já ocorridas no país, e pediu apoio para lidar com o desastre. "Estou muito perturbado com esta tragédia e, com o coração pesado, permitam-me estender profundas condolências às famílias enlutadas. Esta é uma tragédia para cada cidadão, porque as pessoas que pereceram neste desastre são nossos compatriotas. Peço que todos permaneçam calmos e evitem áreas propensas a desastres enquanto continuamos a tratar desta grave emergência", declarou.
O cenário nas imediações de Freetown é devastador. Casas inteiras estão cobertas pela lama. As águas arrastaram móveis e edifícios. Pelo menos 30 crianças estão entre as vítimas mortais. Segundo Adele Fox, coordenadora nacional de saúde da organização Concern, mais de 100 pessoas morreram num deslizamento de terra na região de Regent, a sul da capital. Equipas de emergência fazem o resgate de pessoas que ficaram presas nos escombros.
"Em Regent, parte de uma montanha desmoronou, cobrindo várias moradias. Noutra parte da cidade, uma ponte caiu, matando muitas pessoas. Recebemos relatos de que vários corpos foram levados para a morgue", afirmou. Pelo menos 200 corpos deram entrada na morgue central de Freetown esta terça-feira.
A morgue do Hospital Connaught também recebeu vários mortos. "É por causa das chuvas fortes que se prolongaram por muito tempo. As pessoas constroem as suas casas na encosta e, quando chove, a terra é levada e cobre as casas. Essa é a minha impressão, porque pelo que eu vejo, pela forma como os corpos estão, provavelmente rochas e casas caíram sobre eles", afirmou o vice-diretor do hospital, Dr. Carew.
"Comunidades inteiras foram arrastadas"
Segundo o jornal The Sierra Leone Times, a estrada que liga Regent a Freetown ficou bloqueada e o tráfego foi suspenso. Nas fotos distribuídas pelos meios de comunicação do país, é possível ver as ruas inundadas pelo barro e pessoas tentando sair das casas. Outras áreas perto da capital, como Kissy Brook e Dworzak Farm, também foram afetadas pelas inundações. Em Babadorie e Kanigo, meio milhão de moradias ficaram destruídas. As linhas de comunicação e a eletricidade também foram afetadas.
"Em alguns lugares, comunidades inteiras parecem ter sido arrastadas e tudo o que restou está coberto de barro", disse o coordenador do Programa da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICR), Abdul Nasir, que trabalha na zona.
O Governo de Serra Leoa montou uma operação de emergência para resgatar corpos, atender sobreviventes e evacuar áreas de risco. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) disponibilizou 150 mil dólares como ajuda inicial para o país. A OIM assinalou que o acesso à água potável e o elevado número de pessoas que ficaram sem casa são as preocupações imediatas para os milhares de cidadãos da capital, cuja população supera o milhão de habitantes.
Os deslizamentos de terra ocorreram após três dias de chuvas torrenciais. Mariama Julie Koroma, moradora de Freetown, diz que a situação poderia ter sido evitada. "Quando chove, as pessoas atiram lixo para as calhas, o que causa as inundações. Isso está a acontecer há muito tempo e todas as nossas casas são invadidas pela água. Choramos e reclamamos e não há nenhuma solução para o problema", lamenta.
África exige justiça ambiental
Cientistas dizem que a Terra poderá aquecer até quatro graus até ao fim do século. A África já sofre com o aquecimento global. Caso não se combata a alteração do clima, as consequências serão desastrosas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Há cada vez menos água em África
Segundo o Banco Mundial, basta um aquecimento do clima de dois graus centígrados para que caia menos um terço de chuva em África. O que terá como consequência um aumento das secas. Na seca extrema de meados de 1990, os pastores etíopes perderam cerca de metade do seu gado.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Chuva a mais
Futuramente as chuvas poderão aumentar no leste da África. Mas serão chuvas torrenciais concentradas em poucos dias e não regulares e distribuídas pelo ano. Em 2011, a cidade portuária tanzaniana Dar-es-Salam foi surpreendida por fortes quedas de chuva, que submergiram bairros inteiros. Pelo menos 23 pessoas morreram, outras 10 000 tiveram que abandonar as suas casas.
Foto: cc-by-sa-Muddyb Blast Producer
Colheitas falhadas
Em África cerca de 90% dos produtos agrários são cultivados por pequenos agricultores. Caso não se reforce marcadamente a sua resistência contra o aumento de secas e enchentes, mais 20% pessoas do que hoje vão passar fome, alerta a Organização das Nações Unidas.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Riscos para a saúde
Já hoje a alimentação deficiente por causa de colheitas fracas representa um problema em muitos países. Muitas pessoas mudam-se para os bairros de lata das grandes cidades, onde doenças como a cólera se espalham rapidamente. Um aumento da temperatura poderá fazer disparar a incidência de doenças como a malária, inclusive nos planaltos africanos, onde, até agora, a maleita não existe.
Foto: Getty Images/S. Maina
Extinção das espécies
O aumento da temperatura influencia eco sistemas completos. Muitos animais e plantas não se conseguem adaptar suficientemente depressa. Segundo um relatório do Conselho Mundial do Clima, entre 20% a 30% de todas as espécies estão ameaçadas de extinção por causa da mudança do clima.
Foto: CC/by-sa-sentouno
O Kilimanjaro sem neve
A manta de neve do monte Kilimanjaro tem 12 000 anos. Nos últimos 100 anos derreteu mais de 80% do seu gelo. Caso prevaleçam as condições atuais, o gelo no Kilimanjaro desaparecerá entre 2022 e 2033, calcula uma equipa de cientistas do Estado federado do Ohio, nos Estados Unidos da América. A seca e a falta de chuva levam a que o gelo derreta rapidamente.
Foto: Jim Williams, NASA GSFC Scientific Visualization Studio, and the Landsat 7 Science Team
Só quando a última árvore for abatida ...
A mudança do clima deve-se, sobretudo, aos carros, centrais de energia e fábricas na Europa, América e Ásia. Mas o abate de árvores em muitas florestas africanas, por exemplo, para produzir carvão vegetal, aumenta o CO2 na atmosfera e contribui para o esgotamento dos solos. Em tempos, um terço da superfície do Quénia era floresta, hoje são apenas 2%.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Muda a muda cresce a floresta
Hoje, muitas pessoas já se aperceberam da necessidade de medidas para contrariar este desenvolvimento nefasto. Há algumas décadas, cidadãos empenhados no Quénia começaram a plantar novas árvores, contribuindo para que a superfície florestal crescesse para 7%. As árvores impedem que a chuva leve a preciosa terra arável e retiram os gases de efeito de estufa da natureza.
Foto: DW/H. Fischer
Proteção através da diversidade
As monoculturas são vulneráveis a secas e animais daninhos. Se forem plantadas diversas frutas lado a lado, a colheita fica assegurada, mesmo que uma espécie falhe. Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, a agricultura ecológica aumenta também bastante mais a resistência às consequências da mudança do clima do que a agricultura convencional.
Foto: Imago
Menos palavras, mais ação
Reservas subterrâneas de água da chuva, seguros contra o risco de colheitas falhadas: há muitas maneiras de, pelo menos, amenizar as consequências do aquecimento global. A assistência ao desenvolvimento e a protecção do clima não podem ser separadas, exigiram, recentemente, os delegados numa conferência das Nações Unidas. Mas não houve promessas concretas de assistência.
Foto: picture alliance/Philipp Ziser
Paris desperta expectativas
“Justiça ambiental, já!” exigiram os manifestantes na Conferência do Clima das Nações Unidas em Durban, na África do Sul, em 2011. Agora o mundo aguarda a conferência que se realiza em Paris no fim de 2015. Está planeada a assinatura de um acordo global sobre o clima, com o objetivo de limitar o aquecimento global a dois graus centígrados e reduzir as consequências nefastas da mudança do clima.