Encontrado corpo de membro do MDM. Políca está a investigar
Bernardo Jequete (Chimoio)
24 de janeiro de 2017
O delegado distrital de Tambara do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que estava desaparecido desde 15 de janeiro, foi encontrado morto na província de Manica.
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Após o MDM ter denunciado uma possível execução a tiro, na sua residência, o corpo de Mateus Filipe Chiranga foi descoberto, na segunda-feira (23.01), já em estado de decomposição, em Matsinho, em Manica, a quase 500 quilómetros do presumível local do assassínio.
Segundo Samuel Chiranga, irmão mais velho da vítima, foram os vizinhos que lhe comunicaram que o irmão teria sido morto. Samuel Chiranga estava de viagem.
"No dia seguinte recebi uma informação dizendo que o meu irmão foi morto e abandonado no muro de vedação da casa vizinha. Enquanto já regressava, quase ao alvorecer do dia, recebi mais outra informação dizendo que as pessoas voltaram e levaram consigo o corpo para algures”, afirma.O chefe nacional do Departamento de Mobilização e Propaganda do partido, Geraldo Carvalho, reconheceu o corpo de Mateus Filipe Chiranga e diz que "não há dúvida de que se trata de um assassinato”.
"No local onde foi encontrado havia uma cova, e não sabemos quem abriu a tal cova”, afirma.
Caso ainda sob investigação
Depois das primeiras denúncias do Movimento Democrático de Moçambique, a porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique, em Manica, Elsidia Filipe, descartava a possibilidade do delegado distrital do partido em Tambara ter sido assassinado.
Agora, Elsidia Filipe considera que não se pode falar de ato criminoso. O caso está a ser investigado e é preciso, acrescenta, "esperar pelos resultados da investigação que está sendo feita pela PRM".
"Vamos aguardar que a denúncia canalizada pela família seja trabalhada” nota também a porta-voz da polícia.Segundo a Elsidia Filipe é preciso "aguardar o processo-crime desde a sua investigação até que haja o seu esclarecimento e culmine com o julgamento dos supostos autores do crime”.
Funeral sem data
O funeral ainda não tem data marcada, devido a procedimentos que têm sido desenvolvidos pela polícia e Procuradoria-geral da República.
Segundo informações veiculadas pela agência Lusa, as autoridades de Manica, impediram na segunda-feira (23.01) a realização do funeral da vítima, apesar da presença de familiares e amigos na morgue do hospital. As autoridades alegaram que o corpo tinha de ser autopsiado com vista ao esclarecimento do alegado homicídio.Recorde-se que outros membros de partidos da oposição, tanto do MDM como da RENAMO, têm sido assassinados, em Manica e em outras províncias moçambicanas. Mas a polícia não tem mostrado esforços para esclarecer os casos.
24.01.2017 Assassinato do delegado do MDM - MP3-Mono
O centro e norte de Moçambique estão a ser assolados há mais de um ano pela violência militar, na sequência da recusa da RENAMO em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.