Encontro entre o Governo de Moçambique e a Renamo marcado por divergências
4 de dezembro de 2012O primeiro frente a frente entre a Renamo e o Governo moçambicano realizou-se esta segunda-feira (03.12.2012) num dos hotéis da capital, Maputo.
No encontro, o Governo exigiu que a Renamo seja mais precisa nas suas exigências. A Renamo disse, por seu turno, que não tem muito tempo para esperar.
As inquietações da Renamo relacionam-se com uma alegada partidarização do aparelho de Estado, questões relacionadas com os processos eleitorais, o alegado afastamento das suas altas patentes do exército e a alegada distribuição desigual da riqueza beneficiando uma elite do partido no poder.
No essencial, a Renamo acusa o partido no poder, a Frelimo, de não cumprir com os entendimentos alcançados em Roma há 20 anos que culminaram com a assinatura do acordo de paz pondo fim a 16 anos de guerra civil.
Precisão nas exigências
A delegação do Governo foi chefiada pelo Ministro da Agricultura, José Pacheco. Pacheco disse que o Governo registou as preocupações da Renamo e acrescentou:
“Pedimos para que sejam mais precisos, para ver que matérias são da responsabilidade do Governo e que matérias são da responsabilidade de outros órgãos competentes à volta da implementação da nossa Constituição da República.”
Celeridade nas respostas
O chefe da delegação da Renamo ao encontro, o secretário-geral do partido, Manuel Bissopo, diz que a próxima reunião com o governo moçambicano deverá ter lugar na semana que vem, porque a Renamo “já não tem muito tempo para esperar”.
Segundo Bissopo, “o governo da Frelimo não apresenta reconhecimento e legitimidade no leque de assuntos que nós apresentámos. Isto preocupa-nos, mas esperamos que, ao longo dos próximos dias, o Governo venha a reagir positivamente. O importante a reter é que os próximos encontros, mesmo daqui a sete dias, terão de ser realizados na zona centro do país.”
Tensão
Este frente a frente entre o Governo moçambicano da Frelimo e a Renamo, foi antecedido nos últimos meses de momentos de tensão, com o discurso político subindo de tom.
O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, instalou-se em meados de outubro na Gorongosa, a antiga base central do movimento rebelde durante a guerra civil, e de lá não regressou.
Apesar de reiterar que não pretende voltar à guerra, após a sua chegada à Gorongosa, Dhlakama reuniu um número não estimado de antigos guerrilheiros, que, segundo algumas fontes, atingem as centenas ou mesmo milhares.
Ainda que o encontro desta segunda-feira não tenha produzido grandes resultados, espera-se que o facto do Governo moçambicano e a Renamo se terem sentado à mesma mesa possa contribuir para desanuviar o clima de tensão que se vivia.
Autor: Leonel Matias (Maputo)
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha