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Energia renovável: Africanos em sintonia com Alemanha

Isaac Mugabi
3 de junho de 2022

Ministros da Energia e representantes de Governos africanos concordaram em criar uma parceria com empresas alemãs para produzir energia renovável. Objetivo é acabar com a dependência europeia do petróleo e do gás russos.

Foto: picture-alliance/dpa/EPA/STR

O 15º Fórum Alemão-Africano da Energia, realizado na cidade alemã de Hamburgo entre os dias 1 e 2 de junho, foi uma oportunidade para os principais atores africanos e alemães no setor da energia discutirem formas de alcançar uma parceria vantajosa para a produção de energia renovável.

Isto significa que as empresas alemãs irão financiar iniciativas africanas para produzir energia a hidrogénio para exportação para a Europa. Com a guerra em curso na Ucrânia e as sanções aplicadas à Rússia, a Europa está a lutar para encontrar alternativas às importações de petróleo russo.

Esta semana, os ministros da União Europeia concordaram com um novo pacote de sanções que cobre mais de dois terços das importações de petróleo russo para o bloco.

O fórum também surge após a visita do chanceler alemão Olaf Scholz a África no mês passado, onde assinou acordos que irão apoiar as infraestruturas necessárias para extrair e exportar petróleo e gás para a Europa.

Olaf Scholz com o PR sul-africano Cyril Ramaphosa durante visita à África do Sul em maioFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

De acordo com o ministro de Estado da Energia da Etiópia, Sultão Wali, os projetos de desenvolvimento energético são de capital intensivo e requerem parcerias público-privadas.

"Os Governos africanos não podem levar a cabo estes projetos sozinhos. Precisam do apoio financeiro da Alemanha e de outros países ricos ocidentais, e este fórum criará um terreno forte para todos", afirmou Wali.

Impacto da invasão da Ucrânia

"Devido à guerra na Ucrânia, pode-se ver neste momento a necessidade de diversificar as fontes de energia", disse Ndiarka Mbodji, fundadora da empresa Kowry Energy com sede em Berlim.

"África tem a chave para resolver a crise energética da Europa. E se olharmos para os recursos de África, por exemplo o gás, não podemos subestimar a sua importância", explicou Ndiarka Mbodji.

No mês passado, a Comissão Europeia anunciou planos para importar 10 milhões de toneladas de hidrogénio renovável, principalmente de África.

A Comissária da União Africana para a Energia e Infraestruturas, Amani Abou- Zeid, disse que para a Europa superar os seus atuais desafios de segurança, precisa de lidar primeiro com a crise energética. E isto significa construir uma forte parceria com África.

"A Europa não está segura enquanto não estivermos todos seguros. E a segurança da Europa agora não é apenas uma questão de armas. Trata-se de combustível, trata-se de energia, trata-se de comida", disse Abou-Zeid.

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O défice energético de África

Apesar de um aspecto tão positivo para a África fornecer hidrogénio renovável à Europa, metade da sua população não tem acesso à energia limpa. Como resultado, muitas famílias dependem da queima de biomassa para energia.

Por exemplo, 95% dos etíopes dependem de combustíveis de biomassa, o que tem um impacto direto na produção terrestre, de acordo com o ministro Wali, da Etiópia.

No entanto, a Etiópia está a tentar passar da produção hidroelétrica para as energias renováveis, disse o ministro à DW. "Atualmente, estamos a alterar os nossos rácios de mistura energética, passando de uma dependência apenas da energia hidroelétrica para uma fonte de energia diversificada como a energia solar, eólica, geotérmica e também outras fontes fiáveis", avançou Wali.

A Etiópia orgulha-se de enormes reservatórios de água subterrânea e superficial e espera negociar com os financiadores para produzir energia de hidrogénio. "Por conseguinte, este é um fórum vital para nós termos uma discussão robusta sobre parcerias privadas e públicas".

Falta de investimento

A Câmara Africana da Energia (AEC), uma organização sem fins lucrativos que defende as parcerias Alemanha-África, diz que o continente precisa de soluções inovadoras e integradas para fazer com que a pobreza energética passe à história até 2030.

Gasoduto na NigériaFoto: Florian Plaucheur/AFP/Getty Images

Num comunicado divulgado antes da visita do chanceler Scholz a África no mês passado, a AEC afirmou que o corte de energia se tinha tornado uma ocorrência diária apesar de possuir um potencial significativo de gás natural e hidrogénio. Além disso, só se espera que piore se não forem tomadas medidas necessárias para aumentar a capacidade de geração de energia.

"900 milhões não têm acesso a soluções de cozedura limpas, em grande parte atribuídos à falta de investimento adequado e às tendências de transição energética", afirmou o comunicado.

Apoio para a transição energética

Na África do Sul, no entanto, a situação é diferente. Embora o Governo do Presidente Cyrill Ramaphosa tenha desenvolvido uma política de hidrogénio, as pequenas empresas que querem apoiar a sua transição para as energias renováveis carecem do capital necessário.

Zanele Mavuso, a presidente executiva do grupo de energia Bambili, com sede na África do Sul, afirmou: "não basta que o Governo lance uma base sólida para a energia de hidrogénio renovável".

"Trata-se de garantir que tem o capital para apoiar o crescimento da indústria. Além disso, ajudaria se tivesse o financiamento para assegurar que os projetos de energia renovável podem começar e ser sustentáveis ao longo do tempo", explicou Mavuso.

Enquanto a maioria das nações africanas produz pouco carbono, elas são mais afetadas pelas consequências das alterações climáticas e, ao mesmo tempo, são o parceiro-chave na descarbonização da economia global.

Os observadores estão ansiosos por ver como será uma transição energética liderada por África e como as nações africanas se tornarão exportadoras de energia verde e centros de produção de energia verde.

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