Entre expectativas e desilusões, a política para África de Obama
25 de junho de 2013 É certamente uma comparação de que o Presidente norte-americano Barack Obama não gosta: quando o assunto é África, ele não é nenhum Bill Clinton. E também não é nenhum George W. Bush.
Obama faz esta quarta-feira a sua primeira viagem prolongada a África. Após as expectativas geradas pela sua eleição em 2008, o Presidente dos Estados Unidos tenta agora convencer os africanos de que o seu país tem interesses vitais a proteger e perseguir no continente.
Já em 2009, quando fez uma curta visita ao Gana, Obama disse que tem em si “sangue africano e a história da [sua] família abrange as tragédias e os triunfos da história africana”. Quando, na altura, referiu as suas raízes africanas, o júbilo foi grande. O facto de ele ter criticado a corrupção em África e ter exigido maior responsabilidade dos africanos passou quase despercebido.
Muitas questões internas desviaram a atenção de África
As crises imobiliária e financeira nos Estados Unidos canalizaram quase a toda a atenção do Presidente e, geoestrategicamente, a Ásia tornou-se central remetendo África para segundo plano. Entretanto, a China substituiu os Estados Unidos como principal parceiro comercial de África. O facto de o Presidente chinês Xi Jinping ter referido, durante a sua primeira viagem a África logo após a sua tomada de posse, que a amizade entre a China e África é “algo muito sério”não deverá ter passado despercebido aos norte-americanos.
David Shinn, antigo embaixador norte-americano no Burkina Faso e na Etiópia e, hoje, professor de política africana na Universidade George Washington, admite que “o primeiro mandato de Obama pouca relevância atribuiu a África”. Para ele, muitas questões importantes de política interna “dificultaram uma política para África mais ativa”, mas acredita que tal situação se altere no segundo mandato, “daí que Obama faça agora esta viagem”.
Seria, no entanto, injusto acusar Obama e o ministério dos Negócios Estrangeiros norte-americano de total desinteresse por África. Obama interveio pessoalmente e enviou um representante especial para salvar o referendo da independência do Sudão do Sul em 2011. No ano seguinte, convidou vários líderes africanos para a cimeira do G8, que se realizou em Camp David, para debater a iniciativa para a segurança alimentar. Hoje, esta iniciativa está a ser implementada em 20 países africanos, entre eles o Senegal e a Tanzânia.
Obama não trouxe mudanças para África
Também medidas controversas foram tomadas pela administração Obama: o envio de tropas especiais para a República Centro-Africana para caçar o senhor de guerra Joseph Kony e a construção de bases para drones (aviões não-tripulados) na Etiópia, no Níger e no Djibuti.
Os estrategas de Obama estão conscientes de que o empenho presidencial por África é menor do que o dos seus antecessores. Bill Clinton conseguiu um acordo comercial que permite aos países subsaarianos exportar sem pagara impostos para os Estados Unidos. George W. Bush implementou um programa de combate à SIDA, no valor de15 mil milhões de dólares (cerca de 11,5 mil milhões de euros).
Issa Mansaray, jornalista da publicação do Africa Institute for International Reporting “The AfricaPaper”, diz que “não se viram quaisquer mudanças na política americana para África” desde a tomada de posse de Obama: “Ele não mostra grande interesse no desenvolvimento do continente seja na área da democratização ou da política de segurança”.
O percurso de Obama pode alimentar novas desilusões. O país mais populoso do continente, a Nigéria, ficou de fora. O país natal do pai de Obama, o Quénia, também. Contudo, observadores esperam que esta visita, em particular a deslocação ao Soweto, township em Joanesburgo, África do Sul, seja simbólica. Mas na África do Sul os olhos não estão voltados para Obama, mas sim para Mandela.