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Entre tensão e otimismo, Sul do Sudão anseia pela independência

8 de julho de 2011

Especialista Hans-Peter Hecking fala à DW a partir do Sul do Sudão, onde a independência será declarada neste sábado, 9/7. Petróleo gera otimismo entre a população, mas criação de país “de raiz” inspira cautela.

Dançarinos tradicionais preparam cerimônia da independência em Juba, futura capital do Sul do Sudão
Dançarinos tradicionais preparam cerimônia da independência em Juba, futura capital do Sul do SudãoFoto: picture alliance/dpa

A atmosfera naquele que, neste sábado (9/7), será o mais novo país do mundo, é ao mesmo tempo de tensão e de otimismo. É assim que Hans-Peter Hecking, especialista em assuntos sudaneses da organização católica alemã Missio, descreve o ambiente no Sul do Sudão, cuja independência foi decidida em referendo popular em janeiro deste ano.

“A situação está tensa porque o conflito nas regiões fronteiriças entre o Norte e o Sul do Sudão ainda não foi resolvido. É possível perceber esse tipo de crise aqui no Sul”, diz Hecking, que visitou a cidade de Wao, onde há seis semanas não há eletricidade. “Reduziram o abastecimento, não chegam mais produtos do Norte. Mas, no geral, a atmosfera está animada, otimista. Muitas pessoas estão felizes porque, após um longo período de guerra civil e depois do período de transição, chegou a hora de passar à independência”, explica.

Temores de um “Estado falhado” não se verificam no Sul do Sudão

Segundo Hecking, os temores dos países do exterior de que o Sul do Sudão poderia se tornar um “Estado falhado” por causa da falta de estruturas administrativas, de governação e de infraestruturas não correspondem às opiniões no mais novo país do mundo.

O especialista alemão Hans-Peter Hecking, da organização católica Missio, que está no Sul do SudãoFoto: Missio

“As pessoas estão muito otimistas e esperam que o petróleo que existe no Sul do Sudão [os oleodutos ficam no Norte] faça o país avançar. Nesse sentido e em comparação com outros países, o Sul do Sudão está bem melhor ‘equipado’”, avalia o especialista alemão. “A questão é em que medida os lucros do petróleo vão beneficiar a população”, acrescenta.

Para Hecking, é preciso ser realista em relação à questão do Sul do Sudão como um país que talvez já nasça como um fracasso. “Não se trata de reconstruir algo depois de uma guerra”, explica Hecking. “Trata-se de construir um novo país, inclusive com todas as estruturas de administração do Estado. A guerra destruiu todas as infraestruturas que existiam”, descreve. Por outro lado, diz o especialista alemão, “é preciso manter o otimismo porque o sistema de repressão do Norte não tinha razão de ser. Será preciso ver como o ex-movimento rebelde SPLM vai atuar. O perigo é o Sudão se tornar um país de partido único”.

Refugiados do Sul que voltaram do Norte lutam para sobreviver

Um dia antes da proclamação da indpendência do Sul do Sudão, muitos dos refugiados da guerra civil do Sudão que retornaram ao Sul do ainda maior país africano lutam pela sobrevivência. É que já se acabaram os alimentos que o Programa Alimentar Mundial, PAM, distribuiu após a chegada deles.

Em dezembro de 2010, sul-sudaneses já festejavam independência, que foi decidida em referendo (jan./2011)Foto: DW

No campo Mangar Akot de refugiados sul-sudaneses que tinham fugido para o norte durante as décadas de guerra civil do Sudão e que custaram a vida a cerca de 2 milhões de sul-sudaneses, Garang Bulo chefia oitocentas famílias.

Ele está preocupado especialmente com uma família, que vê como exemplo da situação precária no campo: “Temos medo que a mãe e as crianças morram de fome. Durante muitos dias seguidos, eles não têm nada para comer. Muita gente aqui está sofrendo, muitos deles estão decepcionados. Têm a impressão de que ninguém lhes liga. E eu não posso dizer nada, a não ser: tenham paciência”, conforma-se Bulo.

A mãe da família que o preocupa está muito doente. Quer voltar ao norte, mas o marido quer ficar, e ela está muito fraca para viajar e não sabe como fazê-lo.

Mas muitos dos habitantes do campo de refugiados não têm mais nenhuma paciência. E muito menos reservas. Estes sudaneses do sul chegaram do norte, da capital Cartum, em janeiro deste ano.

Agora no Sul, o governo local deu a esses refugiados que voltaram terras virgens, que eles precisaram desmatar para cultivar. Os refugiados construíram abrigos de madeira e de colchões de palha. Muitos dos abrigos não são à prova d’água. O Programa Alimentar Mundial, PAM, deu alimentos para três meses – as reservas acabaram em abril.

Isto levou cerca de 40% dos refugiados que voltaram do norte a sofrerem as consequências da má nutrição – foi o que calculou a organização de auxílio Concern, onde trabalha Charlotte Kakebeeke: “O governo deu terras a eles, eles plantaram as sementes, mas a colheita será apenas em setembro. Provavelmente, haverá mais pessoas subnutridas nos próximos meses – especialmente entre as crianças“, descreve.

Autora: Renate Krieger / Daniel Pelz / Bettina Rühl (Cairo)
Edição: António Rocha

Bandeira agitada durante o referendo, parte central do acordo de paz de 2005, que acabou com décadas de guerra civil entre o Norte (muçulmano) e o Sul (cristão)Foto: picture alliance/dpa
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