António Venâncio insiste em candidatura a presidente do MPLA
José Adalberto (Huambo)
29 de outubro de 2021
António Venâncio confirma à DW África dificuldades em recolher assinaturas para uma candidatura à presidência do partido governamental de Angola, a uma semana do prazo de entrega.
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António Venâncio quer concorrer contra o Presidente de Angola, João Lourenço, à liderança do partido governamental Movimento pela Libertação de Angola (MPLA). O político disse à DW África que não desiste da candidatura à presidência do MPLA, apesar do processo de recolha de assinaturas estar a ser mais lento do que previa.
O engenheiro, que milita no partido há 48 anos, garante que tudo fará para que João Lourenço não concorra sozinho à sua sucessão, em nome da democracia e pluralismo político interno.
"Devo confessar que contávamos que fosse um processo muito mais acelerado. É claro que há fatores que impedem que isso aconteça o mais depressa possível. Alguns fatores são de ordem objetiva e outros de ordem subjetiva", disse Venâncio, sem avançar pormenores.
Défice de democracia interna no MPLA
Analistas consideram que os obstáculos colocados a António Venâncio são manobra de adeptos de João Lourenço no MPLA, que pretendem impedir o avanço de qualquer concorrência, contrariamente aos estatutos do partido. E lamentam a falta de democracia interna no partido.
Venâncio acredita que conseguirá obter todas as assinaturas necessárias até ao final do prazo, daqui a uma semana.
"Estamos confiantes que essa vontade expressa pelos nossos delegados ao VII Congresso Extraordinário do partido no sentido da abertura do partido a múltiplas candidaturas, de modo mais efetivo, vai ser um bem material que o partido vai exercitar neste próximo VIII Congresso", afirmou.
O congresso, durante o qual será escolhido o próximo líder do partido, realiza-se de 9 a 11 de dezembro.
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O importante é "a concorrência de ideias"
Esta semana, Tchizé dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, escreveu na rede social Facebook que apoia a candidatura de Venâncio.
Enquanto o político enfrenta dificuldades para conseguir reunir as duas mil assinaturas necessárias para sua candidatura, João Lourenço, o atual líder do MPLA, conseguiu reunir 21.750 assinaturas em sete dias.
Para António Venâncio, mais do que reunir assinaturas, o importante são as ideias e projetos políticos dos candidatos: "O essencial aqui é o debate interno, é a concorrência do ponto de vista das ideias."
Por exemplo, sobre o combate à corrupção, o grande cavalo de batalha de João Lourenço, António Venâncio diz que é preciso reforçar os poderes das instituições e das bases. Para que esse combate seja efetivo, deve ser feito por todos, a todos os níveis, e não apenas pelo Presidente, reforça o político.
Melhorar a luta contra a corrupção
"Eu creio que devemos deslocar o centro de gravidade de combate à corrupção para as instituições do Estado. São as instituições do Estado, convenientemente municiadas, apetrechadas, com capacidades para levar a cabo um conjunto de ações que visam eliminar toda a prática de corrupção", disse Venâncio à DW África.
António Venâncio ingressou oficialmente no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em março de 1974. Ativista político e coordenador da célula do Movimento e Grupo de Ação do MPLA dos trabalhadores do Porto, Caminhos-de-ferro e Transportes (PCFT) de Luanda, desenvolveu uma intensa atividade política, mobilizando cidadãos angolanos e portugueses no sentido de não abandonarem o país.
Angola: Conheça o Mural da Resistência em Luanda
Uma nova intervenção urbana foi inaugurada em Luanda, com pinturas em homenagem a personalidades importantes da história recente de Angola. Veja o Mural da Resistência, do pintor Zbi de Andrade, nesta galeria de fotos.
Foto: Manuel Luamba/DW
Mural da Resistência
Este é o nome do novo mural localizado nos arredores de Luanda. O espaço pintado pelo artista Zbi de Andrade contém rostos de activistas, políticos e académicos que defendem um país cada vez mais democrático. Uma cerimonia organizada pelo site Observatório de Imprensa homenageou as pessoas retratadas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Manuel Chivonda Nito Alves
Manuel Chivonda Nito Alves é um activista angolano que se notabilizou nos protestos de rua que começaram em 2011. Em 2013, com apenas 17 anos, foi acusado de difamar o ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Foi espancado e detido por várias vezes pela polícia. É um dos activistas detidos em 2015 no caso conhecido como "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Laurinda Gouveia
Laurinda Gouveia é uma activista angolana que também se notabilizou por organizar e participar manifestações de rua, exigindo melhores condições de vida à população. Gouveia é integrante do Odjango Feminista e defende a igualdade de direitos. A sua veia reivindicativa acabou por levá-la à cadeia por inúmeras vezes. Também foi condenada no "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Rosa Conde
Rosa Conde também foi detida e julgada no âmbito do Caso 15+2 - quando 17 ativistas foram acusados de tentativa de golpe de Estado. Com "sangue" de Cabinda, foi um dos rostos que, em 2016, lideraram os protestos contra o assassinato de Rufino António - morto a tiros alegadamente por um militar do PCU durante as demolições no bairro do Zango.
Foto: Manuel Luamba/DW
Filomeno Vieira Lopes
Filomeno Vieira Lopes é um conhecido político e economista angolano. Já foi espancado por várias vezes em manifestações de rua. Atualmente é o presidente do Bloco Democrático, uma formação política derivada da Frente Para Democracia (FPD), associada a intelectuais angolanos. O BD é um dos integrantes da Frente Patriótica Unida, aliança de oposição que visa à alternância de poder em 2022.
Foto: Manuel Luamba/DW
William Tonet
William Tonet é um jornalista e jurista angolano. Um dos pioneiros do surgimento da imprensa privada em Angola. Com a institucionalização do multipartidarismo, Tonet surgiu com o bissemanário Folha 8, um jornal critico ao regime. "Chefe indígena", como é chamado, Tonet deve ser o jornalista angolano em atividade com mais processos judiciais.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Nascimento
Luís Nascimento é um jurista e advogado angolano. Foi um dos cidadãos que exigiram a destituição de Isabel dos Santos da chefia da petrolífera estatal Sonangol em 2016. Foi o advogado da família de Rufino António, adolescente morto alegadamente pelas forças de segurança nas demolições no Zango. Nascimento foi um dos candidatos derrotados na última convenção do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Nelson Pestana "Bona Vena"
Nelson Pestana "Bona Vena" é um académico e político angolano. Conhecido por ser um "homem das letras", Bona Vena é ligado ao Centro de Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola e ao Centro de Estudos Africanos. É político do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Fernando Macedo
Fernando Macedo é um ativista e professor universitário angolano. Reconhecido por muitos pela integridade, Macedo é um dos fundadores da Associação Justiça Paz e Democracia. O ativista é profundamente critico ao antigo e ao actual regime angolano. Em 2018, Macedo foi um dos organizadores de um protesto contra a amnistia de cidadãos que desviaram fundos públicos para o estrangeiro.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Araújo
Luís Araújo fundador e coordenador da SOS Habitat, uma ONG que defende e promove o direito à habitação em Angola. Em 2016, o ativista angolano teve projeção ao defender que a remoção do que chamou de "ditadura angolana" é uma necessidade. Em 2005, Araújo e mais dez pessoas foram julgados pelo Tribunal Provincial de Luanda, acusados de incitamento à violência. Vive há anos na Europa.