Said Djinnit fez apelo durante cimeira dos Grandes Lagos (26.10). O Presidente de Angola defendeu forças conjuntas contra terrorismo.
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A 7ª Reunião de Alto Nível Sobre Acordo Quadro da Região dos Grandes Lagos procurou a adoção de políticas para manutenção de paz e segurança no Burundi, República Democrática do Congo (RDC), República Centro Africana (RCA) e Sudão do Sul.
O conflito político-militar na RDC, no entanto, constitui a principal preocupação das organizações regional, continental e mundial; apesar do recente acordo (18.10) entre a oposição, sociedade civil e o Governo de Joseph Kabila, que pretendia candidatar-se a um terceiro mandato, proibido pela Constituição.
Durante a cimeira, Said Djinnit, o enviado especial do Secretário-geral da Organização das Nações Unidas para o encontro na região dos Grandes Lagos, em Luanda, apelou à paz para República Democrática do Congo:
"Exortamos o Governo e as partes a continuar a trabalhar e aqueles que negaram o recente acordo no sentido de aplicarem medidas de segurança. Apelamos também aos políticos que não fizeram parte do diálogo político para desempenharem um papel construtivo para que se possa realizar eleições”.
Acordo para eleições gerais
Após o acordo, as eleições gerais foram agendadas para 29 de abril de 2018. Em discurso durante a cerimónia de abertura da cimeira de Luanda, o Presidente em exercício da Conferéncia Internacional da Região dos Grandes Lagos e Presidente angolano José Eduardo dos Santos, apelou calma às vozes discordantes na RDC.
"Para aqueles que querem chegar ao poder é importante que saibam que o podem fazer democraticamente respeitando a lei e a vontade soberana dos eleitores e que valerá apenas esperar mais alguns meses para o fazerem em condições de segurança e tranquilidade do que enveredarem por caminhos incertos de violência”.
No entanto, para o Presidente de Angola, que liderou o encontro, procurar tribunais internacionais não deverá resolver os problemas políticos do continente africano.
Com o escalar da violência na capital Kinshasa, a embaixada angolana na RDC foi evacuada para Congo Brazaville. Cogita-se ainda a presença de tropas das Forças Armadas Angolanas (FAA) no país em conflito sem o consentimento da Assembleia Nacional; uma informação, no entanto, já desmentida pela diplomacia angolana.
Onda de violência
O Presidente José Eduardo dos Santos receia que a onda de violência no Congo Democrático potencialize o recrutamento de grupos radicais na região e apela, por isso, à conjugação de forças. "Na República Democrática do Congo, o Governo, a oposição e a sociedade civil não podem perder de vista o facto de que todos devem conjugar esforços na luta contra as forças negativas e ameaça de expansão ao terrorismo”.
26.10.2016 Conf. Grandes Lagos em Luanda - MP3-Mono
O diálogo pode ter um papel importante na pacificação da região, considera Eduardo dos Santos. "O acordo recentemente conseguido na RDC, prova uma vez mais que o diálogo continua a ser a única via válida para dirimir contradições e superar as crises e conflitos por forma garantir-se a paz e a estabilidade do ponto de vista político e social no respeito pelas leis vigentes”.
Além da RDC também se registam conflitos no Burundi, RCA e Sudão do Sul. A reunião em Luanda foi coorganizada pelas Nações Unidas e a União Africana com objetivo de analisar a situação na RDC e outros países da região dos Grandes Lagos. Em anos anteriores, as reuniões foram realizadas em Adis Abeba e Nova Iorque.
Kivu do Norte: província controlada por milícias
Cerca de 40 milícias estão ativas no Kivu do Norte e do Sul. Aproximadamente duas milhões de pessoas já foram deslocadas e muitas aldeias destruídas na RDC. O projeto online "Local Voices" dá voz às vítimas do conflito.
Foto: Alexis Bouvy
Histórias de terror cotidiano: as milícias da RDC
Cerca de 40 milícias estão ativas nas duas províncias Kivu do Norte e Kivu do Sul no leste da República Democrática do Congo (RDC). Aproximadamente duas milhões de pessoas já foram deslocadas e muitas aldeias destruídas. O projeto online "Local Voices" dá voz às vítimas do conflito. O projeto pode ser conhecido no www.localvoicesproject.com.
Foto: Alexis Bouvy
Em nome de Deus
O auto-denominado General Janvier tem uma longa história de violência e crimes. "É a vontade de Deus", diz Janvier segurando uma Bíblia. Ele comanda uma milícia denominada Aliança de Patriotas por um Congo Livre e Soberano (APCLS). Há oito anos, ele construiu o seu quartel-general próximo a vila de Lukweti, uma colina que é desde então conhecida como Monte Sinai.
Foto: Alexis Bouvy
Buscando um sentido para a vida
O general ordenou um ataque e "Fidel Castro", como o integrante da milícia chama a si mesmo, prepara-se para lutar contra um inimigo, sob o comando de Ntabu Cheka. Para ele, isto é trabalho. A pobreza faz parte de Lukweti. A maioria dos jovens não sabe ler nem escrever. Alguns dizem: "a milícia dá sentido à minha vida".
Foto: Alexis Bouvy
Saíram para matar
Os combatentes avançam em direção a localidade de Pinga através da ponte da vila. Lá, eles vão matar os homens de Ntabu Cheka e talvez alguns civis. Eles não gostam de falar sobre estas coisas. A cidade de Pinga tem sido palco de vários combates entre as milícias ao longo dos anos. Muitos morreram e milhares fugiram.
Foto: Alexis Bouvy
Amizade com milicianos
Tanto civis como membros de milícias gostam de jogar futebol. Apesar da disparidade entre eles - uns levam armas enquanto outros são desarmados - as amizades se desenvolvem entre os habitantes da vila Lukweti e os rebeldes do APCLS. Alguns pertencem às mesmas famílias.
Foto: Alexis Bouvy
Solidariedade ou pragmatismo?
O conselho da aldeia, conhecido como "O Barza" toma todas as decisões importantes em Lukweti. Falando sobre a co-existencia entre a comunidade e a milícia APCLS, Mzee Massomo, só tem elogios. "Eles nos protegem de outras milícias que nos maltratariam. Nós lhes damos comida", diz. O APCLS, segundo Massomo, é mais disciplinado do que o exército oficial da República Democrática do Congo.
Foto: Alexis Bouvy
Ser uma mulher na milícia
Kahindo, de 22 anos, descansa em uma cabana ao lado da farinha de mandioca. O trabalho de Kahindo, a exemplo da tarefa de várias outras mulheres no APCLS, é coletar comida. Ela participa da colheita feita pelos agricultores, que já são bastante pobres. Muitos aceitam essa situação.
Foto: Alexis Bouvy
O dilema das mulheres
"Eu não quero me casar com um miliciano", diz a moradora de Lukweti, Neema Riziki, de 16 anos. "Muitas mulheres gostariam de se casar com um combatente porque eles supostamente tratam bem suas mulheres. Mas algumas das minhas amigas ficaram viúvas poucos dias após o casamento. Algumas delas tem que vender seus corpos para sobreviver."
Foto: Alexis Bouvy
Drogas para os combatentes
Mama Soleil (no centro) cultiva cannabis em frente às ruínas de uma fábrica do período colonial, na aldeia vizinha de Nyabiondo. Ela é uma mulher popular. Os seus clientes são milicianos e soldados. Atrás do muro, as tropas de paz da ONU instalaram o seu acampamento.
Foto: Alexis Bouvy
Não há desenvolvimento sem estradas
Este agricultor passa dificuldades nas vias da região. Leva mais de quatro horas para fazer o trajeto de Lukweti à cidade vizinha de Nyabiondo, onde quer vender seu liquor de banana no mercado. A maioria das pessoas em Lukweti vive da produção de banana.
Foto: Alexis Bouvy
A cooperação entre a polícia e as milícias
Na cabana, um líder de milícia tem um encontro com o chefe da Polícia de Nyabiondo. Uma pessoa de fora da localidade dificilmente saberia dizer quem é o miliciano e quem é o policial.
Foto: Alexis Bouvy
Com a ajuda de Deus
O pastor protestante de Lukweti reza fervorosamente com a congregação nos cultos de domingo. Devido à constante insegurança e ao medo do terror cotidiano, a comunidade encontra consolo e esperança na sua fé.
Foto: Alexis Bouvy
A esperança de paz
Os jovens que estão a dançar são da Aliança pela Paz. Eles cantam "acabem com a violencia!" Trata-se de uma atitude bastante corajosa porque as milícias estão a promover o ódio entre as etnias e jovens frequentemente têm se voltado uns contra os outros. Os jovens cantando pertencem a diferentes grupos e são prova que a coexistência pacífica é possível no leste da República Democrática do Congo.