Enviado da ONU vai a Malabo após tentativa de golpe
AFP | Lusa | ms
5 de janeiro de 2018
O enviado da ONU para a África Ocidental deve viajar para Malabo na próxima semana, depois de as autoridades terem anunciado uma tentativa de golpe de Estado, negada pela oposição. Facebook e WhatsApp foram bloqueados.
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"Condenamos todas as tentativas de tomar o poder inconstitucionalmente" no país, disse quinta-feira (04.01) um porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) citado pela agência de notícias AFP. Revelou ainda que o enviado da ONU para a África Ocidental, François Louceny Fall, deverá partir para Malabo para conversações na próxima semana.
Na quarta-feira (03.01), o Exército da Guiné Equatorial anunciou ter abatido um "mercenário", na sequência de conflitos com um grupo de soldados a soldo, numa floresta junto às fronteiras com os Camarões e o Gabão.
O Governo da Guiné Equatorial acusou a "oposição radical no interior e no exterior do país" do alegado golpe de Estado frustrado na semana passada, que também gozou do "beneplácito de algumas potências".
O ministro de Estado da Segurança Nacional, Nicolás Obama Nchama, afirma, num comunicado publicado na página oficial do Executivo equato-guineense, que um grupo de mercenários do Chade, Sudão e República Centro-Africana entraram, no dia 24 de dezembro, nas localidades de Kie Osi, Ebebiyin, Mongomo, Bata e Malabo "para atacar", no Palácio de Cohete, Teodoro Obiang Nguema, de 75 anos, o Presidente há mais tempo no poder em África, desde 1979.
As autoridades dizem que o golpe supostamente foi encabeçada por um general - de origem chadiana - e orquestrado pelo líder do Cidadãos para a Inovação (CI), Gabriel Obono, mas este dirigente partidário negou estas acusações, referindo tratar-se de "uma completa montagem".
Acusações contra grupos políticos e oposição
"Os mercenários foram contratados por alguns equato-guineenses militantes de certos grupos políticos da oposição radical, tanto do interior como do exterior do país e com o beneplácito de algumas potências", lê-se na nota, que não especifica a que partidos ou países se refere.
O Governo equato-guineense afirma que, graças à cooperação com os Camarões, as forças equato-guineenses impediram essa operação, que resultou na "detenção de vários mercenários e a apreensão de uma grande quantidade de material bélico", segundo o comunicado. O Ministério da Segurança Nacional alerta que "alguns destes mercenários estão ainda infiltrados no território nacional".
O grupo de 17 alegados mercenários foi apresentado esta terça-feira (02.01) pelas autoridades de Malabo. Entre os detidos encontra-se pessoal dos hotéis onde os supostos "mercenários" se alojaram.
Na quarta-feira (03.01), a AFP noticiou que também o embaixador da Guiné Equatorial no Chade, Enrique Nsue Anguesom, foi preso em 30 de dezembro.
O Facebook, Whatsapp e VPNs na Guiné Equatorial foram bloqueados. "Há uma verdadeira falta de transparência sobre o que realmente está a acontecer", disse um diplomata na região citado pela AFP.
Chade: "Ameaça séria que África central"
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade, Mahamat Zene Cherif, considerou que a alegada tentativa de golpe de Estado na Guiné Equatorial "é uma ameaça séria que afeta toda a África central".
A declaração foi transmitida pela TVGE, televisão estatal da Guiné Equatorial, após uma audiência com Teodoro Obiang Nguema, que ocorreu quarta-feira (03.01).
O governante chadiano defendeu que "todos os países da sub-região devem unir esforços para realizar investigações para não só entender o que aconteceu aqui, mas também para chegar à origem desta tentativa de desestabilização". O ministro anunciou que viajaria, de seguida, para os Camarões, para contactar as autoridades locais sobre este caso.
O Presidente do Chade, Idriss Déby Itno, exerce atualmente a presidência da Comunidade Económica e Monetária da África Central (CEMAC), constituída pelo Chade, Camarões, República Centro-Africana, Guiné Equatorial, Gabão e República do Congo.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.