Em Angola, há quem opte por distanciar os ilícitos entre a Privinvest e empresas moçambicanas dos negócios que Luanda manteve com a entidade. Mas há também quem prefira dar o benefício da dúvida ao Presidente angolano.
Mas o jurista Albano Pedro prefere partir de um pressuposto para dar o benefício da dúvida ao Presidente angolano, grande mentor dessa causa.
"Quando o Presidente João Lourenço decide combater a corrupção e acha que todos aqueles que alguma vez delapidaram o erário público devem ser responsabilizados, eu parto do princípio que ele, ao lançar esse repto, é um indivíduo que está imaculado, que está sem réstia de problemas ligados a escândalos”, diz.
Fatos insuficientes
Para além da Privinvest, Jean Boustani terá participado como intermediário nos negócios entre as autoridades angolanas e Privinvest. Boustani está a prestar contas à justiça norte-americana acusado de crimes financeiros relacionados às dívidas ocultas moçambicanas. O mediador da Privinvest inclusive prometeu cooperar em troca de uma delação premiada.
Para o analista angolano Agostinho Sikatu, os factos apresentados pelo EXX Africa não são suficientes para prejudicar a imagem de João Lourenço ou de Angola.
Envolvimento com empresas suspeitas põe em causa a luta contra a corrupção?
"Apesar de ser suspeita, acredita-se que é uma empresa real. Se houvesse alguma coisa oculta no âmbito dessa investigação já se deveria ter descoberto. Creio que o facto dessa empresa ter assinado um acordo com o Governo angolano não é absolutamente nada [de anormal]. Assim deve ter acordos com diferentes entidades, se calhar de outros países e até empresas", afirma.
Violação da lei?
O EXX Africa reporta ainda que a Consultores e Prestação de Serviços, JALC, empresa que pertencia a João Lourenço, terá estado envolvida nos negócios da Privinvest com o Governo de Angola. Isso parece representar uma violação da Lei da Probidade Pública que vigora no país desde meados de 2010.
Segundo o artigo 28 da referida lei, "o agente público está impedido de intervir na preparação, na decisão e na execução dos atos e contratos [...] quando exerça atividades privadas, incluindo de caráter profissional ou associativo, que se relacionem diretamente com o órgão ou entidade ao qual prestem serviço”.
Agostinho Sikatu, entretanto, lembra que esse tipo de violação era algo comum na altura.
"Se não prestou serviços no domínio militar, de equipamentos, etc, seguramente não esteve a concorrer com o próprio Ministério", afirma.
Para o analista, João Lourenço e a luta contra a corrupção só ficarão afetados "caso se venha a confirmar [algum ilícito]. Mas de qualquer modo também prejudica, porque caso se confirme [algum ilícito no caso angolano, João Lourenço] não terá moral para poder avançar com o processo [de combate à corrupção]".
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
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Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".