Envolvimento de sul-africanos no conflito em Cabo Delgado
Milton Maluleque
30 de março de 2021
Há sul-africanos envolvidos na guerra em Cabo Delgado. Uns são mercenários recrutados pelas autoridades moçambicanas, outros pertencem às fileiras do Estado Islâmico, que recentemente atacou a vila de Palma, no norte.
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Segundo a cadeia de rádios e televisões públicas da África do Sul (SABC), acredita-se que pelo menos 12 cidadãos sul-africanos façam parte do grupo armado alegadamente integrante do Estado Islâmico que atacou a vila de Palma.
A notícia levantou preocupações entre os especialistas em segurança sul-africanos. Muitos apelam à Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para intervir e combater a possibilidade de quaisquer ataques terroristas na África do Sul.
Para Muhamad Yassine, académico e membro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, esta não é a primeira vez que se fala do envolvimento de sul-africanos na insurgência, tendo destacado os gémeos que teriam sido vistos no ataque a Mocímboa da Praia em 2020. Isso o leva a acreditar na existência de uma rede de recrutamento na região.
A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado
02:28
"É preciso recordar que Cabo Delgado é onde há rubis, outras pedras preciosas, madeira e outro tipo de tráfico, incluindo as drogas pesadas como o ópio, heroína e a cocaína. Então, qualquer um que esteja envolvido em um desses possíveis crimes terá a sua presença em Cabo Delgado, independentemente se a coação para a sua integração tem a ver com a causa da insurgência ou na defesa do seu interesse.", argumenta Yassine.
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Destacamento de forças especiais?
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, reuniu-se ao longo do fim de semana com altos responsáveis da Defesa devido ao ataque no norte de Moçambique, que resultou na morte de pelo menos um sul-africano e vários outros sul-africanos desaparecidos.
A Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês) está a considerar o destacamento de forças especiais para ajudar a conter a situação de guerra no norte do país vizinho, referiu por seu lado uma fonte da segurança ao portal sul-africano News24.
"Eu penso que seria forçar uma teoria tentando associar esses 12 [insurgentes] com a necessidade de um Estado como a África do Sul poder entrar para conflito", considera Muhamad Yassine. "Eu penso que Moçambique está sendo cauteloso na medida em que a presença de uma força conjunta da SADC significa o reconhecimento por parte do Estado em reconhecer a sua incapacidade em lidar com a situação."
A companhia de mercenários sul-africanos DAG, recrutada pelo Governo de Maputo, diz ter sido surpreendida com os últimos ataques, segundo o seu diretor Lionel Dyck, e agora encontra-se a transportar vítimas do ataque a cidade de Pemba.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.