Febre-amarela em Angola matou mais de 370 pessoas num ano
Lusa | ar
3 de dezembro de 2016
Um ano depois do início da epidemia em Luanda, que acabaria por alastra a todo o país provocando, oficialmente, mais de 370 mortos, Angola ainda não pode dar como terminado o surto da febre-amarela.
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O primeiro caso desta epidemia foi conhecido a 05 de dezembro de 2015 e o último, confirmado laboratorialmente, remonta ao final de junho passado, como recordou, em entrevista à agência de notícias Lusa, o representante da OMS em Luanda, Hernando Agudelo.
"Um ano depois, o balanço é positivo, no entanto não podemos ainda declarar que Angola esteja totalmente livre da epidemia, uma vez que ainda decorre o período de implementação da resposta ", explicou o responsável.
Os primeiros casos foram registados em indivíduos com idades entre os 22 e 34 anos, de nacionalidade eritreia, residentes então há aproximadamente oito meses no município de Viana, arredores de Luanda, e que entraram no país supostamente com boletins de vacina falsos (Angola exige vacinação contra febre-amarela).
Todas as províncias foram afetadas
Desde o início da epidemia em Angola já foram reportados casos em todas as 18 províncias do país e casos de transmissão local da febre-amarela em 12 províncias, naquele que foi o pior surto da doença no país em 30 anos.
Desde dezembro de 2015, esclareceu o Hernando Agudelo, foram registados em todo o país 4.387 casos suspeitos e confirmados pelo laboratório apenas 884, havendo ainda 373 óbitos.
Neste momento, observou o representante da OMS, a situação em Angola está controlada, sem novos casos confirmados, pelo que está "cada vez mais próximo" de dar por concluída a epidemia. "Não podemos dizer que já não há casos suspeitos, continuam a ser reportados em todo o país", apontou.
Chegaram ao país três milhões de doses de vacina
Após várias operações de vacinação em massa da população, Agudelo anunciou que está em preparação uma nova fase, com a chegada ao país, nos primeiros dias de dezembro, de três milhões de doses de vacina. "Tão logo cheguem as vacinas, dar-se-á ao arranque de mais uma campanha", garantiu.
Apesar do cenário atual, a OMS defende que as entidades angolanas devem permanecer em alerta, face à presente época chuvosa em Angola - que propicia a multiplicação do mosquito transmissor da doença - e de forma a prevenir o surgimento de novos casos da doença, fundamentalmente no seio das populações que ainda não foram imunizadas."Como ainda decorre o período de implementação da resposta é preciso que se redobre a vigilância nessa época da chuva e que se continuem as campanhas de rotina", enfatizou o representante da OMS.
A transmissão da doença é feita pela picada do mosquito (infetado) "aedes aegypti", que, segundo a OMS, no início desta epidemia estava presente em algumas zonas de Viana, Luanda, em 100% das casas.
Na primeira fase da campanha de vacinação mais de 18 milhões de pessoas em Angola foram imunizadas contra a doença, mas a OMS chegou a admitir que o combate à epidemia que teve início em Luanda - e que alastrou para a vizinha República Democrática do Congo - levou à rutura dos ‘stocks' internacionais da vacina.Esta nova fase da vacinação deverá chegar a cerca de três milhões de pessoas em todo país, alcançando a faixa dos 21 milhões, restando 3,5 milhões de pessoas para a cobertura total do país.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.