Equipa multicultural foi chave da vitória no Euro 2016
Nuno de Noronha12 de julho de 2016
Entre os 23 convocados para a seleção portuguesa no Europeu, estavam 12 futebolistas de origem estrangeira. Ana Santos, professora de Sociologia do Desporto, diz que a multiculturalidade foi um dos segredos do triunfo.
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Triunfo de Portugal com uma equipa multicultural
Cerca de metade dos jogadores da seleção portuguesa nasceu no estrangeiro ou tem raízes fora de Portugal. Saiba de onde são os futebolistas que fizeram história a conquistar o primeiro grande título para Portugal.
Foto: Reuters/K. Pfaffenbach
Éder
O jogador que marcou o decisivo 1:0, aos 108 minutos, na final do Europeu de futebol de 2016 contra França nasceu em 1987 em Bissau, na Guiné-Bissau. Éderzito, mais conhecido como Éder, joga atualmente como avançado no Lille. A sua convocatória para a seleção principal de futebol não foi bem vista por todos, mas revelou-se decisiva para a obtenção do título.
Foto: Getty Images/AFP/F. Fife
Danilo
Danilo Luís Hélio Pereira ou simplesmente Danilo também nasceu em Bissau. Atua sobretudo no meio-campo e joga atualmente no Futebol Clube do Porto. Começou a carreira profissional em 2010 no Parma, tendo sido emprestado ao Aris e ao Roda nas épocas seguintes. Em 2013, passou pelo Club Sport Marítimo. Só em 2015 ingressa no Futebol Clube do Porto.
Foto: Getty Images/D. Mullan
Nani
Nani, ou Luís Carlos Almeida da Cunha, nasceu na cidade da Praia, Cabo Verde, em 1986. Profissionalizou-se pelo Sporting Clube de Portugal em 2005, mas dois anos depois rumou ao Reino Unido onde jogou pelo Manchester United até 2014, ano em que foi emprestado ao Sporting. Em 2015/2016 Nani jogou pelo Fenerbahçe e durante o Euro 2016 o Valência anunciou contrato com o jogador por três épocas.
Foto: Reuters/C. Recine
Eliseu
Outro jogador português de ascendência cabo-verdiana é Eliseu. Nasceu em Angra do Heroísmo, na Ilha da Terceira dos Açores. Eliseu Pereira dos Santos começou a sua carreira profissional no Belenenses, o terceiro clube de Lisboa. Depois de uma passagem pelo Málaga de Espanha, o defesa joga desde 2014 no Sport Lisboa e Benfica.
Foto: Reuters/J. Cairnduff
William Carvalho
Nasceu em Luanda, Angola, em 1992. Atua como defesa e joga atualmente pelo Sporting Clube de Portugal. Mudou-se para Portugal ainda durante a adolescência e jogou pelo Recreios Desportivos de Algueirão e União Sport Clube Mira Sintra. Tornou-se profissional no Sporting em 2011 e em 2012/2013 esteve emprestado ao clube belga Cercle Brugge. Na foto com Antoine Griezmann de França (à direita).
Foto: Reuters/J. Sibley
Cédric Soares
Cédric Ricardo Alves Soares. Luso-alemão, nasceu em Singen (Hohentwiel), no sul da Alemanha, no estado de Baden-Württemberg. Atualmente joga pelo Southampton, mas profissionalizou-se pelo Sporting em 2010, na altura com 18 anos. Estreou-se pela seleção principal de futebol portuguesa em outubro de 2014, num amigável contra a França.
Foto: Reuters/K. Pfaffenbach
Raphaël Guerreiro
Nasceu em Le Blanc-Mesnil, Seine-Saint-Denis, França. Raphaël Adelino José Guerreiro atua como lateral esquerdo. Defende atualmente o Borussia Dortmund, depois de ter passado pelo Caen (2012/2013) e pelo Lorient (2013-2016). Passou a integrar a seleção principal de futebol em novembro de 2014, convocado pelo selecionador Fernando Santos.
Foto: picture-alliance/dpa/Cj Gunther
Adrien Silva
Adrien Sébastian Perruchet Silva nasceu em 1989 em Angoulême, França. Atualmente é o capitão do Sporting de Lisboa, clube no qual se tornou jogador profissional em 2007. Esteve emprestado meia época em 2010 ao Maccabi Haifa e um ano ao Académica de Coimbra (2011/2012). Fez a sua estreia pela seleção A de Portugal em 2014.
Foto: Getty Images/D. Mullan
Anthony Lopes
O guarda-redes suplente, Anthony Lopes, nasceu em Givors, França. Na foto, festeja o título de campeão europeu de futebol carregando Raphaël Guerreiro, outro dos três jogadores da seleção portuguesa que nasceram em França. Defende atualmente o Lyon, clube da sua juventude e onde se profissionalizou em 2011. Estreou-se pela seleção A de Portugal em março de 2015 num amigável frente a Cabo Verde.
Foto: Getty Images/AFP/P. Lopez
Pepe
O defesa nasceu em Maceió, Brasil, e joga atualmente pelo Real Madrid, clube que conquistou em 2015/2016 o maior título europeu de clubes, a Liga dos Campeões. Na foto com Rui Patrício, guarda-redes de Portugal. Com 18 anos, Képler Laveran Lima Ferreira (Pepe) deixou o Brasil em busca de melhores oportunidades em Portugal. Passou pelo Marítimo B, Marítimo, FC Porto até chegar ao clube espanhol.
Foto: Getty Images/L. Baron
Bruno Alves
Bruno Alves tem o número 2 na camisola da seleção portuguesa e é descendente de uma família de brasileiros. A foto (com o jogador galês Hal Robson-Kanu) foi tirada na meia-final do Euro 2016, em que Portugal ganhou 2:0 contra o País de Gales. Defesa central, joga atualmente pelo Cagliari. Na sua carreira desportiva constam clubes como o FC Porto, AEK Atenas, Zenit São Petersburgo e Fenerbahçe.
Foto: Getty Images/AFP/F. Leong
Renato Sanches
Renato Sanches foi aos 18 anos o jogador mais jovem de sempre numa final de um Europeu de futebol. Oriundo de uma família com ligações a Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, nasceu na Amadora, Portugal. Jogou pelo Benfica e foi contratado pelo campeão alemão, Bayern Munique, para 2016/17. Sanches foi elogiado pela sua grande maturidade.
Foto: picture-alliance/augenklick/firo Sportphoto
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Portugal sagrou-se no domingo (10.07) campeão da Europa de futebol pela primeira vez na história do país ao bater a anfitriã França por 1-0. Os desportistas regressaram esta segunda-feira (11.07) a Portugal, onde foram recebidos como heróis nacionais.
Ana Maria Santos, professora de Sociologia do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, salienta que a seleção, composta por portugueses de vários extratos sociais e origens culturais, mostrou que o trabalho em equipa é a fórmula da eficácia.
"Todos aqueles miúdos que ali estão trabalharam e sofreram muito. O desporto é um fenómeno bom que permite essa heroicidade a todos", considera Ana Maria Santos.
"O Ronaldo, o Renato, o Quaresma, o Éder que marcou o golo, o Pepe… São todos jovens que, para chegarem onde chegaram, tiverem de lutar por si. Não estiveram à espera que a família lhes oferecesse o lugar que eles arduamente conquistaram. Nessa medida eles funcionam como um elemento-cola numa sociedade que precisa disso", diz a investigadora.
Origens multiculturais
Durante a competição muito se murmurou sobre a origem de vários jogadores. Pepe nasceu no Brasil, Cédric Soares na Alemanha, Adrien, Raphaël Guerreiro e Anthony Lopes em França, Éder e Danilo na Guiné-bissau, Nani em Cabo Verde, William Carvalho em Angola.
Renato Sanches nasceu em Portugal, mas a família é de origem cabo-verdiana e são-tomense.
"Esta equipa é um todo e, sem estes miúdos oriundos de várias nações e extratos sociais, não tínhamos conseguido esta vitória. O desporto dá visibilidade a essas questões e tensões que existem na sociedade, mas por outro lado é também exemplar no modo como nos mostra como elas se resolvem", defende a professora universitária.
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Eusébio fez história há 50 anos
A investigadora recorda a seleção portuguesa de futebol no Mundial de 1966, em que Eusébio foi a estrela-maior . "A equipa de 66 funcionou como um caso exemplar de uma equipa multicontinental e multirracial. Era a única equipa nos anos 60 que tinha negros. Nenhuma equipa europeia tinha, a não ser o Benfica e a seleção portuguesa", relata Ana Maria Santos. "Nessa altura ela funcionou como um caso exemplar para um modelo político que não nos interessava. Mas neste momento estas equipas funcionam como um modelo de equipa que é o futuro."
"O futuro não é bem a nação mas a unidade continente, com várias minorias e grupos sociais que em colaboração lutam por si e por melhores condições de vida."
Ana Maria Santos defende ainda que estas vitórias ao nível desportivo "ajudam a população a ver o quão importante é aceitar a diferença e o mérito conquistado por uma equipa de diferentes origens sociais". "O mundo é isso, aliás", conclui.