Erdogan clama vitória: Turquia "passou teste de democracia"
Lusa | DPA | AFP | AP | ac | gcs
25 de junho de 2018
"A nossa democracia venceu, a vontade do povo venceu, a Turquia venceu", afirmou o Presidente Recep Tayyip Erdogan, após o anúncio da sua vitória nas eleições de domingo. Nem todos concordam.
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O Presidente Recep Tayyip Erdogan clamou vitória pouco depois do fecho das urnas, este domingo à noite (24.06).
"Ainda não temos os resultados definitivos, mas sabe-se que eu, Erdogan, recebi um mandato legislativo e executivo".
A Turquia "passou num novo teste de democracia, dando um exemplo ao mundo inteiro", afirmou Erdogan. "Agradeço a todos os cidadãos, não interessa de que partido, que foram às urnas exercer o seu direito democrático."
A oposição já reconheceu a vitória de Erdogan. No entanto, o opositor Muharrem Ince sublinhou que a "Turquia cortou os seus laços com a democracia e com o sistema parlamentar. Está a transformar-se num regime de um só homem".
Júbilo após maioria absoluta
Com cerca de 98% dos votos contados, o Presidente turco obteve 52,5% dos votos, de acordo com as autoridades eleitorais em Ancara, citadas pela agência de notícias estatal Anadolu. Com a maioria absoluta, não será preciso realizar uma segunda volta das eleições.
Ainda de acordo com a Anadolu, o partido de Erdogan e o seu aliado ultranacionalista, o MHP, mantêm a maioria parlamentar, com cerca de 53,6% dos votos.
O anúncio dos resultados foi recebido com gritos de alegria na sede do partido do Presidente turco, o AKP.
Membros da comunidade turca na Alemanha também celebraram a vitória de Erdogan em várias cidades. Centenas de apoiantes do Presidente turco percorreram de carro as ruas de Berlim, agitando bandeiras da Turquia e gritando "Erdogan é o nosso líder". Quase dois terços da comunidade turca na Alemanha votaram pela reeleição de Erdogan, de acordo com os resultados provisórios.
Mas o deputado alemão dos Verdes Cem Özdemir, com raízes turcas, criticou os apoiantes do Presidente da Turquia na rede social Twitter.
"Sejamos honestos: os apoiantes de Erdogan germano-turcos não celebram apenas o seu autocrata, expressam também a sua rejeição pela nossa democracia liberal. Como a AfD. Temos de pensar nisto", afirmou Özdemir, referindo-se ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão).
Erdogan clama vitória: Turquia "passou teste de democracia"
Mais poderes para Presidente
Estas eleições na Turquia são particularmente importantes porque representam a passagem do sistema parlamentar até agora em vigor no país para um regime presidencialista.
Erdogan diz que a mudança é uma forma de garantir a estabilidade no país, mas a oposição acusa-o de querer concentrar em si todo o poder.
A Turquia é um aliado de vários países africanos. Instituições turcas apoiaram a construção de mesquitas em vários Estados. A companhia aérea Turkish Airlines tem aumentado as suas ligações para países africanos e a presença militar também é notória, nomeadamente na Somália.
*Artigo atualizado às 12:03 CET com reação de opositor Muharrem Ince.
Raízes africanas na Turquia
São descendentes de africanos trazidos pelo Império Otomano como escravos e trabalhadores domésticos. Estima-se que sejam mais de 100 mil. Identificam-se como Afro-Turcos e vivem principalmente no oeste da Turquia.
Foto: Bradley Secker
Raízes turcas
Esat Sezar, à esquerda, está sentado com o amigo na sua aldeia perto de Izmir. Esat, que trabalhou na Turquia na indústria hoteleira, considera-se turco. Ele desenha a sua árvore genealógica, recuando à aldeia onde nasceu. A aldeia de Köyü é uma mistura de afro-turcos e não afro-turcos, onde a sua mãe, de 106 anos de idade, diz lembrar-se da declaração da República da Turquia em 1923.
Foto: Bradley Secker
Parte da comunidade
Sabriye Sınaiç e a sua família são agricultores e trabalhadores na sua aldeia e áreas circunvizinhas. Ela não sabe nada sobre a sua ancestralidade, mas acredita que vieram para a Turquia via Damasco, na Síria. Até à criação da Associação Afro-Turca disse que não sabia que existiam outros como ela. Só depois percebeu que havia muitos espalhados à sua volta.
Foto: Bradley Secker
Ambiente de trabalho
Şakir (no meio) passa o tempo com os seus ex-colegas de trabalho da fábrica perto de Izmir. Agora Şakir é o responsável da Associação Afro-Turca depois da morte do seu fundador, Mustafa Olpak em 2016.
Foto: Bradley Secker
Sacola de misturas
Şükriye İletmış, de 70 anos de idade, está no seu jardim na aldeia de Hasköy, perto de Izmir, na Turquia. Şükriye identifica-se como uma afro-turca e viveu toda a sua vida em Hasköy.
Foto: Bradley Secker
Vida familiar
Şakir tem uma fotografia da família na sua aldeia. Şakir está na foto, veste uma camisa azul, atrás do lado direito. Criada há uma década, a Associação Afro-Turca está sediada em Izmir. A associação tem por objetivo destacar a comunidade e os problemas que ela enfrenta. Ela serve também como centro cultural para a comunidade que está dispersa, principalmente na costa ocidental da Turquia.
Foto: Bradley Secker
Recuperando tradições
Uma Godya fala com as pessoas e tenta prever o seu futuro durante o festival anual Afro-Turco de Dana Bayram (Festival dos Bezerros). Tradicionalmente, as Godyas eram mulheres que chefiavam as comunidades Afro-Turcas no Império Otomano e eram muito respeitadas e poderosas. Elas já não existem, mas, para o festival, uma mulher local é escolhida para fazer este papel em nome da tradição.
Foto: Bradley Secker
Origem misturada
O filho de Şakir, de 32 anos de idade (dir.), o neto Yağız Efe e a sua nora Aysel na casa da família Şakir num suburbio de Izmir. Casamentos mistos são muito comuns entre a comunidade Afro-Turca, o que torna difícil estimar números exatos da população afro-turca.
Foto: Bradley Secker
Ajudando os outros
Gülşen Ergüven, de 35 anos de idade (de vermelho no centro), trabalha numa cantina na escola da sua aldeia em Yeniçiftlik. Gülşen tem dois filhos na escola e trabalha em tempo parcial e também ajuda a mãe com tarefas domésticas.
Foto: Bradley Secker
Novamente em casa
Fehmi Yavaşer, de 85 anos de idade, na sua aldeia natal de Belevi, na parte oriental da Turquia. Fehmi viveu na Alemanha como trabalhador convidado por 18 anos antes de ser deportado. Ele era pugilista quando regressou à Turquia e não tinha ideia sobre as suas heranças para além da sua aldeia.