Angola: Erradicação da fome é uma miragem ou realidade?
22 de novembro de 2024No início da semana, na cimeira do G-20 (principal fórum de cooperação económica internacional), o Presidente de Angola, João Lourenço, apontou a erradicação da fome e da pobreza como um dos principais objetivos do seu Governo. Na sua alocação no fórum, que decorreu no Brasil, o estadista angolano começou por caracterizar a fome como "um flagelo" que afeta não apenas os países em vias de desenvolvimento, mas também os países desenvolvidos.
Na ocasião, João Lourenço destacou as ações que o seu executivo tem vindo a desenvolver de modo a mitigar ou erradicar a fome e a pobreza em Angola, tendo sublinhado a aposta do seu executivo na agricultura, no quadro da diversificação da economia nacional, com o objetivo de reforçar a segurança alimentar.
O desafio implica, igualmente, reduzir a grave dependência externa de Angola em matéria de importação de bens alimentares.
Em reação a estas declarações, a ativista de direitos humanos do Instituto para a Cidadania "MOZAKO", Iracelma de Sousa, diz que o modelo de combate à fome escolhido pelo executivo, baseado na assistência às comunidades, "não é sustentável".
"As nossas políticas de combate à fome são mais assistencialistas. Não são sustentáveis", reafirma.
"Eu não posso dizer que combato a fome porque distribuí cesta básica, porque dei cinco mil ou oito mil para comprar alguma coisa", argumenta.
"Mas tenho que pensar no combate à fome que te permita criar outras fontes para amanhã não passares à fome", defende Iracema de Sousa.
Estratégia para se perpetuar no poder?
Olívio N'Kilumbu, deputado do partido da oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), acrescenta que o quadro pintado pelo Presidente da República na reunião do G-20 não reflete a realidade do país. N'Kilumbu acusa o executivo de usar a pobreza como estratégia para se perpetuar no poder.
"Em Angola não há vontade. Você, para resolver o problema da fome, tem que investir na agricultura, empresas não podem morrer", propõe. "As micro, pequenas e médias empresas morrem em três meses", alerta o deputado.
Por sua vez, Mário Aragão, militante do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder, considera que o discurso proferido pelo Presidente angolano demonstra realismo e coerência com as ações levadas a cabo pelo executivo.
"Há vários programas que o Governo tem estado a desenvolver para a erradicação da fome e da pobreza”, assegura. "Nós temos um chefe de Estado muito coerente, muito cético que de facto com agricultura e emancipação da mulher é possível erradicar a fome em Angola", defende Aragão.
Entretanto, a Frente Patriótica Unida (FPU), plataforma da oposição angolana, anunciou a realização, em Luanda, no próximo sábado (23.11), de uma marchacontra a fome, a pobreza e a violação dos direitos em Angola.