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LiteraturaTanzânia

Escritores africanos motivados com o Prémio Nobel de Gurnah

AFP | Lusa
8 de outubro de 2021

O Prémio Nobel da Literatura, Abdulrazak Gurnah, apelou à Europa a mudar a visão sobre os refugiados de África e a crise migratória e diz: "O que falta é compaixão". Escritores africanos estão satisfeitos com o prémio.

Abdulrazak Gurnah | Gewinner Literaturnobelpreis 2021
Foto: Ger Harley/StockPix/picture alliance

Há mais de 30 anos que um escritor africano não vencia o Prémio Nobel da Literatura. Mas nesta quinta-feira (07.10.), Abdulrazak Gurnah, nascido em Zanzibar, na Tanzânia, quebrou o "jejum", depois do nigeriano Wole Soyinka ter sido laureado em 1986. De toda a história do Nobel da Literatura, atribuído pela primeira vez em 1901, mais de 80% foram autores europeus ou norte-americanos, contabilizou a Agência France Presse (AFP). 

O autor africano não esconde a sua satisfação: "É claro que estou muito entusiasmado. Não consigo dizer o quão horando estou por fazer parte daquela lista com escritores que admiro desde que comecei a aprender a ler. É extraordinário saber que entro para a história. É espantosa toda esta maravilha".

Abdulrazak Gurnah, de 73 anos, apelou à Europa para mudar a sua visão sobre os refugiados de África e a crise migratória.

"É precisamente isso, falta a compaixão dos pronunciamentos dos governos europeus ricos quando tratam estas pessoas desesperadas. Mas na verdade, os números não são astronómicos, mas tratam estas pessoas desesperadas como doentes, mendigos. O que falta é compaixão", entende. 

Hélder Muteia, escritor moçambicanoFoto: DW/J. Carlos

Para o escritor moçambicano Hélder Muteia este prémio tem um significado especial para o continente africano e acredita que "os escritores africanos vão ter uma restia de esperança e vão acreditar que estão a integrar-se nesta plataforma. Ainda vão perceber que trabalhar, dando o seu melhor e fazendo uma literatura puramente africana podem chegar à consagração".

Para muitos observadores, ao se atribuir o prémio a um autor cuja obra está largamente centrada em questões coloniais e pós-coloniais, e no tema da emigração, o Prémio Nobel está a consagrar temas muito atuais.

"Uma inspiração"

Shung Thong, jovem escritor tazaniano, diz: "Ver o meu colega autor que é também um tanzaniano a receber um prémio tão respeitado, o Prémio Nobel da Literatura, é uma inspiração".

E acrescenta que "encorajará muitos de nós, jovens autores do país, a continuar a trabalhar arduamente para que um dia possamos também conseguir um prémio semelhante, estou realmente orgulhoso dele".

Em Zanzibar, onde ainda vivem familiares de Gurnah, a notícia da atribuição do Nobel de Literatura foi recebida com alegria, embora só os habitantes mais velhos se lembrem do escritor e poucos tenham lido alguma das suas obras, já que são difíceis de encontrar, como conta o ministro da Educação, Simai Mohammed Said, à Associated Press.

Mas mesmo assim, o jovem Emmanuel Amasi está feliz com o feito inédito: "Hoje sinto-me tão feliz e orgulhoso por ver um tanzaniano a ganhar um prémio tão significativo no mundo. Isto mostra realmente o quanto ele representa o nosso país através da sua literatura. Ele provou ao mundo que a Tanzânia também tem talento quando se trata de literatura".

Wole Soyinka, escritor nigeriadoFoto: DW/S. Peschel

"Literatura está de boa saúde"

O Governo da Tanzânia não tardou em reagir, considerando que é uma vitória para o país e para o continente africano.

Gurnah é reconhecido pela sua penetração descomprometida e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no espaço entre culturas e continentes.

Também, o escritor nigeriano Wole Soyinka considerou que a atribuição do Nobel da Literatura ao tanzaniano Abdulrazak Gurnah é a prova de que a literatura está de boa saúde e próspera. Soyinka recebeu a distinção Nobel da Literatura em 1986.

Abdulrazak Gurnah, que nasceu em 1948 em Zanzibar, na Tanzânia, vive desde a adolescência no Reino Unido. Ao longo da sua carreira literária, Gurnah publicou dez romances e uma série de contos, dedicando todo o seu trabalho aos legados do colonialismo, exílio e dos refugiados, temas que refletem a sua própria experiência de vida.

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