O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, propôs que a África receba o mesmo tipo de ajuda de que beneficiou a Europa após a Segunda Guerra Mundial. Especialistas alemães vieram agora dar-lhe razão.
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Dois institutos de pesquisa apresentaram na sexta-feira, 11 de novembro, em Berlim, os resultados de um estudo sobre a viabilidade de um "plano Marshall" para África. As duas instituições, o Club of Rome e o Senado da Economia na Alemanha, propõem um gigantesco programa de 120 mil milhões de euros para estimular o crescimento económico do continente vizinho e criar emprego para a juventude africana.
Um plano deste gabarito implicaria também o aumento considerável do envolvimento alemão em África. Segundo o presidente do Senado da Economia, Franz Josef Radermacher, atualmente, "a Alemanha gasta uma média de dois euros por africano em projetos de desenvolvimento."
O estudo propõe que uma parte dos fundos necessários seja adquirida nos mercados de capital. O Governo de Berlim poderia então garantir os investimentos. Outros países africanos poderiam aderir ao plano. Radermacher, que coordenou o estudo, afirma que os fundos podem servir de "ignição para a produção de riqueza no continente" se forem aplicados com discernimento, "especialmente na infraestrutura e no setor industrial."
Fomentar a agricultura e as energias renováveis
Os autores do documento nomeiam a agricultura e as energias renováveis como as áreas de maior potencial em África. Por exemplo, escrevem, a construção de estações de energia solar em algumas zonas do continente não só poderia criar emprego, como também resolver os problemas resultantes da falta persistente de energia. O relatório apela ainda a uma ampliação dos programas humanitários para refugiados e pessoas internamente deslocadas.
O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, é um dos promotores mais vocais de um "plano Marshall" para África como estratégia para reduzir os níveis de pobreza. O nome faz referência a um plano desenvolvido pelos Estados Unidos da América para reconstruir a Europa em ruínas após a Segunda Guerra Mundial. O plano Marshall incluiu créditos, empréstimos e outra assistência no valor de 14 mil milhões de dólares norte-americanos. Hoje acredita-se que esta iniciativa é co-responsável pela rápida e forte recuperação da parte ocidental do continente europeu após a devastadora guerra.
11.11 Plano Marshall - MP3-Mono
'Nada de neo-colonialismo'
Na apresentação do estudo na capital alemã, o ministro salientou que ajudar a África a combater a pobreza não é apenas uma obrigação moral: "Temos que investir nestes países, temos que dar uma perspetiva aos seus cidadãos. De outra forma não serão apenas algumas centenas de milhares, mas milhões de pessoas a fugir dos seus países em poucas décadas."
O ministro alemão deixou bem claro que não se trata aqui de mais um exemplo de uma iniciativa para o desenvolvimento do Ocidente criada à revelia dos interesses africanos, uma crítica que se ouve com frequência tanto do lado africano como de especialistas no mundo industrializado. "Trata-se de reforçar e desenvolver as forças e os potenciais da África. Não se trata de chegarmos lá com os nossos planos e o nosso dinheiro e dizer 'É assim que vamos fazer'. Nada de neo-colonialismo", insistiu Müller.
O ministro propõe que a Alemanha desenvolva novos instrumentos para garantir investimentos nos países africanos. Por seu lado, os países africanos teriam que melhorar as condições de investimento, promover a boa governação e combater a corrupção, disse o titular da pasta do desenvolvimento: "Os países africanos têm que se tornar confiáveis e promover o princípio da segurança jurídica", concluiu Müller.
Um plano em aberto
Apesar da promessa do ministro de apresentar um conceito para um "plano Marshall" para África num futuro próximo, está em aberto quando este poderá ser concretizado. A chanceler alemã, Angela Merkel, rejeitou a noção de um "plano Marshall" numa visita recente ao Níger. Merkel explicou ao Presidente Mahamadou Issoufou que as condições em África "são completamente diferentes das condições na Europa após a Segunda Guerra Mundial."
Acresce que a Alemanha se prepara para ir às urnas em outubro do próximo ano. Os alemães estão preocupados com a ameaça do terrorismo, o financiamento público das reformas e o aumento dos custos no setor da saúde. É improvável que o Governo se ocupe numa altura destas de iniciativas políticas que não interessam à maioria dos eleitores alemães.
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DW
Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
Foto: public domain
A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
Foto: picture alliance/akg-images
A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.