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Especialistas rejeitam intervenção no Mali

18 de julho de 2012

Qualquer esforço para resolver a crise no Mali deve concentrar-se no restabelecimento da autoridade central do Estado. A estratégia é sugerida pelo grupo internacional que lida com a crise no Mali.

Rebeldes do Ansar Dine
Rebeldes do Ansar DineFoto: Reuters

Num relatório divulgado na quarta-feira, 18 de julho, o grupo de especialistas com sede em Bruxelas, na Bélgica, enfatiza a idéia de que a reconstituição das instituições do Estado deve ocorrer antes mesmo da retomada das regiões desérticas do norte do país. Estas permanecem nas mãos de grupos radicais ligados à rede terrorista Al-Qaeda.

Conforme relatório divulgado pelo grupo internacional de especialistas que tenta encontrar uma saída para a crise, as potências internacionais devem resistir à pressão criada pela deflagração de uma operação militar no norte do país. Segundo os analistas, não se deve subestimar a complexidade da situação, que envolve grupos considerados terroristas pela comunidade internacional e conflitos étnicos.

Especialistas rejeitam intervenção

A França foi um dos países que, na semana passada, já havia classificado uma intervenção militar no Mali como provável. Um dos países vizinhos do Mali, o Níger tem liderado os apelos no âmbito do continente africano para uma ação rápida a fim de prevenir que grupos extremistas, incluindo a Al-Qaeda e o nigeriano Boko Haram, consolidem suas posições na faixa do Sahel, no deserto do Saara.

Soldados do Mali, cujo exército protagonizou o golpe de EstadoFoto: dapd

O relatório do grupo Internacional de consultores sobre a crise no Mali salienta que a restauração política e institucional, assim como a criação de bases de segurança para o Governo central, são tarefas prioritárias para a reintegração do norte no país. A mesma idéia é compartilhada pelo responsável pela região do Sahel da Liga Internacional dos Direitos Humanos, Florent Geel, que concorda que, neste momento, uma intervenção militar no Mali seria negativa: "A Liga não apoia uma intervenção e qualifica a iniciativa como irresponsável, até porque não existe uma estabilidade política no sul do país”.

Prioridade às negociações

Geel diz que é necessário negociar com os rebeldes no norte e, caso isso não tenha sucesso, aí sim, uma intervenção militar poderia ser infelizmente” o próximo passo. Conforme o relatório divulgado nesta quarta-feira pelos especialistas de Bruxelas, a perspetiva de uma solução negociada para a crise é bastante reduzida, devido à consolidação de um núcleo islâmico de linha dura no controle do norte do país e de um permanente vácuo de poder político, institucional e de segurança em Bamako.

Mapa do Mali que assinala Bamako e Timbuctu

O Mali já foi, em tempos, considerado um dos Estados mais estáveis da África Ocidental. Desde março deste ano, a estrutura do Estado ruiu em função de um golpe militar, desencadeado algumas semanas antes das eleições. A tomada de poder por parte dos militares foi motivada pelo avanço dos rebeldes na região norte do país, que acabou numa derrota do exército. Entretanto, os militares cederam o poder oficialmente, mas continuam a intervir decisivamente na política do país.

Influência militar nefasta

Esta influência militar estaria, segundo especialistas, enfraquecendo ainda mais a frágil transição de governo e complicando esforços internacionais para reconstituir as forças armadas para a reunificação do país. Grupos islâmicos, nomeadamente o Ansar Dine, ligado à rede Al-Qaeda, têm imposto a lei islâmica nos territórios sob seu controle, no norte do país.

Os fundamentalistas islâmicos destruiram o Património da Humanidade em TimbuctuFoto: Getty Images

O Ansar Dine não gostaria apenas de implementar a lei sharia no norte do país, confirma o porta-voz do grupo, Oumar Ould Hamaha: "Queremos que as leis sejam implementadas em todo o país, em toda a África. Do nascer ao pôr do sol.” Para Hamaha, todos deveriam viver e conviver como bons muçulmanos e “morrer como mártires”. A maioria da população do Mali é muçulmana, mas precisa de um guia, acrescenta Hamaha, rematando que o seu grupo “quer instruir às pessoas sobre como elas devem viver".

A Comunidade Econômica dos Países da África Ocidental, CEDEAO, já se posicionou a favor do diálogo, mas também mobilizou um contingente militar de três mil soldados para entrarem em ação no país. Não obstante, o planejamento e o financiamento de uma intervenção militar permanecem por definir.

Intervenção pode desencadear mais violência

Os militares do Mali não pretendem retomar os confrontos no norte do país e alertam para os perigos de o país ingressar numa situação semelhante à do Afeganistão. O grupo de especialistas, que tem sede em Bruxelas, na Bélgica, alerta que uma intervenção militar poderia também desencadear um ambiente de "acerto de contas" entre as tribos, excluindo qualquer chance de coexistência pacífica entre as comunidades.

Protestos em Bamako contra a destruição de TimbuctuFoto: AP

Segundo o relatório, laços complexos e interesses regionais conflituosos têm prejudicado os esforços ocidentais para uma aliança que faça frente à influência de grupos ligados à Al-Qaeda e às redes de contrabandistas internacionais que usam a região do Saara para o tráfico. Os especialistas salientam que a presença do Estado no norte do Mali já era bastante frágil, sustentada apenas por uma rede de apadrinhamento político - em um estilo apontado no relatório como "mafioso"- e baseado muito mais na lealdade com as elites regionais, do que nos valores de instituições democráticas.

Autor: Alexander Göbel/Márcio Pessôa
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha

18.07 Relatorio Mali - MP3-Mono

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