Especialistas vêem com prudência cessar-fogo alcançado no Sudão do Sul
24 de janeiro de 2014 Os representantes do Presidente Salva Kiir e do seu rival e ex-vice-Presidente Riek Machar parecem ter encontrado a fórmula para acabar com cinco semanas de violentos combates no país. Foram precisas muitas semanas de agitadas negociações na capital etíope e a mediação da organização regional - IGAD, para que este acordo de sete páginas fosse conseguido. Um acordo considerado de forma unânime o "primeiro passo crucial", mesmo que os observadores e os signatários do documento permaneçam prudentes.
Segundo vários analistas, o cessar-fogo assinado pelos beligerantes no Sudão do Sul não garante que a crise chegou ao fim, principalmente quando se sabe que a aplicação do acordo no terreno será difícil, bem como a reconciliação entre as comunidades que há bem pouco tempo se confrontavam de forma violenta.
Retirada das zonas de conflito e ajuda humanitária à população
Certo é que as duas partes se comprometem a renunciar a qualquer tipo de ação militar ou confronto suscetível de pôr em causa o processo de paz iniciado. Também decidiram que os combatentes dos dois lados terão que respeitar o acordo, ao qual se deverá seguir uma retirada progressiva dos seus homens armados das zonas de conflito. Por outro lado, ficou acordado que os dois campos irão proteger os civis e garantir o acesso da ajuda humanitária à população.
Para controlar o respeito do cessar-fogo, é criado um Mecanismo de Vigilância e de Verificação que será dirigido pela IGAD, a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, o bloco regional mediador da África Oriental na crise do Sudão do Sul.
Seyoum Mesfin, o mediador da IGAD, lembrou aos microfones da DW África que, muitas vezes, fazer as pazes é mais complicado que fazer a guerra e que "o processo de paz será complicado, imprevisível e delicado". "O Sudão do Sul viveu uma luta longa e amarga para conseguir a sua independência. Milhões de pessoas sacrificaram a sua própria vida para atingir este objetivo. É também justo que o diálogo nacional seja agora realmente inclusivo, que não deixe ninguém de fora. A IGAD e a União Africana trabalham juntamente com a comunidade internacional para ajudar os sul-sudaneses. Não vamos abandonar-vos enquanto a situação não se estabilizar", garante.
"Aplicação não será fácil"
No entanto, muitos especialistas advertem que o conflito - desencadeado por um confronto em meados de dezembro entre grupos políticos rivais do exército sul-sudanês - poderá rápidamente escapar ao controlo dos dirigentes políticos. Daí que, logo após a assinatura do acordo, o representante da delegação governamental de Juba, Nhial Deng Nhial tenha mostrado o seu ceticismo. "Não tenhamos ilusões", afirmou, frisando que "a aplicação deste acordo não será fácil".
Ainda assim, Nhial considera que "o exército dos SPLA é capaz de assegurar o respeito do acordo pelos seus homens". "Prometemos uma total cooperação com o mecanismo de controle e verificação. Na verdade, o que nos preocupa é a capacidade real dos grupos rebeldes, constituídos por civis armados que não estão habituados à disciplina militar, para acabarem com os combates quando as ordens são dadas", revela.
Uma solução parcial
O governo de Juba apelou à IGAD e à comunidade internacional para que controlem o respeito do acordo por parte do campo adversário, que esteve representado em Addis-Abeba por Mabior Garang de Mabior, porta-voz de Riek Machar. Também aos microfones da DW África, Mabior fala sobre os compromissos aceites pelos rebeldes: "Inicialmente, queríamos que o Presidente aceitasse libertar imediatamente os nossos camaradas presos, mas não conseguimos impor esta exigencia. Em qualquer negociação, nunca se consegue 100% das exigencias. Mas podemos viver com este acordo".
Observadores afirmam que, apesar deste acordo, as querelas entre o Presidente Salva Kiir e o seu ex-vice-Presidente Riek Machar sem dúvida não serão solucionadas por um documento e nem as tensões étnicas entre os Nuers e os Dinkas, que esta rivalidade política e pessoal reavivou. Um novo incidente ilustra bem a dificuldade de as duas partes aceitarem a paz. Na manhã desta sexta-feira (24.01), notícias deram conta que o exército teria atacado uma das posições dos rebeldes no Estado de Unidade e que outra ofensiva estaria em curso no Estado de Jonglei. O exército desmentiu essas informações, afirmando que os combates ocorreram antes da assinatura do acordo.