A RENAMO, o maior partido da oposição moçambicana, está de volta à política pública ativa em várias províncias. E já são conhecidos os nomes escolhidos por Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama para as negociações de paz.
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Em Moçambique surgem sinais que renovam as esperanças de se alcançar a paz definitiva no país. Depois das garantias de segurança dadas pelo Governo, vários quadros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) que se encontravam em parte incerta já retomaram a vida política em várias províncias, como Sofala, Manica e Tete.
Representantes da RENAMO estiveram reunidos esta terça-feira (07.02) com governadores e presidentes das assembleias provinciais. Em Chimoio, capital da província de Manica, o partido liderado por Afonso Dhlakama realizou um comício.
Grupos de trabalho
Na segunda-feira (06.02), o Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Afonso Dlakhama, não demoraram em designar os seus representantes para os dois grupos de trabalho que vão discutir a descentralização e os assuntos militares nas negociações de paz.
A designação acontece em tempo que pode ser considerado recorde, uma vez que as duas partes tinham concordado em trabalhar no assunto a partir desta segunda-feira (06.02) e durante a semana.
"Essa urgência com que o Presidente Nyusi e também o presidente da RENAMO estão a agir faz sentido", considera o analista Gustavo Mavie. "Revela que têm consciência da gravidade do problema", sublinha. "É preciso agir com muita rapidez", acrescenta, "porque esse tipo de situações acarreta prejuízos não só económicos como a perca de vidas humanas."
O analista lembra que o Presidente assumiu a chefia do Estado "numa situação muito má", quando o país "estava em chamas", numa situação de conflito militar e de outros problemas como o custo de vida.
Todos os nomes
O grupo de trabalho sobre descentralização é constituído pela parte do Governo por Albano Macie e Eduardo Chiziane, ambos docentes universitários de Direito. Macie é igualmente assessor jurídico do Parlamento. Eduardo Chiziane foi membro da ex-subcomissão do diálogo político entre o Governo e a RENAMO que abordava a questão da descentralização.
07.02.17 Grupos especializados do Governo e RENAMO - MP3-Stereo
A parte da RENAMO é constituída por Saimone Macuiana, chefe de extinta comissão do diálogo por parte do maior partido da oposição, e Maria Joaquina, antiga vogal da Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Para a comissão de assuntos militares o Executivo nomeou Armando Panguene, um combatente da luta de libertação nacional, que ocupou as pastas de vie-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, além de ter sido embaixador de Moçambique em vários países (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Portugal e África do Sul) e governador nas províncias de Nampula e Cabo Delgado.
O outro membro da comissão por parte do Governo é Ismael Mussa Mangueira, um combatente da luta de libertaão nacional que ocupou vários cargos no Ministério da Defesa, foi membro do Tribunal Militar e cônsul honorário da Eslováquia em Maputo.
A RENAMO indicou Leovigildo Buanancasso, que faz parte do Conselho de Estado e André Magibire, membro do Parlamento.
A designação dos dois grupos especializados acontece numa altura em que o Governo e a RENAMO observam uma trégua de 60 dias no conflito militar. Para Gustavo Mavie, "é mais do que evidente" que o cessar-fogo "vai ser alargado". O analista lemmbra que o líder da RENAMO, da última vez que falou, no dia 03.02, "deixou claro que não vai mais reativar a guerra."
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.