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HistóriaAngola

"Esta luta não acabou"

António Cascais
12 de dezembro de 2013

Jaka Jamba teve um papel importante no processo de independência, atuando sobretudo nas frentes diplomática e política. Em 1975 foi secretário de Estado no primeiro governo de transição e foi ainda deputado pela UNITA.

Foto: DW/A. Cascais

Almerindo Jaka Jamba nasceu a 21 de março de 1949, é historiador e doutorado em filosofia. Em 1975 foi nomeado secretário de Estado para a Informação, pelo líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Jonas Savimbi, no primeiro governo de transição em Angola, que englobava vários movimentos independentistas.

Em 1992 foi nomeado segundo vice-presidente da Assembleia Nacional e porta-voz do grupo parlamentar da UNITA. Fez também parte da comissão constitucional de Angola e é hoje um dos mais antigos filiados da UNITA.

DW África: Como entrou na luta pela independência?

Almerindo Jaka Jamba (AJJ): Eu nasci em 1949, portanto em pleno período colonial. No final dos anos 60 havia muita agitação política, que vinha também de Portugal. Havia muitos jovens portugueses que não queriam alinhar na guerra colonial. Os movimentos de libertação nas colónias, propriamente ditas, também começaram a organizar-se e a estabelecer uma rede que abrangia também os estudantes que se encontravam a estudar na Europa.

Foi nessa altura em que entrei em contacto com representantes da UNITA na Suíça, na pessoa do Sr. José Ndele, que mais tarde chegou a ser primeiro-ministro do governo de transição de Angola [o governo que englobou os três movimentos independendistas em 1975]. Foi através dele que me filiei na UNITA.

A minha intervenção política, a partir de então, fez-se no quadro da UNITA. Em 1975 eu também entrei no governo de transição, ocupando o cargo de secretário de Estado da Informação. Na altura eu tinha 26 anos. Fomos os ministros mais novos do mundo naquela altura.

Em janeiro de 1975, ficou acordada em Alvor (no Algarve, Portugal) a formação de um governo de transição que levaria à independência de Angola e que tomou posse no dia 1 de fevereiro de 1975. Na foto: o governo angolano de fevereiro de 1975Foto: Jaka Jamba

DW África: O 25 de Abril em Portugal foi uma data importante também para os movimentos de libertação nacional?

AJJ: Sim, foi. Uma vez ocorrido o 25 de Abril, e com a abertura de novas autoridades em Portugal para se negociar a independência de Angola, entrámos também nesse processo de negociações. Depois da instauração do governo de transição a situação começou a deteriorar. Para se compreender o contexto dos conflitos em 1975, no momento em que se deu a independência de Angola, há que recordar que havia quatro pólos de conflitos.

De um lado havia o conflito entre os nacionalistas africanos e a potência colonial portuguesa. Os três movimentos estavam também em conflito entre si e não chegaram a ter uma plataforma comum.

Havia também, como pano de fundo, o conflito no contexto da guerra fria: As duas superpotências – os Estados Unidos da América (EUA) e a defunta União Soviética – procuravam confrontar-se, mas através de terceiros. Isso refletiu-se no caso de Angola.

Importa também referir o contexto local. Os movimentos de libertação tinham conflitos e por vezes até escaramuças entre si.

E por último: o outro pólo de conflitos era a questão do destino do Apartheid na região. Aqui se vê em que contexto Angola acedeu à independência e que consequências esse contexto teve para Angola.

Os Acordos de Alvor foram assinados em Janeiro de 1975 entre o Governo de Portugal e representantes dos três movimentos de libertação de Angola. Jaka Jamba participou nas negociações em representação da UNITAFoto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares

DW África: Fazendo o balanço, 40 anos depois, o que correu bem e o que correu mal?

AJJ: Um dos grandes objetivos era a independência nacional, uma vez que a contradição principal, na altura, era o colonialismo, que não permitia que houvesse uma afirmação dos angolanos como povo soberano. Não há dúvida que através dos Acordos de Alvor, celebrados entre Portugal e os movimentos de libertação de então, ficou claro – dentro de Angola e no exterior – que a 11 de novembro Angola seria um Estado independente. Isso é incontestável. Portugal cessou a sua tutela sobre Angola a partir dessa data.

Os Acordos de Alvor reconheciam três movimentos como representantes dos interesses legítimos de Angola [FNLA, MPLA e UNITA]. Os Acordos de Alvor estipulavam a necessidade de se fazerem eleições livres, justas e transparentes, para haver a transição do poder para aquele partido que tivesse uma maioria, eventualmente composta com um dos outros.

Toda esta base ficou ultrapassada com a entrada de forças colossais estrangeiras no nosso país, tanto de um como do outro lado. Dum lado apareceram forças cubanas, cerca de 60.000 homens, além de outros aliados, por exemplo, os alemães de leste. Do outro lado entraram forças sul-africanas em Angola, sob pretexto de combaterem as forças do ANC (Congresso Nacional Africano, da África do Sul) e mesmo da SWAPO (Organização do Povo do Sudoeste Africano, da Namíbia), que também tinham bases em território angolano.

Foi um contexto bastante complexo que se fazia sentir então no nosso território. Tudo isto teve repercussões bastante negativas e só com a retirada dessas forças se conseguiu a paz. Isso levou o seu tempo e foi necessária a mudança do cenário internacional, sobretudo a queda do muro de Berlim e o desmoronamento da Ex-União Soviética e do Bloco Leste. Isso tudo é que permitiu que houvesse passos sérios para se encontrar a paz para Angola entre os angolanos.

DW África: A independência de Angola foi de facto atingida? Os recursos de Angola são dos angolanos?

AJJ: Os recursos teoricamente parecem ser dos angolanos, mas o grande problema é a distribuição do rendimento nacional. Fala-se de angolanos que se tornaram bilionários em curto espaço de tempo. E a grande massa da população que continua a viver em extrema pobreza. Esse é o desafio que se levanta em relação ao país.

"Esta luta não acabou", lembra o histórico da UNITA Jaka Jamba

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DW África: Valeu a pena? Os sonhos de então poderão ainda tornar-se realidade?

AJJ: Um dos sonhos era de facto ver Angola independente. Este objetivo foi conseguido. Outro sonho era também – uma vez Angola independente – reconstruirmos o país em bases de transformarmos a noite colonial num dia, em que o sol seria radiante para todos os angolanos. Por outro lado havia o sonho de que Angola, pelo potencial humano e económico que tem, pudesse desempenhar um papel importante - não só na nossa região e no nosso continente, como mesmo a nível do mundo. Ainda estamos muito distantes deste sonho, mas é preciso nunca esquecer que – como dizia o poeta – "Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce".

DW África: A guerra, propriamente dita, valeu a pena?

AJJ: Eu – fiel aos meus princípios e às minhas convicções – uma vez que nós tínhamos assinado os Acordos de Alvor, levamos 16 anos neste combate bastante difícil, mas era preciso defender os princípios e os valores. E hoje, se temos democracia é graças em parte também à resistência que a UNITA fez, pelo que nós tivemos que nos envolver na luta, esta luta que não acabou e que estamos a ter ainda até hoje.

"Aproximadamente quatro décadas depois da independência, Angola não conseguiu proporcionar o bem-estar a grande parte dos angolanos", afirma Jaka Jamba. Na foto: bairro de LuandaFoto: pi
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