O Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade pelo ataque a base militar de Arbinda, no Burkina Faso, no qual sete soldados morreram. Entretanto, o grupo também divulgou um vídeo em que executa cristãos na Nigéria.
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O grupo jihadista do Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP) reivindicou esta sexta-feira (27.12) a responsabilidade pelo ataque a base militar de Arbinda, no Burkina Faso. Sete soldados morreram nesta ofensiva.
O grupo não reivindicou, no entanto, a responsabilidade pela morte dos 35 civis, incluindo 31 mulheres, também mortos na última terça-feira (24.12) naquela cidade.
Segundo uma mensagem dos serviços secretos do SITE, uma agência norte-americana que monitoriza os movimentos extremistas, o ISWAP admitiu a responsabilidade no ataque à base, com recurso a um veículo carregado de explosivos.
O ISWAP é uma fação do grupo jihadista nigeriano Boko Haram, afiliado ao Estado Islâmico. O ataque teve lugar na província de Soum, uma zona limítrofe com o Mali, que tem sofrido constantes ataques jihadistas nos últimos meses.
Morte de cristãos na Nigéria
Nigerianos fogem do Boko Haram para a cidade de Monguno
03:02
Entretanto, o grupo também divulgou esta sexta-feira (27.12) um vídeo em que mostra a execução de 11 cristãos na Nigéria.
De acordo com a comunicação social nigeriana, o vídeo, com cerca de um minuto, foi partilhado pela agência do grupo, a Amaq, através da plataforma de divulgação de mensagens Telegram e mostra 11 homens vendados a serem abatidos e esfaqueados por membros do ISWAP. "Esta é uma mensagem para os cristãos por todo o mundo", afirmou um homem mascarado no vídeo.
A execução conjunta terá sido uma resposta à morte, em outubro, do então líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, e do seu porta-voz. Baghdadi ter-se-á suicidado para evitar ser capturado pelas forças dos Estados Unidos da América, durante uma rusga ao seu esconderijo, na província de Idlib, no noroeste da Síria.
Através do seu porta-voz, o Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, disse estar "profundamente triste e chocado com a morte de reféns inocentes" às mãos de "grupos assassinos sem escrúpulos, sem Deus e desalmados", acrescentando que estes "dão um mau nome ao Islão".
Buhari destacou que a sua prioridade continua a ser a segurança coletiva de todos os cidadãos da Nigéria, apelando para que estas execuções não dividam a população do país da África Ocidental.
O que é o Estado Islâmico?
As origens do grupo terrorista remontam à invasão americana do Iraque, em 2003. Nasceu como oposição sunita ao domínio xiita. Inicialmente chamou-se "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" e virou ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com o derrube do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo surgiu da união de diversas organizações extremistas sunitas e grupos leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra o domínio dos xiitas no Governo do Iraque.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al-Qaeda
A insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi (foto), fundador da Al-Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram as suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: picture-alliance/dpa
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Foi então sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Abdullah ar-Raschid al-Baghdadi (ambos mortos em 2010). A Al-Qaeda no Iraque (AQI) mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). Nos anos seguintes, Washington intensificou a sua presença militar no país.
Foto: picture-alliance/Photoshot
Regresso dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a reagrupar-se, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al-Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o Estado Islâmico atravessou a fronteira para participar da luta contra o Presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram uma fusão com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al-Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EI e a central da Al-Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do desentendimento com a Al-Qaeda, o EI fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando a sua segunda maior cidade, Mossul, a 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já tinha sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana de Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista estratégico quanto económico. Ela é um importante ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Com a tomada de Mossul, o EI também conquistou 429 milhões de dólares na filial local do Banco Central do Iraque. Assim sendo, o Daesh - como é conhecido em árabe - tornou-se um dos grupos terroristas mais ricos.
Foto: Getty Images
O califado do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho de 2014, a organização declarou um califado, um estado islâmico que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e faz lembrar os califados muçulmanos históricos. Abu Bakr al-Bagdadi foi apresentado como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da sharia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado". Muitos foram executados, mulheres violadas e vendidas como escravas a jihadistas do EI. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o património histórico
O EI já destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. O EI diz que as esculturas antigas entram em contradição com a sua interpretação radical dos princípios do Islão. Especialistas afirmam, porém, que o grupo vende ilegalmente estátuas pequenas no mercado internacional, enquanto as maiores são destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Nas suas ofensivas armadas, o grupo tem saqueado centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupado diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Os seus militantes também se apoderaram de armamento militar de fabrico americano das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional. Seguidores da ideologia do EI perpetraram vários atentados terroristas na Europa.