Negócios da família Guebuza saem muito caro a Moçambique
19 de maio de 2016 O alegado envolvimento da secreta num negócio de armas da família do ex-Presidente moçambicano seria a prova mais evidente de que o Estado moçambicano poderá ter-se curvado a interesses privados da família Guebuza. E o mais grave, essa relação promíscua deverá custar muito caro ao povo, considerando que a ela está associada a uma dívida pública que arruinou o país.
A imprensa moçambicana, nomeadamente o jornal A Verdade e o CanalMoz, divulgou esta semana um caso de contornos duvidosos envolvendo a empresa de Mussumbuluku Guebuza, filho do ex-presidente Armando Guebuza. Ela terá beneficiado, indiretamente, de fundos e meios públicos num negócio de compra de armas a uma empresa israelita.
Os interesses privados desta família estariam relacionados com parte das polémicas empresas criadas pelo anterior Governo com empréstimos pouco claros, tais como a EMATUM, Proindicus e MAM, por via de instituições do Estado, no caso os ministérios da Defesa e do Interior.
Relativamente a esta teia entre as esferas privada e pública, o colaborador do Centro de Integridade Pública (CIP) , Edson Cortês não tem dúvidas que houve atropelos à lei, " a serem verdade as notícias que estão a ser propaladas estamos perante uma situação grave de conflito de interesses". "Na altura dos acontecimentos", prossegue, "Armando Guebuza era chefe de Estado e tinha acesso a informação privilegiada. De forma alguma sem concurso público as empresas do filho poderiam prestar esse serviço ao Estado".
Sem dinheiro para efetuar os pagamentos
Enquanto isso, os prazos para pagamentos das tranches das empresas suspeitas, por sinal altamente endividadas, estão à porta e elas não têm como fazê-lo. Segundo o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, a MAM, Mozambique Asset Management, está a negociar uma reestruturação de 170 milhões dólares junto dos seus credores, de um total de 535 milhões de dólares.
Caso tal não aconteça, até 23 de maio, o Governo se responsabilizaria. Ou seja, os privados envolvidos nestes investimentos de forma supostamente ilegal, mesmo que de forma indireta, gozariam da proteção do Estado e beneficiariam do imposto do povo.
Por isso, para Edson Cortês está claro que o Estado, de forma abusiva, não passa de uma plataforma de enriquecimento ilícito da elite política. "Isto demonstra como Moçambique foi gerido nos últimos anos de forma pouco transparente e como o Estado foi usado para a acumulação de riqueza por parte de um grupo de indivíduos que controlavam esse mesmo Estado".
Mais irregularidades
E a lista de irregularidades vai longe. O especialista em boa governação da Universidade Eduardo Mondlane Adelson Rafael lembra que a empresa do filho do ex-presidente Armando Guebuza "nem sequer é especializada em armas".
Ainda de acordo com a imprensa moçambicana, um alto funcionário do SISE, os Serviços de Inteligência e Segurança do Estado, terá assessorado o filho do ex-Presidente Guebuza no negócio das armas.
É caso para se dizer que o Estado já se curva a interesses privados prejudicando-se a si próprio? Adelson Rafael não tem dúvidas. "Sim, encontramos aqui altos funcionários do SISE a assessorar uma empresa que pela sua natureza não tem essa experiência enquanto deveria o Estado a ser assessorado pelo SISE e outros departamentos adstritos ao ministério da Defesa. Vêm-se claramente membros do Estado a curvarem-se e a prestar vassalagem explícita".