Somália: Estagnação do processo eleitoral causa preocupação
Lusa
12 de abril de 2021
ONU, União Africana, União Europeia e Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento na África Oriental alertam para a "gravidade da estagnação" do processo eleitoral na Somália, paralisado desde fevereiro.
Publicidade
Numa declaração conjunta após uma reunião virtual para analisar a "gravidade da estagnação" do processo eleitoral na Somália, que se encontra paralisado desde fevereiro, as organizações revelam "forte preocupação" sobre a situação no país.
Chamam também a atenção para "o contínuo impasse no diálogo entre o Governo federal e alguns dirigentes dos estados membros", de acordo com a declaração.
O encontro contou com a participação do secretário-executivo da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento na África Oriental (IGAD), Workneh Gebeyehu, o comissário para os Assuntos Políticos, Paz e Segurança da União Africana (UA), Bankole Adeoye, a diretora-geral da África para a União Europeia (UE), Rita Laranjinha, e a secretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Políticos e Promoção da Paz, Rosemary DiCarlo.
Na declaração, os representantes internacionais expressaram "séria preocupação com a possibilidade de o impasse político afetar negativamente a paz, segurança, estabilidade e prosperidade da Somália" e de outros países, pelo que pedem aos seus líderes para que exerçam "o máximo de contenção", de forma a evitar ações que conduzam a uma escalada de tensão.
Esperança por uma Somália melhor
02:11
Eleições "com o menor atraso possível"
Os signatários também sublinham que o acordo assinado em 17 de setembro de 2020 entre o Presidente da Somália, Mohamed Abdullahi Farmaajo, e os cinco líderes regionais, sobre o modelo de eleições parlamentares e presidenciais, "continua a ser o caminho mais viável para a realização de eleições com o menor atraso possível".
Publicidade
Nesse sentido, os representantes das organizações internacionais pedem ao Governo federal da Somália e aos líderes regionais para "rever e validar" as recomendações feitas por uma comissão técnica, em meados de fevereiro na cidade de Baidoa, no sentido de "procurar acordos por meio de compromissos sobre qualquer questão pendente, para uma rápida implementação eleitoral".
O mandato de Farmaajo expirou em 8 de fevereiro e, desde então, os líderes da oposição deixaram de reconhecer a sua autoridade, pedindo a formação de um Conselho Nacional de Transição, para conduzir o país a eleições.
Na declaração, a ONU e demais organizações internacionais "reafirmam" a decisão "de não apoiar nenhum processo paralelo, eleições parciais ou novas iniciativas que levem a uma extensão de mandatos anteriores".
As organizações também apelam aos líderes políticos somalis para "continuarem o progresso feito na construção do Estado e em políticas inclusivas", especialmente no que diz respeito às eleições e à transição pacífica de poder, pedindo-lhes para respeitarem "os interesses vitais do povo somali".
Mogadíscio - cidade de extremos
A capital da Somália é uma cidade de desespero e de esperança. Assolada por quase 30 anos de guerra civil, Mogadíscio tenta reconstruir-se e recuperar um Estado falido.
Foto: DW/S. Petersmann
Combate à fome
Xamdi é filha de nómades somalis e esteve na enfermaria de nutrição do Hospital Banadir, de Mogadíscio, desde o início de agosto. A sua mãe alimenta-a com uma pasta à base de amendoim, para tratamento de desnutrição aguda. Xamdi tem três anos e pesa apenas sete quilos. A maioria das crianças na Alemanha na mesma faixa etária pesa duas vezes mais. Cerca de 800 mil somalis enfrentam fome.
Foto: DW/S. Petersmann
Sistema de saúde em colapso
Este menino recupera na cama ao lado de Xamdi. Luta contra a pneumonia, uma das infecções mais comuns causadas pela desnutrição crónica e condições superlotadas nos campos de refugiados. As suas mãos estão envolvidas em papel para evitar que ele tire o tubo de alimentação. O Hospital Banadir é a maior clínica pública de Mogadíscio, mas mesmo aqui é visível o caos do sistema de saúde.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de refugiados
A capital somali está cheia de casas improvisadas. Muitos nómadas e camponeses estão determinados a ficar. Fugiram da guerra civil, do terror, da violência e da fome extrema. A população da cidade saltou para cerca de 2,5 milhões. Pelo menos 600 mil são oficialmente consideradas "pessoas internamente deslocadas".
Foto: DW/S. Petersmann
Um fardo pesado
Os conglomerados e as condições de vida sem higiene nos campos são um risco para a saúde. As infecções agudas de foro respiratório e a diarreia são doenças comuns entre os deslocados internos de Mogadíscio. A vida nos campos improvisados é uma luta diária para a próxima refeição e o próximo balde de água.
Foto: DW/S. Petersmann
A vida à espera
Não há muito a fazer dentro dos campos, mas sim sentar e esperar. Muitas crianças não têm acesso a educação. A maioria dos acampamentos improvisados não tem parque infantil ou outros espaços recreativos.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade feita de ruínas
Também há muito dificuldade fora dos campos. Especialmente a parte antiga de Mogadíscio é marcada por quase três décadas de conflito interno. Mas também há sinais de novos começos.
Foto: DW/S. Petersmann
A hora da "selfie"
Esses jovens divertem-se no Parque da Paz de Mogadíscio. Todos eles são estudantes, todos expressam fé no novo Governo do Presidente Abdullahi, apoiado pelo Ocidente. Um dos estudantes, que quer ser engenheiro de aviação civil, diz: "é muito mais seguro aqui do que há cinco anos. Hoje temos lugares como o Parque da Paz. Mogadíscio está mudando e nós estamos adoramos".
Foto: DW/S. Petersmann
Não às armas
Logo na entrada do Parque da Paz, os visitantes são lembrados de deixar para trás armas, como as chamadas Kalashnikovs, facas, granadas de mão e pistolas.
Foto: DW/S. Petersmann
Onde tudo acontece
A praia de Liido, em Mogadisci, atrai multidões, especialmente após as preces islâmicas de sexta-feira. As pessoas juntam-se para dançar e jogar futebol. Este desporto é extremamente popular na Somália e os jovens amantes reúnem-se na praia de Liido, um local antes de acesso difícil a civis, que estava sob controlo da milícia Al-Shabab.
Foto: DW/S. Petersmann
Reconstrução em pleno andamento
A comunidade internacional começou a investir na reconstrução do Estado fracassado da Somália. Os sinais visíveis estão na capital, como esta nova rua foi feita com ajuda da Turquia. Os turcos também criaram uma grande base militar em Mogadíscio para treinar soldados da Somália.
Foto: DW/S. Petersmann
Muros e cercas
Novas residências brotam em toda a Mogadíscio. A diáspora que retorna para a Somália investe no mercado imobiliário em expansão da cidade. Assim como políticos e outras classes mais ricas. Muitos dos novos edifícios estão rodeados por altos muros de proteção contra explosão e arames farpados para afastar terroristas, criminosos e grupos rivais.
Foto: DW/S. Petersmann
Zona Verde
O terreno do aeroporto tornou-se o centro dos expatriados. Como Bagdad e Kabul, Mogadíscio também tem uma chamada "zona verde". As Nações Unidas e a maioria das missões diplomáticas que retornam vivem e trabalham neste vasto complexo que se desenvolveu em torno do Aeroporto Internacional de Mogadíscio. Está cercado e protegido pelas tropas da União Africana.
Foto: DW/S. Petersmann
Cidade de murais
A maioria das fachadas das lojas ou vitrines é pintada à mão, em Mogadíscio. Os trabalhos agregam uma cor necessária a uma cidade que se ergue lentamente de suas ruínas.
Foto: DW/S. Petersmann
Compras pela internet
Cartazes modernos também têm conquistado as ruas, anunciando compras on-line de moda árabe ou uniformes para instituições privadas de ensino.
Foto: DW/S. Petersmann
Novidades não são para todos
As novas atrações da cidade estão fora do alcance dos muitos deslocados e pobres. O progresso e a estabilidade da Somália também dependerão da capacidade do Estado de conquistar a confiança dos habitantes. Atualmente, quase sete milhões de pessoas, cerca de metade da população do país, dependem de ajuda humanitária.
Foto: DW/S. Petersmann
Explosão juvenil
Mais de metade da população da Somália tem menos de 18 anos. A maioria dos cidadãos nasceu após queda de Mohammed Siad Barre, em 1991 - o evento crucial que desmoronou o Estado. A juventude da capital, quando não está envolvida em alguma atividade, sente-se marginalizada, aumentando a vulnerabilidade da Somália.