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Esterilização de mosquitos pode ajudar no combate à malária

Nuno de Noronha / Lusa26 de junho de 2014

Cientistas da Agência Internacional de Energia Atómica, na Áustria, querem familiarizar-se como todos os pormenores da vida sexual dos mosquitos transmissores do vírus para impedir que estes se reproduzam.

Mosquito anopholes em plena picada a um ser humanoFoto: picture-alliance/dpa

O processo de reprodução parece ser simples e chega a demorar menos de 16 segundos. A fêmea entra no enxame, um macho procura-a, o batimento de asas da fêmea abranda até que o macho se aproxima. Acoplam-se e, em menos de um segundo, estão unidos no ar.

Compreender todo este frenesi e anular o processo de reprodução é um dos desafios da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), com sete em Seibersdorf, perto de Viena, na Áustria.

Aqui, os laboratórios têm como alvo principal o mosquito macho. Através de uma técnica de esterilização com recurso a radiações, impedem-nos de gerar órgãos reprodutores férteis, e depois libertam-nos em largas quantidades.

O método já provou ser eficaz no controlo da lagarta rosca, que ataca o gado, e da mosca da fruta que destrói as culturas.

As fêmeas do mosquito acasalam apenas uma vez na vida enquanto o macho pode acasalar várias vezes. Por isso, os cientistas de Seibersdorf esperam que a técnica prove ser eficaz no controlo de novas pragas.

Resistência a pesticidas

Homem pulveriza uma plantação no BrasilFoto: inpev

De acordo com Andrew Parker, esta seria um bom mecanismo para reduzir o uso de pesticidas: “se conseguirmos uma erradicação local - não uma erradicação global, mas pelo menos uma remoção local das espécies das pragas de mosquitos - então são será mais necessário usar pesticidas."

E Parker enfatiza que "esta tecnologia presta-se a uma redução substancial do uso de pesticidas".

São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique são alguns dos países onde as doenças transmitidas por mosquitos, como a malária, são comuns. Por isso, os mosquitos tornaram-se resistentes a insecticidas nestas regiões.

Os mosquitos incapazes de se reproduzirem não vão, necessariamente, eliminar o uso total de pesticidas, mas pelo menos vão ajudar ao declínio da utilização destes químicos perigosos para a água e agricultura.

E, por outro lado, esta técnica poderá revelar-se mais eficaz no combate à malária. Cynthia Nanvuma, cientista da Agência Internacional de Energia Atómica, tem boas perspectivas. "Espero que possamos empregar esta técnica a uma grande escala e, em seguida, libertar milhares de mosquitos machos estéreis."

Segundo a cientista, "se tudo correr bem, poderemos ver uma queda, uma queda drástica, no número de pessoas que sofrem de doenças transmitidas por mosquitos”.

Uma pesquisa cara

O Centro de Investigação de Saúde da Manhiça, Moçambique, regista grandes avanços na pesquisa da vacina contra maláriaFoto: Nadia Issufo

Mas a pergunta impõe-se. Matar mosquitos com mais mosquitos? Jeremy Gilles, entomologista envolvido no processo, explica que no laboratório os mosquitos são separados por sexo. Os machos recebem uma radiação de cobalto que seria letal para um ser humano.

Depois são colocados em caixas onde são misturados com as fêmeas, para que se observe as tentativas de acasalamento.

“Tem-se o mosquito selvagem e tem-se o mosquito esterilizado em laboratório e põe-se os dois em competição pela fêmea. Vê-se logo quem é mais forte.”

A técnica é cara e tem riscos. Isto porque a fêmea pode detetar que o macho é estéril. A investigação continua.

Números contraditórios em Angola

A malária é a principal causa de morte em Angola. De acordoo com o representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) no país, os casos de malária, principal causa de morte no país, estão a diminuir face à introdução de políticas públicas
de saúde.

Hernando Agudelo Ospina disse, em meados deste mês, à agência de notícias Lusa que "estatisticamente há menos casos ao nível do país. Há muitas províncias, por exemplo no Cunene [sul do país], que diminuíram notavelmente."

Paradoxalmente, noutros lugares a vítimas da malária aumentam - 36 mortes em 14.630 casos são dados do Hospital Geral da Lunda Sul no primeiro semestre deste ano.

São Tomé e Príncipe no bom caminho

Foto: DW/E. Barros

A malária poderá brevemente ser erradicada da Ilha de Príncipe, a segunda maior do arquipélago de São Tomé e Príncipe.

Em 2006, a incidência anual da malária a nível nacional foi de 400 casos por 1000 habitantes, mas o último inquérito feito em 2013 o país registou 50 casos por 1000.

O secretário regional para os Assuntos Sociais e Institucionais de São Tomé e Príncipe, Fernando Pina Gil, disse que a Ilha do Príncipe e o distrito de Lembá são as regiões do país que registam os "valores mais baixos" de casos de malária, pelo que "estão em fase pré-eliminação".

Taiwan deu um grande contributo ao combate á doença. Há uma década, as autoridades são-tomenses e o Estado de Taiwan iniciaram um projeto de luta contra a doença.

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