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Cultura

"Os Dois Irmãos": Obra de Germano Almeida gera novo filme

16 de janeiro de 2019

Estreia em Portugal do novo filme de Francisco Manso "Os Dois Irmãos". O filme inspira-se numa história verídica que acontece depois da independência de Cabo Verde.

Portugal Premiere in Lissabon des Films Os dois irmãos
Foto: Take 2000

Estreia esta sexta-feira (18.01) em Portugal, distribuído por doze salas de cinema, o novo filme de Francisco Manso. "Os Dois Irmãos", a segunda produção do realizador português baseada nas obras do escritor cabo-verdiano, Germano Almeida, inspira-se numa história verídica que acontece depois da independência de Cabo Verde. 

A antestreia acontece esta noite (16.01) no Cinema São Jorge, com a presença de altas individualidades de Cabo Verde e de Portugal, nomeadamente os respetivos presidentes da República e primeiro-ministros. De acordo com o realizador, o filme reúne condições para circular em festivais internacionais e junto das comunidades cabo-verdianas espalhadas pelo mundo.

Cabo Verde, onde já fez vários trabalhos na área do cinema, é sempre a principal motivação para os dois filmes de Francisco Manso.

Depois da comédia "O Testamento do Senhor Napumoceno" (1997), eis que surge "Os Dois Irmãos", também inspirado na obra literária do escritor cabo-verdiano, Germano Almeida, Prémio Camões 2018.

Germano AlmeidaFoto: DW/J. Carlos

Desfecho trágico

Este filme, sublinha o realizador português, aborda uma questão extremamente complexa e séria, com um desfecho até trágico envolvendo um crime de honra. "É um tema forte para o qual também o cinema tem que olhar para ele", refere.

Para Francisco Manso trata-se de "uma temática que não acontece apenas em países mais ao sul, embora na bacia do Mediterrâneo seja algo que é muito transversal estas questões da honra. Isto também tem a ver com o facto de em sociedades rurais, comunidades pequenas e mais fechadas, tudo ganha uma dimensão enorme".

Francisco Manso acrescenta ainda que o que aconteceu "foi que realmente um irmão que nem sequer já vivia em Cabo Verde e que já nem estava em termos práticos com a mulher, acaba por regressar a Cabo Verde e, no fundo eu diria tem que cumprir um ritual que tem a ver com a lavagem da vergonha que caiu sobre a família e nós temos que perceber que nós somos aquilo que os outros também projetam sobre nós. E também nenhuma família conseguiria viver naquela humilhação perante a comunidade. De certa forma ele, o André, é levado a cumprir um ritual ou a seguir umas normas sociais que a nós, europeus, parecem-nos arcaicas, mas isto tem muito a ver com as culturas, tem a ver com os sentimentos, [porque], as coisas nas cidades grandes diluem-se".

Não diretamente, a narrativa acaba por tocar no caráter de Cabo Verde como um país da emigração."A diáspora cabo-verdiana ela estende-se pelo mundo inteiro e é evidente que em causa estava um jovem que vivia em Portugal, o André, que estava aqui a trabalhar e que tinha deixado a mulher em Cabo Verde e que depois o pai lhe escreve uma carta a dizer que tinha que regressar a Cabo Verde para resolver a questão. É evidente que ele acaba por ser uma espécie de vítima, se quisermos, de um conjunto de fatores que a nós, se calhar, que vivemos nestas sociedades longe do mundo rural, do mundo tradicional e muito mais pequeno onde as pessoas todas se conhecem, essas coisas ganham uma importância tremenda", afirma o realizador.

Francisco MansoFoto: DW/João Carlos

Obra de Germano inspira novamente Manso

É uma temática que, de certa forma, continua a ser atual, adianta Francisco Manso, evocando aqui o nome do escritor cabo-verdiano, Germano Almeida, cuja obra uma vez mais inspira uma produção cinematográfica.

"O Germano, ele entende e bem quanto a mim, que um livro é um livro e um filme é um filme. Evidentemente o filme inspira-se no livro do Germano, tem alguns elementos que estão para lá do que está escrito, porque estamos a falar de um filme de ficção, embora baseado em factos reais e baseado no romance do Germano. E, portanto, o Germano não quer ele próprio interferir muito na questão do argumento do filme".O filme de ficção, na perspetiva de Manso, tenta ser fiel à história expressa no livro do escritor Germano Almeida, embora considere que o excesso de fidelidade também não é bom para o cinema.

Estreia em Lisboa do filme "Os dois irmãos", baseado numa história verídica ocorrida em Cavo Verde

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"Os Dois Irmãos" é culturalmente cabo-verdiano, rodado exclusivamente com atores e uma maioria de técnicos de Cabo Verde, contando com a participação especial de Bitori Nha Bibinha, grande nome do funaná – que está também na banda sonora do filme –, juntamente com as Batucadeiras do Terreno de Orgãos e Luís Cília.

Aposta séria das autoridades de Cabo Verde

O realizador explica que o interessante neste projeto é ter sido uma aposta séria do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde e de um produtor português, a TAKE 2000, de José Mazeda.

"Eu acho que este é um exemplo do que se deve fazer, até para divulgar noutros países, não só em Portugal, nomeadamente nos países de língua portuguesa, no Brasil, etc., também o que é a cultura cabo-verdiana, quem são os atores cabo-verdianos, a música cabo-verdiana, as histórias dos atores cabo-verdianos. Acho que é uma aposta séria, é uma co-produção séria, que envolveu custos financeiros, quer de Portugal quer de Cabo Verde".

"As pessoas gostaram de trabalhar em conjunto, correu tudo muito bem", assegura satisfeito com os resultados. "Eu fiquei muito surpreendido até com a qualidade de muitos atores jovens cabo-verdianos…", "gente muito talentosa de Cabo Verde mas que não tem habitualmente oportunidades para fazer trabalhos com estas caraterísticas e que possam ter estes circuitos".

Cabo Verde tem um potencial no audiovisualPor isso, Manso espera que esta experiência sirva para que as pessoas vejam os seus atores e percebam que Cabo Verde tem um potencial enorme nesta área do audiovisual. Por outro lado, assegura, trata-se de uma produção que reúne condições para estar representado em eventos internacionais de renome na área do cinema, como acontece em fevereiro próximo no Toronto Filme Festival.

Uma cena do filme "Os Dois Irmãos"Foto: Take 2000

"Há todo um conjunto de possibilidades reais que o filme tem para circular", diz. "Já que se gastou dinheiro há todo o interesse que o filme seja visto. É esse o nosso objetivo", sublinha o realizador português que reconhece a necessidade de mais apoios para o cinema lusófono, para ir tendo cada vez mais visibilidade e penetração em mercados como o Brasil.

"Todo o cinema precisa de mais apoios, particularmente o cinema lusófono […] As apostas financeiras no cinema são extremamente importantes. Nem é possível desenvolver projetos sérios com qualidade, envolvendo técnicos, envolvendo histórias dos países, trabalho sério só é possível fazer-se havendo algum investimento. Acho que temos que acreditar no nosso trabalho, nas nossas obras, e na qualidade dos nossos produtos audiovisuais. Portanto, todas as apostas que puderem ser feitas, todos os envolvimentos que puder haver, quer das entidades públicas quer dos privados…, devem ser acarinhados".

Além disso, considera que "o audiovisual é das áreas que pode promover mais a imagem de um país", concluiu Francisco Manso.

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