Na província moçambicana da Zambézia, estudantes protestam contra o aumento das propinas na Universidade Licungo e dizem que a culpa é da descentralização. Direção afirma que o aumento foi meramente simbólico.
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As novas taxas adotadas pela direção da Universidade Licungo, na Zambézia, apanharam centenas de estudantes de surpresa e tem havido reclamações.
"Isso nunca aconteceu! Os valores subiram 100%. No ano passado, a inscrição em cada cadeira era 420 meticais [cerca de cinco euros e meio] para cadeiras atrasadas e 340 [cerca de quatro euros e meio] para cadeiras normais. Agora, as cadeiras subiram para 640 [cerca de oito euros e meio] para cadeiras normais e as atrasadas subiram para 890 [doze euros]. Houve reclamações, mas a situação ainda se mantém", contou à DW África um aluno que prefere manter o anonimato.
No país decorrem reformas em vários setores no âmbito da descentralização política. Por exemplo, a Universidade Pedagógica, com sede em Maputo, antes tinha uma série de delegações em várias províncias. Mas para descentralizar a gestão das universidades, em janeiro, o Conselho de Ministros extinguiu a instituição e criou cinco novas universidades: Licungo, Save, Pungue, Rovuma e Maputo.
Agora, os estudantes culpam a descentralização pela subida das taxas. "Isso não é descentralização, é centralização", critica outro aluno que pediu para não ser identificado. "Os valores sobem quando estamos numa situação difícil. Estamos numa província pobre, estamos a viver de aparências. O resultado será a desistência. É complicada esta situação", lamenta.
Universidade justifica-se
Em entrevista à DW África, o diretor adjunto pedagógico da Universidade Licungo, Luck Injage, reconhece a subida das taxas, mas diz que não está relacionada com a descentralização, como alegam os estudantes. "Como universidade recentemente criada, e como em qualquer outra intituição, houve necessidade de se fazer uma revisão das tabelas. Na verdade, a antiga Universidade Pedagógica era a única pública em que os valores das propinas eram bastantes acessíveis para todos. A nossa subida não foi tão alta assim como se diz", justifica.
O académico e analista político Lourindo Verde analisa as alterações: "A maioria sobrevive de recursos muito exíguos. Era nessas instituições que iam buscar a sua formação académica, a sua formação profissional. A multiplicação de medidas administrativas e financeiras em algum momento não responde à capacidade do cidadão", afirma, acrescentando que as próprias instituições não têm condições para responderem à descentralização.
Há relatos na Universidade Licungo de que alguns estudantes teriam desistido e anulado a matrícula por não terem como pagar as mensalidades e que alguns alunos foram obrigados a estudar no período da noite, contra a sua vontade. Mas o diretor pedagógico diz que não é verdade e adianta que mais reformas curriculares serão introduzidas a partir do próximo ano letivo e haverá novos cursos.
"Neste momento, estamos a finalizar os planos curriculares dos primeiros cursos que iremos abrir na Universidade Licungo em 2021. Uma das principais áreas de excelência da nossa parte são as ciências agrárias", destaca Luck Injage.
Inhambane: 20 mil alunos começam ano letivo sentados no chão
Ano letivo começa esta sexta-feira em Moçambique, mas há muitos alunos que não têm sequer uma carteira para se sentarem. Só na província de Inhambane, sul do país, são mais de 20 mil. E há salas de aula sem condições.
Foto: DW/L. da Conceicao
Aulas no chão, sem condições
Sentados no chão, sem condições mínimas para trabalhar. É assim que milhares de alunos da província de Inhambane, no sul de Moçambique, começam o ano letivo esta sexta-feira. Os alunos mais afetados são os das zonas rurais. O Governo disse que haveria novas carteiras escolares, mas entregou muito menos do que as que tinha prometido.
Foto: DW/L. da Conceicao
Chão sem cimento
Muitos alunos trazem bancos de casa para a escola, para evitarem sujar o uniforme com a areia da sala de aula. A maioria das escolas tem salas como esta: com material precário, sem chão cimentado e em avançado estado de degradação. Milhares de alunos abandonam o ensino no Inverno, por causa da falta de condições.
Foto: DW/L. da Conceicao
Carteira é só do professor?
Para muitos alunos das zonas rurais e dos bairros suburbanos, há uma pergunta que não quer calar: Por que é que o professor tem direito a uma carteira, para colocar o seu material, mas eles têm de assistir às aulas sentados no chão? Na província de Inhambane, as autoridades de educação estimam que mais de 20 mil alunos não têm carteiras escolares neste início de ano.
Foto: DW/L. da Conceicao
Onde estão as carteiras e a madeira?
O governo provincial de Inhambane entregou madeira a uma empresa da província de Sofala para produzir carteiras escolares, mas, nos últimos dois anos, só foram entregues 3.000 de um total de 10 mil carteiras encomendadas. A empresa alega que só recebeu uma parte do dinheiro da encomenda e não tem recursos para produzir mais. Entretanto, milhares de alunos esperam por um lugar para se sentar.
Foto: DW/L. da Conceicao
As promessas do governo
O setor da Educação prometeu distribuir, até finais de 2018, mais de 16 mil bancos melhorados e mais de 10 mil carteiras duplas. Mas esses bancos e carteiras ainda não chegaram. Palmira Pinto, diretora provincial da Educação e Desenvolvimento Humano em Inhambane, promete que se estão a fazer esforços para, ainda ao longo deste ano, minimizar a preocupação dos alunos que não têm carteiras.
Foto: DW/L. da Conceicao
Aulas debaixo da árvore
Algumas escolas, sobretudo escolas primárias, vêem-se obrigadas a dar aulas debaixo de árvores, porque não têm dinheiro para mandar construir salas. A situação piorou com a saída de alguns parceiros internacionais, que cooperavam diretamente com o setor da Educação em Moçambique na construção de recintos escolares.
Foto: DW/L. da Conceicao
Crise reflete-se nas escolas
Com o conflito entre as forças do Governo e o braço armado da RENAMO e a crise financeira e a descoberta das "dívidas ocultas", parceiros internacionais, que costumavam cooperar com Moçambique, deixaram de dar apoios - também na Educação. Para evitar que os alunos tenham aulas debaixo de árvores, como noutros sítios, há escolas que constroem salas com chapa de zinco. Mas faltam carteiras.
Foto: DW/L. da Conceicao
Como é que se escreve aqui?
Uma das soluções que os alunos arranjaram foi ir buscar blocos de cimento, para não se sentarem no chão. Mas os pais e encarregados de educação estão preocupados com as condições no ensino. Como é que os alunos podem aprender a escrever aqui, sem mesa - só em cima do joelho?
Foto: DW/L. da Conceicao
Escolas privadas
Devido à falta de condições, muitos pais e encarregados de educação acabam por matricular os filhos e educandos em escolas privadas. E, mesmo aqui, há queixas quanto à qualidade das carteiras escolares. Ainda assim, mais vale ter carteiras do que ter aulas no chão, pensam os pais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Buracos na sala de aula
Há escolas públicas, como esta, que estão numa fase avançada de degradação. Muitos alunos acabam por contrair doenças, devido à falta de condições. Tanto as autoridades do setor da Educação como líderes comunitários têm levado a cabo uma campanha para construir salas de aula em cada zona pedagógica.
Foto: DW/L. da Conceicao
Contributo comunitário
No âmbito da campanha, membros da comunidade têm construído salas de aula com materiais locais. Mas ainda faltam carteiras escolares, e os alunos têm de se sentar no chão ou nos blocos de cimento. Uma sala de aula acolhe cerca de 60 a 70 alunos, de uma só turma. Face a estas condições, há quem diga que, para conseguir estudar e ter sucesso na vida, é preciso ter muita força de vontade.
Foto: DW/L. da Conceicao
"O maior problema é nas escolas primárias"
Onde há mais falta de carteiras escolares é nas escolas primárias e completas, onde há um maior número de alunos, diz a diretora provincial da Educação e Desenvolvimento Humano, Palmira Pinto. Mas a província de Inhambane espera, neste ano letivo de 2019, retirar mais alunos do chão, para que eles possam assistir às aulas sentados em carteiras.