Novo estudo conclui que a presença do gigante asiático em África foi subestimada. O investimento chinês no continente é maior do que se pensava e há potencial para muito mais.
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Uma nova investigação da consultora norte-americana McKinsey & Company revela que o investimento chinês em África tem mais facetas do que estudos anteriores sugeriam.
Para este estudo, divulgado na quarta-feira (28.06), a consultora ouviu 100 líderes empresariais e de Governos africanos e mil gerentes e proprietários de empresas chinesas em oito países africanos.
A conclusão, segundo Omid Kassiri, diretor associado da McKinsey & Company, é que "há 10 mil empresas chinesas que já operam em África, quatro vezes mais do que noutras estimativas e em mais setores do que se pensava."
Kassiri diz que o investimento chinês tem sido particularmente notório ao nível do Investimento Estrangeiro Direto (IED), da transferência de tecnologia e na criação de postos de trabalho.
Uma relação para durar
As empresas chinesas parecem estar a obter bons lucros em África: Quase um quarto das mil empresas entrevistadas disse ter tido um retorno do investimento inicial ao longo do primeiro ano. Um terço das empresas registou margens de lucro de mais de 20%.
Há empresas privadas chinesas de várias dimensões a operar em setores tão diversos como a construção ou os serviços. A maioria atua na indústria.
"As empresas chinesas são responsáveis por 12% do volume da indústria africana. Na China, muitas delas têm a exportação como propósito, mas em África muitas empresas chinesas estão a atender as necessidades e o consumo domésticos", afirma Omid Kassiri.
No estudo, a maioria dos empresários mostra-se otimista quanto ao seu futuro no continente. Na última década, o comércio entre a China e o continente africano cresceu a uma média de 20 por cento ao ano. O Investimento Estrangeiro Direto cresceu ainda mais rapidamente: cerca de 40% por ano.
Potencial para mais
O estudo da consultora McKinsey & Company faz ainda recomendações para que a relação económica entre os dois lados seja sustentável.
"Quando se reconhece que a China é o único grande parceiro económico, é preciso criar uma estratégia específica", comenta Kassiri. "É necessário pensar em várias questões: Como cooperar com os chineses ao nível das infraestruturas? Ou como promover as suas próprias agendas de industrialização?"
China é o maior parceiro económico de África
O relatório aponta três grandes benefícios económicos da atividade chinesa para África: A criação de empregos e o desenvolvimento de habilidades dos funcionários locais, a transferência de conhecimento e novas tecnologias, e o financiamento e desenvolvimento de infraestruturas.
Mas tanto os Governos, como os trabalhadores africanos reconhecem a necessidade de melhorias significativas, como o aumento do abastecimento das empresas chinesas por firmas africanas, atualmente na casa dos 47%, e mais posições de gerência para os funcionários locais, atualmente na casa dos 44%.
Enquanto as empresas chinesas citam a segurança pessoal e a corrupção em alguns países como as suas principais preocupações, para os líderes africanos, as barreiras linguísticas e culturais são o problema.
Omid Kassiri, da McKinsey & Company, acredita que, apesar das divergências, o fluxo de negócios entre a China e África deve crescer ainda mais nos próximos anos: "Apesar de ter havido um boom nas atividades entre ambos os lados, acreditamos que há um espaço significativo para um aumento. Descobrimos que, atualmente, há cerca de 180 mil milhões de dólares de receitas [das empresas chinesas] nos negócios feitos no continente. Acreditamos que este valor poderá crescer para 440 mil milhões [de dólares] em 2025."
Dinheiro da China e um renascimento sobre trilhos em África
Para melhorar sua infraestrutura de transporte no exterior, a China está investindo maciçamente em África, dando uma nova vida a um velho meio de viajar.
Foto: Getty Images/AFP
O comboio rápido de Abuja a Kaduna
Desde julho, 175 quilómetros de trilhos interligam a capital da Nigéria, Abuja, ao estado de Kaduna, no norte do país. A construção custou cerca de 800 milhões de euros. O Banco de Exportação e Importação da China forneceu aproximadamente 450 milhões deste valor.
Foto: DW/U. Musa
O chefe de Estado nos trilhos
O Presidente Muhmmadu Buhari foi convidado especial na viagem inaugural do novo comboio. Um bilhete para a viagem de 2 horas e 40 minutos custará o equivalente a três euros para a classe económica e 4,25 euros para a primeira classe.
Foto: DW/U. Musa
Comboios em Addis Ababa
A primeira linha de comboio rápido na capital da Etiópia entrou em atividade em 2015. Foi construída pelo Grupo Ferroviário da China – também com financiamento da China EximBank. Até 2020, os chineses serão os responsáveis pela operação e manutenção destes comboios. Em seguida, a Etiópia Railways Corporation deve assumir.
Foto: picture-alliance/dpaMarthe van der Wolf
Interligando a África Oriental
Pelo menos 25 mil quenianos e 3 mil chineses devem participar na construção da rota de 472 quilómetros entre Mombasa e Nairobi. Cerca de 90 por cento dos custos de aproximadamente 3,6 mil milhões de euros serão financiados pela China. Mais tarde, cidades como Kampala e Juba devem ser ligadas.
Foto: Reuters/N. Khamis
Museu Ferroviário em Livingstone
O transporte ferroviário em África remonta a um longo caminho. Em 1856 a rota entre Alexandria e o Cairo foi aberta. Estima-se que estas máquinas de vapor trabalharam do início do século 20 até 1976 na Zâmbia. Agora os comboios são exibidos no Museu Ferroviário em Livingstone.
Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin
Dilapidação no final do domínio colonial
Uma série de linhas ferroviárias foram construídas pelos colonialistas em África. Os comboios transportavam matérias-primas para a costa, onde seriam então enviadas para a Europa. Muitas dessas rotas estão em ruínas. As relíquias na foto pertencem à linha ferroviária original entre Swakopmund e Walvis Bay, construída em 1914, mas substituída em 1980.
Foto: picture-alliance/Ardea/K. Terblanche
Rede ferroviária em África
Numa declaração de 2015, o Banco Africano de Desenvolvimento enfatizou a importância da ferrovia para o continente. Permite o transporte barato de mercadorias e alivia o congestionamento urbano, de acordo com o banco. O relatório também critica o mau estado das redes ferroviárias. Elas se estendem principalmente ao norte e ao sul e muitas vezes não estão ligadas entre si.
Estações fechadas serão reabertas?
À medida que as economias crescem em muitos países africanos, uma nova ênfase é dada aos melhoramentos nos transportes. Se a China e outros patrocinadores continuarem a investir, estações de comboio desertas como esta em Adis Abeba poderão funcionar novamente.
Foto: Getty Images/AFP/M. Medina
Ferrovia na África do Sul
A rede ferroviária regional de Gautrain conecta Pretória e Joanesburgo com o maior aeroporto de África. Ela deve ser ampliada dos atuais 80 para 230 quilómetros nos próximos 20 anos. Com cerca de 21 mil quilómetros de via, a África do Sul tem, de longe, a maior rede ferroviária do continente. O Sudão tem 7,3 mil quilómetros, enquanto o Egito tem 5,1 mil.
Foto: imago/ZUMA Press
Comboios franceses em Tânger
Os comboios de alta velocidade do continente estão planejados no norte. O primeiro de 12 comboios TGV franceses foram entregues em junho passado. A viagem entre Tânger e Casablanca deve levar 2 horas 10 minutos a uma velocidade de até 320 quilómetros por hora, em vez de 4 horas e 45 minutos. A linha se estenderá mais tarde à Argélia e à Tunísia.