Etiópia: 400 mil pessoas correm o risco de morrer de fome
4 de agosto de 2021A falta de medicamentos, os frequentes cortes de energia e uma grave escassez de combustíveis são apenas alguns dos muitos desafios que a população da província de Tigray, na Etiópia, tem estado a enfrentar.
A situação, diz Alyona Synenko, porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha em África, é preocupante e tende a piorar. Segundo Synenko, há cada vez mais áreas afetadas pela violência e pelos combates em curso e, por consequência, um drástico aumento de feridos.
"Isto torna-se especialmente preocupante pois, neste momento, há também muitos hospitais a sofrer de graves carências de material médico”, explica. Ela também relembra que a zona do Tigray não é a única que está afetada, o que torna a situação ainda mais preocupante.
Desalojados e em risco
Para além de ter tirado a vida a milhares de civis, a o conflito em Tigray, que se arrasta há mais de oito meses, obrigou a que mais de dois milhões de pessoas tivesse de abandonar as suas casas. Destas, a maioria procurou abrigo em comunidades de acolhimento que já por si têm recursos limitados e que estão agora a partilhar.
Segundo a ONU, mais de cinco milhões de etíopes precisam, atualmente de ajuda alimentar. E destes, 400 mil estão em risco de morrer à fome. Synenko conta que a crise e o combate têm afetado também a agricultura. "Muitos não puderam plantar as suas colheitas a tempo, porque não puderam aceder às suas terras. Além disso, já não têm acesso a créditos agrícolas", esclarece. Ela também explica que por causa da diminuição da produção, muitos só conseguem fazer uma refeição por dia.
Desintegração da Etiópia
Apesar de a 29 de junho, o primeiro-ministro Abiy Ahmed ter anunciado um cessar-fogo no conflito, o que se regista atualmente é "uma escalada” no conflito, diz Murithi Mutiga, diretor de projetos do International Crisis Group para o Corno de África.
Para além de comprometer a estabilidade da região, acrescenta, teme-se que o conflito em Tigray possa significar o fim da nação etíope.
"É um perigo para o qual muitas pessoas têm vindo a advertir e é um perigo real. Considerando o que significaria a desintegração da Etiópia, acho que todos esperam e gostariam de evitar que isso acontecesse”, elucida.
De visita à Etiópia, o secretário-geral adjunto da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, voltou a condenar, esta terça-feira, em Adis Abeba, as "perigosas" acusações do Governo etíope contra os trabalhadores humanitários que se encontram em Tigray. O mesmo responsável voltou a chamar a atenção para a situação alimentar crítica que se vive na região, estimando serem necessários em Tigray diariamente, "100 camiões de ajuda alimentar".