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PolíticaEtiópia

Etiópia aprova formação de Governo de transição em Tigray

Lusa | AFP | tms
7 de novembro de 2020

Adis Abeba poderá intervir na política regional de Tigray para substituir dissidentes acusados de "traição" após ataque à base militar. Resolução foi aprovada pelo Parlamento. Governo planea nova ofensiva na região.

Mekele, cidade na região de Tigray (Foto ilustrativa)Foto: DW/Y.G/egziabher

A resolução foi aprovada por unanimidade numa sessão extraordinária realizada na manhã deste sábado (07.11) na Câmara Alta, composta inteiramente por parlamentares da Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope (EPRDF).

A imposição de um novo Governo regional em Tigray, para onde o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou uma ofensiva militar na quarta-feira, substituiria o estabelecido em setembro passado nas eleições realizadas apenas em Tigray e que Adis Abeba considerou ilegais.

A decisão da Câmara Alta baseou-se em um dispositivo legal que permitia a intervenção federal em uma região considerada como tendo "violado a Constituição e colocado em perigo o sistema constitucional".

Parlamento etíopeFoto: Minasse Wondimu Hailu/AA/picture alliance

"A administração interina terá o mandato de conduzir uma eleição constitucionalmente aceitável e implementar as decisões aprovadas pelo governo federal", disse a Ethiopian Broadcasting Corporation (EBC).

Ofensiva militar

O primeiro-ministro etíope, que recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2019, ordenou a ofensiva militar, após acusar a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês) de atacar uma base que o exército etíope mantém em Tigray - desde o fim da guerra entre Etiópia e Eritreia em 2002 - para roubar armas, causando "mortes".

"Atacar as forças de defesa nacional é uma traição que o Governo Federal não quer perdoar", disse Abiy Ahmed, citado pela agência EFE, para justificar a operação militar que garante ter "objetivos claros, limitados e alcançáveis".

Primeiro-ministro Abiy Ahmed durante discurso ao país na quarta-feira (04.11)Foto: Ethiopia Broadcasting Corporation//REUTERS

A TPLF nega que o ataque tenha ocorrido e acusa Abiy Ahmed de inventar a história para justificar o envio de militares contra ele.

Nos últimos dias, a Força Aérea etíope bombardeou objetivos militares em torno da capital Tigrian, Mekele, nos quais "aniquilou completamente foguetes (com um alcance de até 300 quilómetros) e artilharia da fação rebelde", especificou Abiy.

Apelos internacionais

Por causa dos ataques, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a uma "desescalada imediata das tensões" no norte da Etiópia e para uma "resolução pacífica" das disputas entre as autoridades de Adis Abeba e de Tigray.

"Estou profundamente alarmado com a situação na região etíope de Tigray. A estabilidade da Etiópia é importante para todo o Corno de África", escreveu Guterres na sua conta do Twitter.

O International Crisis Group (ICG), organização independente dedicada à prevenção de conflitos, advertiu na quinta-feira à noite que "se não parasse rapidamente, o atual confronto armado (...) seria devastador, não só para a Etiópia, mas para todo o Corno de África". 

Por seu lado, a Amnistia Internacional apelou para o respeito dos direitos durante as operações militares na região.

Mais ataques

No entanto, apesar do crescente alarme internacional, o primeiro-ministro Abiy Ahmed prometeu que haverá mais ataques aéreos contra a região de Tigray para restaurar a lei e a ordem na região. "Para não causar danos colaterais, peço aos civis nas cidades que reduzam as reuniões em massa", disse o chefe de Governo etíope na sexta-feira.

A disputa entre Tigray e o Governo Federal da Etiópia intensifica-se há meses, com o atraso indefinido das eleições gerais que deveriam ter sido realizadas em agosto passado.

Após o atraso nas eleições devido à pandemia de Covid-19, a TPLF realizou as suas próprias eleições parlamentares em setembro passado, que o Governo considerou ilegais.

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