Forças de segurança etíopes mataram dezenas, diz relatório
Lusa
1 de janeiro de 2021
Confrontos que agitaram a Etiópia no verão, após morte de um popular cantor e ativista, mataram pelo menos cem pessoas. 75 foram mortas pelas forças de segurança do país, revela relatório publicado hoje (1.1).
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O documento, publicado pela Comissão de Direitos Humanos da Etiópia,conclui que ao todo 123 pessoas morreram e pelo menos 500 ficaram feridas naquele surto de violência, entre junho e julho, um dos piores nos últimos anos no país. Às forças de segurança etíopes, o relatório atribui mais de 75 mortes e 200 feridos durante os confrontos.
Para a comissão, tratou-se de "um ataque generalizado e sistemático" contra civis, que sugere a existência de crimes contra a humanidade.
Violência étnica
A violência étnica é um desafio para o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, que recebeu o Nobel da Paz em 2019. Abiy tem apelado à unidade nacional entre as mais de 80 etnias existentes no segundo país mais populoso de África, com 110 milhões de habitantes.
A violência de junho e julho foi desencadeada pelo homicídio de um popular cantor e ativista da maioria étnica oromo, Hachalu Hundessa, considerado a voz do povo oromo durante os anos de protestos antigovernamentais que em 2018 levaram ao poder o atual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, também ele oromo.
Canções de protesto político
A notícia da morte do cantor, conhecido pelas suas canções de protesto político, desencadeou uma série de manifestações, que degeneraram em confrontos com as forças de segurança.
Os confrontos de junho e julho não estão relacionados com a recente violência na região etíope de Tigray, cuja tentativa de secessão em novembro foi travada no último momento pelo Governo de Abiy Ahmed com uma guerra entre 04 e 28 de novembro.
Apesar do anúncio de Adis Abeba do fim da operação militar em 28 de novembro, os combates continuam em todo o estado do Tigray, segundo as Nações Unidas, que lamentam o facto de as autoridades etíopes estarem a restringir o seu acesso à região.
Não existe até agora qualquer balanço preciso do número de mortos e feridos resultante do conflito em Tigray. Os combates forçaram mais de 50.000 pessoas a procurar refúgio no vizinho Sudão e deslocaram mais de 63.000 pessoas dentro da região, de acordo com as Nações Unidas.
Prémio Nobel: Os representantes da Paz em África
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe o Prémio Nobel da Paz de 2019. Trata-se do décimo africano a ser reconhecido pelo trabalho de reconciliação. O Nobel da Paz foi para África pela primeira vez em 1960.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Primeiro laureado
Albert Luthuli foi o primeiro africano a receber o Prémio Nobel da Paz, em 1960, pela sua luta pacífica contra a segregação racial na África do Sul. Ele era presidente do ANC na ocasião da premiação, e o movimento de libertação funcionava na clandestinidade. Ele recebeu o prémio em Oslo um ano depois do seu nome ser escolhido, porque a proibição de deixar o país foi suspensa por dez dias.
Foto: Getty Images/Keystone/Hulton Archive
Líder espiritual
O arcebispo Desmond Tutu foi um dos líderes morais da África do Sul, com uma trajetória de defesa dos direitos humanos e contra a discriminação racial. É do religioso a expressão: "Somos uma nação arco-íris". Em 1984, o sacerdote anglicano recebeu o Prémio Nobel. Amigo de Nelson Mandela, Tutu é conhecido pelo bom humor. Um dos seus admiradores é o líder espiritual tibetano Dalai Lama.
Foto: picture-alliance/dpa
Amandla!
Esta imagem percorreu o mundo. Quando o herói anti-apartheid Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, a África do Sul prendeu a respiração. Era um momento histórico. A luta incansável de Madiba contra a opressão abriu caminho para a democracia na África do Sul. Um ano antes, Mandela recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o chefe do Governo, Fredrik Willem de Klerk.
Foto: AP
Dois adversários unidos
Coragem, paciência e perseverança conduziram estes dois homens a algo que parecia impossível. Nelson Mandela e Fredrik Willem de Klerk, então Presidente da África do Sul, receberam em conjunto o Prémio Nobel da Paz, em 1993, antes mesmo de Mandela ter sido eleito o primeiro Presidente negro. A revolução pacífica foi um sucesso, mas o processo de paz na África do Sul está longe de terminar.
Foto: AP
Pela paz em todo o mundo
Em 2001, o então secretário-geral e a instituição Nações Unidas receberam o Prémio Nobel pelo compromisso com um mundo "mais organizado e mais pacífico". A carreira brilhante de Kofi Annan tem uma ressalva, que veio à tona com as acusações de que a ONU teria sido omissa durante o genocídio no Ruanda. Annan era o chefe das Forças de Paz da ONU em 1994 e admitiu que falhou.
Foto: Reuters
Mama Miti: "A mãe das árvores"
Em 2004, uma mulher negra recebeu pela primeira vez o Prémio Nobel da Paz: Wangari Maathai. A queniana lutou pelos direitos das mulheres e contra a pobreza no seu país. Maathai foi vice-ministra do Meio Ambiente e era chamada de "Mãe das Árvores" pelo "Movimento Cinturão Verde", que ela mesma criou. Ela celebrou o prémio à sua maneira, escrevendo na sua autobiografia: "Plantei uma árvore."
Foto: Getty Images/AFP/T. Bendiksby
Três mulheres agraciadas
Em 2011, três mulheres foram laureadas em conjunto: a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf (à direita), a sua compatriota, a ativista de direitos humanos Leymah Gbowee (ao centro), e a jornalista Tawakkul Karman, do Iémen. As duas liberianas foram homenageadas pelos seus esforços para salvar o seu país da violência da guerra civil.
Foto: dapd
"Doutor Milagre"
O médico e defensor dos direitos humanos, o congolês Denis Mukwege, fez do apoio às vítimas de violência sexual o trabalho de uma vida inteira. Durante muitos anos, o ginecologista foi o cirurgião-chefe do Hospital Panzi, em Bukavu, que ele próprio fundou em 1999. Ele oferece esperança e renova a coragem das vítimas. Por isso foi premiado em 2018, juntamente com a ativista yazidi Nadia Murad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Norwegian Church Aid
Iniciativa corajosa
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, será laureado pelo empenho para a paz com a vizinha Eritreia. A insistência pela reconciliação no seu próprio país também impressionou os jurados do Prémio Nobel, apesar da concretização desse objetivo ser longa e difícil. O processo corajoso de reforma no conturbado Estado multiétnico da Etiópia impressionou o júri do prémio.