Etiópia: Mais de 150 mortos em protestos contra Governo
tms | com agências
6 de julho de 2020
Pelo menos 160 pessoas morreram nos protestos antigovernamentais da semana passada, na Etiópia, avançou o Governo. A capital e outras zonas permanecem sob forte vigilância e a Internet está bloqueada.
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A atualização do número de mortos foi divulgada este domingo (05.07). Há uma semana, protestos eclodiram em Adis Abeba e se espalharam para a região de Oromia na segunda-feira à noite, depois que o cantor e ativista de etnia oromo Hachalu Hundessa foi morto a tiros por desconhecidos. O primeiro-ministro Abiy Ahmed classificou o assassinato como "um ato maligno".
O Governo disse inicialmente que 80 pessoas foram mortas durante os protestos, que duraram dois dias. A agitação é a mais mortal desde que o primeiro-ministro, que é de origem oromo, assumiu o poder em 2018 com a promessa de amplas reformas.
Mas um alto funcionário de segurança regional disse este domingo à agência de notícias Reuters que o número de mortos era pelo menos o dobro, com 145 civis e 11 agentes de segurança mortos.
Número pode aumentar
Jibril Mohammed, chefe do Departamento de Segurança e Paz da região de Oromia, disse que mais mortes podem ser registadas devido ao número de feridos ainda em tratamento nos hospitais. Outras 10 pessoas foram mortas em Adis Abeba, disse uma fonte da polícia nacional.
Os militares, convocados para reprimir os protestos na quarta-feira da semana passada, estavam nas ruas das cidades de Oromia, disseram à Reuters dois moradores da cidade de Adama e outro da cidade de Shashemene. As autoridades bloquearam o acesso à Internet após o início dos protestos e, desde então, o bloqueio continua, relataram os moradores.
"A região (Oromia) agora está relativamente calma e não há violência ou protestos no momento. As empresas também reabriram", disse um morador à Reuters por telefone.
Justiça
A Amnistia Internacional, organização de defesa dos direitos humanos, pediu ao Governo que leve os assassinos de Haacaaluu à justiça.
Famoso por suas canções de protesto político pró-Oromia, Hachalu Hundessa, de 34 anos, foi morto a tiros no bairro Akaki Kality, na região sul de Adis Abeba. O cantor e ativista chegou a ser socorrido e levado para um hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
Embora a polícia tenha aberto uma investigação e vários suspeitos estejam sob custódia, protestos violentos de apoiadores do artista, que ficou conhecido como a trilha sonora da revolução oromo, foram repetidos em Adis Abeba e outras cidades da região de Oromia.
Entre os primeiros a serem presos, ainda na última terça, estão o líder opositor oromo, Bekele Gerba, e o conhecido ativista étnico, Jawar Mohammed, um aliado do primeiro-ministro Abiy Ahmed, mas muito crítico em relação à sua administração nos últimos meses.
Prémio Nobel: Os representantes da Paz em África
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe o Prémio Nobel da Paz de 2019. Trata-se do décimo africano a ser reconhecido pelo trabalho de reconciliação. O Nobel da Paz foi para África pela primeira vez em 1960.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Primeiro laureado
Albert Luthuli foi o primeiro africano a receber o Prémio Nobel da Paz, em 1960, pela sua luta pacífica contra a segregação racial na África do Sul. Ele era presidente do ANC na ocasião da premiação, e o movimento de libertação funcionava na clandestinidade. Ele recebeu o prémio em Oslo um ano depois do seu nome ser escolhido, porque a proibição de deixar o país foi suspensa por dez dias.
Foto: Getty Images/Keystone/Hulton Archive
Líder espiritual
O arcebispo Desmond Tutu foi um dos líderes morais da África do Sul, com uma trajetória de defesa dos direitos humanos e contra a discriminação racial. É do religioso a expressão: "Somos uma nação arco-íris". Em 1984, o sacerdote anglicano recebeu o Prémio Nobel. Amigo de Nelson Mandela, Tutu é conhecido pelo bom humor. Um dos seus admiradores é o líder espiritual tibetano Dalai Lama.
Foto: picture-alliance/dpa
Amandla!
Esta imagem percorreu o mundo. Quando o herói anti-apartheid Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, a África do Sul prendeu a respiração. Era um momento histórico. A luta incansável de Madiba contra a opressão abriu caminho para a democracia na África do Sul. Um ano antes, Mandela recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o chefe do Governo, Fredrik Willem de Klerk.
Foto: AP
Dois adversários unidos
Coragem, paciência e perseverança conduziram estes dois homens a algo que parecia impossível. Nelson Mandela e Fredrik Willem de Klerk, então Presidente da África do Sul, receberam em conjunto o Prémio Nobel da Paz, em 1993, antes mesmo de Mandela ter sido eleito o primeiro Presidente negro. A revolução pacífica foi um sucesso, mas o processo de paz na África do Sul está longe de terminar.
Foto: AP
Pela paz em todo o mundo
Em 2001, o então secretário-geral e a instituição Nações Unidas receberam o Prémio Nobel pelo compromisso com um mundo "mais organizado e mais pacífico". A carreira brilhante de Kofi Annan tem uma ressalva, que veio à tona com as acusações de que a ONU teria sido omissa durante o genocídio no Ruanda. Annan era o chefe das Forças de Paz da ONU em 1994 e admitiu que falhou.
Foto: Reuters
Mama Miti: "A mãe das árvores"
Em 2004, uma mulher negra recebeu pela primeira vez o Prémio Nobel da Paz: Wangari Maathai. A queniana lutou pelos direitos das mulheres e contra a pobreza no seu país. Maathai foi vice-ministra do Meio Ambiente e era chamada de "Mãe das Árvores" pelo "Movimento Cinturão Verde", que ela mesma criou. Ela celebrou o prémio à sua maneira, escrevendo na sua autobiografia: "Plantei uma árvore."
Foto: Getty Images/AFP/T. Bendiksby
Três mulheres agraciadas
Em 2011, três mulheres foram laureadas em conjunto: a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf (à direita), a sua compatriota, a ativista de direitos humanos Leymah Gbowee (ao centro), e a jornalista Tawakkul Karman, do Iémen. As duas liberianas foram homenageadas pelos seus esforços para salvar o seu país da violência da guerra civil.
Foto: dapd
"Doutor Milagre"
O médico e defensor dos direitos humanos, o congolês Denis Mukwege, fez do apoio às vítimas de violência sexual o trabalho de uma vida inteira. Durante muitos anos, o ginecologista foi o cirurgião-chefe do Hospital Panzi, em Bukavu, que ele próprio fundou em 1999. Ele oferece esperança e renova a coragem das vítimas. Por isso foi premiado em 2018, juntamente com a ativista yazidi Nadia Murad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Norwegian Church Aid
Iniciativa corajosa
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, será laureado pelo empenho para a paz com a vizinha Eritreia. A insistência pela reconciliação no seu próprio país também impressionou os jurados do Prémio Nobel, apesar da concretização desse objetivo ser longa e difícil. O processo corajoso de reforma no conturbado Estado multiétnico da Etiópia impressionou o júri do prémio.