Etiópia: Numerosos feridos chegam aos hospitais de Tigray
tm | com agências
30 de novembro de 2020
Após o Governo da Etiópia anunciar controlo total sobre Mekele, muitos feridos chegaram nos hospitais da capital regional do Tigray. Forças rebeldes não confirmam rendição e confirmam novos ataques.
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No norte da Etiópia, numerosos feridos chegaram este domingo (29.11) aos hospitais de Mekele, a capital do governo regional do Tigray, 24 horas após o anúncio da tomada desta cidade pelo Governo etíope.
No sábado (28.11), o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2019, assegurou a vitória militar contra as autoridades rebeldes da região, no maior acontecimento desde o início desta guerra, que já dura três semanas.
Entretanto, as autoridades rebeldes da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF) dizem que derrubaram este domingo um avião militar etíope e capturaram o piloto.
Debretsion Gebremichael, líder da TPLF, disse que as forças do governo regional retomaram a cidade de Axum e que não se renderam às forças governamentais da Etiópia. Diplomatas regionais afirmaram que foguetes foram lançados contra a Eritreia.
Falta de assistência aos refugiados
A comunidade internacional tem manifestado preocupação com as consequências para os civis da operação militar lançada a 4 de novembro pelo Governo etíope com vista à substituição das autoridades rebeldes da TPLF.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)diz que não teve acesso ao Tigray e pede que se permita assistência aos refugiados. Num pronunciamento este domingo, o Alto Comissário, Filippo Grandi, demonstrou preocupação.
"Estou muito preocupado com a situação dentro da Etiópia por duas razões. Uma delas, e que já compartilhei com outras organizações humanitárias, é que ainda não temos acesso a todas as pessoas, em particular, às pessoas recém-deslocadas pelos combates. Quero renovar aqui o nosso apelo às autoridades da Etiópia para concederem-nos acesso, porque as pessoas estão a necessitar", afirmou.
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Massacre
A TV estatal etíope(ETV) informou este domingo que 70 sepulturas, algumas individuais e outras em massa, foram encontradas na cidade de Humera, na região de Tigray, um dia depois de o Governo anunciar que as suas operações militares foram concluídas no local.
Um membro das Forças de Defesa da Etiópia relatou o que viu: "Lá, podem constatar com os próprios olhos que existem corpos de pessoas que foram mortas com as mãos amarradas para trás. Muitas atrocidades foram cometidas aqui, neste aeroporto. E poderíamos continuar a descobrir mais".
Estima-se que 44 mil etíopes tenham fugido para o vizinho Sudão. Organismos independentes relataram o massacre de pelo menos 600 civis. Tiblez Assefaw é uma etíope que fugiu para o Sudão para escapar da violência na região de Tigray. "Não como há 20 dias. Vivo apenas de água. Deixamos tudo e fugimos quando atiravam contra nós", disse.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, tem rejeitado o que chama de "quaisquer atos de ingerência indesejados e ilegais", afirmando que o seu país vai lidar com o conflito sozinho.
Prémio Nobel: Os representantes da Paz em África
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe o Prémio Nobel da Paz de 2019. Trata-se do décimo africano a ser reconhecido pelo trabalho de reconciliação. O Nobel da Paz foi para África pela primeira vez em 1960.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Primeiro laureado
Albert Luthuli foi o primeiro africano a receber o Prémio Nobel da Paz, em 1960, pela sua luta pacífica contra a segregação racial na África do Sul. Ele era presidente do ANC na ocasião da premiação, e o movimento de libertação funcionava na clandestinidade. Ele recebeu o prémio em Oslo um ano depois do seu nome ser escolhido, porque a proibição de deixar o país foi suspensa por dez dias.
Foto: Getty Images/Keystone/Hulton Archive
Líder espiritual
O arcebispo Desmond Tutu foi um dos líderes morais da África do Sul, com uma trajetória de defesa dos direitos humanos e contra a discriminação racial. É do religioso a expressão: "Somos uma nação arco-íris". Em 1984, o sacerdote anglicano recebeu o Prémio Nobel. Amigo de Nelson Mandela, Tutu é conhecido pelo bom humor. Um dos seus admiradores é o líder espiritual tibetano Dalai Lama.
Foto: picture-alliance/dpa
Amandla!
Esta imagem percorreu o mundo. Quando o herói anti-apartheid Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, a África do Sul prendeu a respiração. Era um momento histórico. A luta incansável de Madiba contra a opressão abriu caminho para a democracia na África do Sul. Um ano antes, Mandela recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o chefe do Governo, Fredrik Willem de Klerk.
Foto: AP
Dois adversários unidos
Coragem, paciência e perseverança conduziram estes dois homens a algo que parecia impossível. Nelson Mandela e Fredrik Willem de Klerk, então Presidente da África do Sul, receberam em conjunto o Prémio Nobel da Paz, em 1993, antes mesmo de Mandela ter sido eleito o primeiro Presidente negro. A revolução pacífica foi um sucesso, mas o processo de paz na África do Sul está longe de terminar.
Foto: AP
Pela paz em todo o mundo
Em 2001, o então secretário-geral e a instituição Nações Unidas receberam o Prémio Nobel pelo compromisso com um mundo "mais organizado e mais pacífico". A carreira brilhante de Kofi Annan tem uma ressalva, que veio à tona com as acusações de que a ONU teria sido omissa durante o genocídio no Ruanda. Annan era o chefe das Forças de Paz da ONU em 1994 e admitiu que falhou.
Foto: Reuters
Mama Miti: "A mãe das árvores"
Em 2004, uma mulher negra recebeu pela primeira vez o Prémio Nobel da Paz: Wangari Maathai. A queniana lutou pelos direitos das mulheres e contra a pobreza no seu país. Maathai foi vice-ministra do Meio Ambiente e era chamada de "Mãe das Árvores" pelo "Movimento Cinturão Verde", que ela mesma criou. Ela celebrou o prémio à sua maneira, escrevendo na sua autobiografia: "Plantei uma árvore."
Foto: Getty Images/AFP/T. Bendiksby
Três mulheres agraciadas
Em 2011, três mulheres foram laureadas em conjunto: a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf (à direita), a sua compatriota, a ativista de direitos humanos Leymah Gbowee (ao centro), e a jornalista Tawakkul Karman, do Iémen. As duas liberianas foram homenageadas pelos seus esforços para salvar o seu país da violência da guerra civil.
Foto: dapd
"Doutor Milagre"
O médico e defensor dos direitos humanos, o congolês Denis Mukwege, fez do apoio às vítimas de violência sexual o trabalho de uma vida inteira. Durante muitos anos, o ginecologista foi o cirurgião-chefe do Hospital Panzi, em Bukavu, que ele próprio fundou em 1999. Ele oferece esperança e renova a coragem das vítimas. Por isso foi premiado em 2018, juntamente com a ativista yazidi Nadia Murad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Norwegian Church Aid
Iniciativa corajosa
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, será laureado pelo empenho para a paz com a vizinha Eritreia. A insistência pela reconciliação no seu próprio país também impressionou os jurados do Prémio Nobel, apesar da concretização desse objetivo ser longa e difícil. O processo corajoso de reforma no conturbado Estado multiétnico da Etiópia impressionou o júri do prémio.