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ConflitosEtiópia

Etiópia: Prazo dado a rebeldes termina esta quarta-feira

Martina Schwikowski | AFP | rl
25 de novembro de 2020

Governo diz que capital de Tigray está cercada, mas rebeldes da TPLF reiteram que seu povo está "pronto para morrer". Conselho de Segurança da ONU reúne-se e expõe divisões entre africanos e europeus sobre o conflito.

Äthiopien | Videostill Ethiopian News Agency | Militär
Foto: Ethiopian News Agency/AP Photo/picture alliance

O Conselho de Segurança das Nações Unidas realizou esta terça-feira (24.11) a primeira sessão sobre a crise na Etiópia e a pressão para um cessar-fogo na região de Tigray aumentou. A reunião virtual foi posta em dúvida depois de os países africanos se retirarem. Diplomatas de França, Grã-Bretanha, Bélgica, Alemanha e Estónia acabaram por forçar as conversações a prosseguir, apoiados pelos Estados Unidos.

Desde o início do mês, os confrontos entre as forças federais e as tropas da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) já mataram centenas de pessoas e forçaram, pelo menos, 40 mil pessoas a deixarem suas residências. "A certa altura temos de o colocar na ordem do dia, mesmo que os africanos não gostem", disse um diplomata europeu à agência AFP sob condição de anonimato, salientando a crescente impaciência pela falta de ação do Conselho de Segurança sobre os combates que duraram semanas.

A União Africana, com sede em Adis Abeba, nomeou três ex-presidentes africanos como enviados especiais para mediar conversações sobre a crise. Um porta-voz etíope que lida com o conflito disse na segunda-feira, entretanto, que o Governo receberia os enviados "por uma questão de respeito", mas excluiu categoricamente negociações com a TPLF.

Crise humanitária fez Conselho de Segurança da ONU discutir o temaFoto: Ashraf Shazly/AFP/Getty Images

Expectativa de mais violência

As tropas do Governo etíope divulgaram que estão a 60 quilómetros da capital do Estado, Mekele. Tigray permanece sob blackout de comunicações e o acesso de jornalistas à região foi restringido, o que dificulta a verificação independente das versões de ambos os lados.

O Primeiro-Ministro Abiy Ahmed - ganhador do Prémio Nobel da Paz em 2019 - deu no domingo 72 horas à TPLF para se render. O ultimato foi rejeitado pelo líder da região dissidente, que disse que o seu povo está "pronto para morrer" pela sua pátria.

"A retórica altamente agressiva de ambos os lados em relação à luta por Mekelle é perigosamente provocatória e corre o risco de colocar civis já vulneráveis e assustados em grave risco", disse a chefe dos direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet.

A Amnistia Internacional exortou a Etiópia a não utilizar artilharia e bombardeamentos aéreos em Mekelle. "Atacar deliberadamente civis é proibido pelo direito humanitário internacional e constitui crime de guerra", disse Deprose Muchena, chefe do gabinete da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral.

Estratégia arriscada

Nic Cheeseman, professor de Democracia na Universidade de Birmingham, acredita que Abiy Ahmed pode estar à procura de reforçar o seu poder em todo o país. Isto porque, explica o analista, se tiver sucesso na sua luta contra o movimento rebelde, outros grupos poderão também ver nele um líder político forte.

"É possível que Abiy Ahmed possa beneficiar-se do conflito em Tigray, fazendo com que outras regiões da Etiópia fiquem sob o controlo do Governo central. Mas isso exigiria que ele conseguisse uma vitória rápida e decisiva", disse.

Ato Yesuf Yasin: "Mesmo se a TPLF for derrotada, seus ideias permanecerão"Foto: Seyoum Getu/DW

Já o escritor e analista etíope Martin Plaut teme que o conflito no Tigray possa estar longe da resolução. "Se a sua ação policial se revelar um erro, e o povo do Tigray perder as suas cidades e se retirar para as montanhas - como fez em lutas anteriores com o Governo etíope - Abiy Ahmed estará em dificuldades", diz Plaut.

Para o analista, os últimos anos de conflitos com o Governo etíope deram aos combatentes da TPLF experiência de guerrilha, e o resultado do conflito atual dependerá da capacidade dos rebeldes de conseguir armas, comida e outros produtos e resistir. Neste cenário, acrescenta Cheesemandiz, Ahmed seria visto como um estadista incompetente, o que abriria a possibilidade de líderes rebeldes de outras regiões insurgissem-se.

O analista etíope Ato Yesuf Yasin acredita que a paz no país pode estar comprometida. "Mesmo que este conflito ponha fim à TPLF, as ideologias - em particular o conceito de identidade étnica e as rivalidades conexas - que a TPLF difundiu nos 46 anos da sua existência continuarão durante anos, tal como as feridas da guerra".

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