Etiópia: Referendo decide por independência da região Sidama
AFP | DPA | Reuters | cvt
23 de novembro de 2019
Membros do grupo étnico Sidama votaram massivamente a favor da criação de uma região autónoma. Segundo resultados divulgados este sábado (23.11), cerca de 98,5% optaram pelo governo autônomo. Afluência foi de 99,8%.
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Moradores da zona de Sidama, que faz parte da Região das Nações do Sul, Nacionalidades e Povos (SNNPR), votaram massivamente a favor da criação de uma nova região federal. Cerca de 98,5% optaram pelo governo autônomo, informou a junta eleitoral do país. O comparecimento dos eleitores foi de 99,8%.
Os resultados oficiais preliminares de um referendo realizado na passada quarta-feira (20.11)foram divulgados pelo vice-chefe do Conselho Nacional Eleitoral, Wubshet Ayele, na capital regional, Hawassa, cerca de 200 quilômetros ao sul de Adis Abeba.
"A votação de 20 de novembro foi pacífica e não houve grandes desafios logísticos, embora em alguns lugares houvesse filas de eleitores maiores do que as projetadas", disse Ayele.
Ao criar a sua própria região federal, o povo Sidama - a quinta etnia mais numerosa da Etiópia - espera recuperar o controle dos recursos fundiários, a representação política, bem como reafirmar a sua identidade cultural.
Longo caminho para a independência
A zona de Sidama, na Etiópia, onde vivem cerca de quatro milhões de habitantes, faz parte da Região das Nações do Sul, Nacionalidades e Povos (SNNPR), onde vivem mais de 40 grupos étnicos.
Há décadas que os membros da etnia Sidama anseiam por se libertarem da SNNPR e conquistarem a independência regional, um direito consagrado na Constituição. Mas anos de governo autocrático impossibilitaram o cumprimento desta disposição.
Mudança rápida
O resultado divulgado este sábado abre caminho para que Sidama se torne o 10º estado da Etiópia, mas também pode servir de inspiração para outros grupos étnicos interessados em conquistar a sua própria autonomia.
O primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed Ali disse que o movimento foi uma "expressão do caminho de democratização que a Etiópia empreendeu".
A Etiópia, que já foi uma das nações mais repressivas da África, vem passando por mudanças rápidas desde que a Abiy foi nomeado no ano passado, prometendo forjar uma sociedade mais aberta.
A Etiópia enfrenta uma das piores crises de desalojados do mundo - cerca de três milhões de pessoas no país fugiram das suas casas nos últimos anos.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Recomeçar
As autoridades começaram a fazer retornar à casa algumas das centenas de milhares de membros do grupo étnico Gedeo que fugiram dos ataques na região de Oromia, sul da Etiópia. Mas organizações humanitárias acusam o Governo de forçar os Gedeos a regressarem às aldeias onde perderam tudo e continuam a não sentir-se seguros.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Escassez de terra
Há cerca de dois meses, as estradas de Hinche - junto das colinas verdes da zona de Guji Ocidental - estavam vazias. Agora, quase todos da etnia Gedeo que viviam aqui regressaram, depois de fugir da violência étnica no ano passado. Guji Ocidental é parte da região de Oromia, e casa para a maior parte da etnia Oromo. O longo conflito etnico é principalmente por causa da posse de terra.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Acusações de retorno forçado
Os residentes de Hinche, bem como outros Gedeos, não tiveram outra escolha se não regressar às suas aldeias, depois de o Governo ter destruído os campos de desalojados e limitado a ajuda humanitária na zona Gedeo. Observadores acusam as autoridades de organizar retornos forçados, que entendem que irão agravar a já tensa situação.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Casas saqueadas e destruídas
Zele está contente por regressar a casa com a sua esposa e os seus seis filhos. Contudo, a vida aqui em Hinche é muito difícil, especialmente quando começa a época chuvosa. A casa de Zele foi destruída e os seus bens roubados durante a violência, então ele construiu o seu abrigo. A família vive de ajuda mensal de cerca de 40kg de grãos e dois litros de óleo.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Medo de mais ataques
Muitos dos retornados são agricultores, mas não conseguiram cultivar as suas terras desde que regressaram. Dingete agora trabalha como diarista em outra propriedade para alimentar os seus filhos. "A nossa quinta é longe daqui e estou com medo de lá ir, porque algumas pessoas disseram que viram grupos armados Oromo na região", disse ela.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Esforços de reconciliação
As autoridades locais dizem que a segurança não é problema. Dizem que as milícias e as comunidades estão a trabalhar em conjunto para identificar os malfeitores. "Gedeos e Oromos acreditam que somos irmãos e que vivemos juntos. Eles têm os mesmos valores, o mesmo mercado, casam entre eles", diz Aberra Buno, o administrador da zona Ocidental de Guji.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Fraqueza da Justiça
Vários Gedeos estão frustrados com o que entedem ser a fraca atuação da Justça. Em Cherqo, mais de mil pessoas fugiram e quase todas as casas foram destruídas. "Aqueles que cometeram essas coisas não foram presos ou enfrentaram a Justiça - nem uma única pessoa foi capturada", diz Abebe, administrador de Cherqo. A Polícia de Guji diz que já deteve mais de 200 pessoas no contexto da violência.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Esquecimento
As autoridades dizem ter trazido de volta quase 100% dos desalojados resultantes dos conflitos entre Gedeos e Gujis, grupo pertencente à etnia Oromo. Contudo, milhares de pessoas originárias de Guji Oriental continuam a viver na zona Gedeo, aparentemente esquecida. A ajuda alimentar parou de chegar há cerca de dois meses. Centenas de crianças vivem em condições alarmantes e não vão a escola.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Doenças e má nutrição
"Estamos a morrer a fome, as pessoas morrem de diarreia, as nossas crianças têm de sair a rua para apanhar comida no lixo e trazer para as suas famílias", diz Almaz, que vive neste campo em Dilla na zona Gedeo há mais de um ano.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
A ajuda alimentar parou
As autoridades da zona Gedeo dizem que solicitaram comida ao Governo Federal e então poderão enviar as famílias para Guji Oriental. Mas vários Gedeos não se sentem seguros para voltar. Houve diversos relatos de assassinatos étnicos de Gedeos em Guji Oriental em finais de maio.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Estatísticas incompletas
Organizações humanitárias dizem que os Gedeos que fugiram das suas casas em Guji Ocidental estão a viver em assentamentos informais ou a alugar casas. Esnfrentam dificuldades em monitorá-los e o grupo não aparece nas estatísticas oficiais. Os Gedeos também não recebem nenhuma ajuda.