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PolíticaEtiópia

Eleições no Tigray: Há perigo de secessão na Etiópia?

Henry-Laur Allik | Reuters
9 de setembro de 2020

O escrutínio desta quarta-feira (09.09) desrespeita a decisão de Adis Abeba de adiar as eleições gerais e regionais devido à pandemia de Covid-19. Frente que governa a região espera não haver interferências.

Foto: DW/M. Haileselassie

Mesmo depois de a Casa da Federação da Etiópia ter declarado, no sábado, esta eleição "inconstitucional",  a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), que dirige a região e que estava em maioria na anterior coligação governamental, vai prosseguir com o escrutínio. 

Isso mesmo garantiu à Reuters, na noite desta terça-feira (08.09), o chefe da comissão eleitoral do Tigray, Muluwork Kidanemariam, que disse esperar "que o Governo federal não interfira".

As autoridades têm estado a pressionar a imprensa nacional para não cobrir o escrutínio. Na segunda-feira, agentes dos serviços secretos impediram vários jornalistas de embarcar num voo de Adis Abeba com destino a Mekelle, capital da região norte do Tigray.

Direito de autoadministração

No entanto, à DW, Leake Zegeye, residente em Mekelle, diz que "esta é uma forma de mostrar ao mundo e à Etiópia que estamos a ajudar a garantir os nossos direitos de autoadministração". "Portanto, penso que esta eleição pode ser descrita como a tomada de posição inabalável do Tigray face à autoadministração e à democracia", defende.

Tanto o Governo do primeiro-ministro Abyi Ahmed como a Frente Popular de Libertação do Tigray dizem estar a seguir a Constituição da Etiópia e o Estado de direito. Mas, para o cientista político do Tigray, Yemane Zerai, os argumentos legais são um ponto discutível.

A campanha eleitoral em Mekelle prosseguiu desafiando Adis AbebaFoto: DW/M. Hailesillassie

"As relações políticas determinarão a relação [futura entre as partes], que poderá ser de coexistência pacífica ou de desintegração total, o que pode levar à desintegração do Estado etíope, ou pelo menos à separação deste Estado", explica.

Relações

As relações entre o Governo central e as autoridades da região do Tigray têm vindo a deteriorar-se desde a tomada de posse de Abyi Ahmed, em 2018. Mas as tensões intensificaram-se desde que o TPLF se recusou a aderir ao Partido da Prosperidade, criado pelo primeiro-ministro no ano passado.

Quando confrontado, no mês passado, com a intenção da região em seguir em frente com a eleição de uma nova administração regional, Abyi Ahmed excluiu a possibilidade de uma intervenção militar ou de cortes orçamentais, mas garantiu que haverá consequências para a região.

Também em entrevista à DW, o analista Jan Abbink diz não acreditar numa intervenção militar por parte do Governo central. "Conhecendo os objetivos da liderança e o estilo do primeiro-ministro Abiy Ahmed, é pouco provável que ele o faça. Ele tentará manter o diálogo".

No entanto, acrescenta o mesmo analista, "pode muito bem acontecer que outras regiões" sigam o exemplo do Tigray. "Isto não se aplica à maioria dos aliados de Abiy Ahmed no Governo, mas aos que podemos chamar de etno-nacionalistas, há alguns nas regiões de Oromia e Amhara, que realmente querem aumentar a autonomia e podem exercer pressão sobre o Governo".

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