Etiópia: telefone mais simples, a escolha mais inteligente?
Erago Tesfalem | mm
1 de março de 2017
O World Mobile Congress, a maior feira de telemóveis do mundo, decorre em Barcelona, Espanha. Entre as novidades, o regresso do Nokia 3310. Telemóveis simples estão entre os preferidos em África: são robustos e baratos.
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Melaketsehay Melese tem 33 anos e vive em Addis Abeba, capital da Etiópia. É conhecido entre amigos e colegas por ser um especialista em tecnologia. Como tem dois trabalhos, como designer gráfico e programador informático, está familiarizado com as mais recentes novidades do setor. Frequentemente é visto a utilizar o tablet para pesquisar na internet. Mas o espanto é quando mostra o seu telemóvel.
Ao contrário dos amigos e colegas, Melaketsehay Melese não optou por um smartphone elegante e leve. O telefone nem parece ser de uma marca conhecida. Tem apenas as funções básicas de um telefone: fazer chamadas e enviar mensagens. O telefone permite ainda utilizar dois cartões SIM.
Resistência
Para os profissionais em Addis Abeba como Melese, os telemóveis, de forma geral, são mais do que um meio de comunicação. São também um símbolo de posição social. Mas apesar da pressão, Melese está a rumar contra a maré com o seu telefone. Uma escolha para a qual tem razões simples."Pode funcionar muitos dias sem ser preciso carregar. A bateria é melhor. É resistente e pode sobreviver a quedas", explicou à DW.
Na Etiópia, a rede móvel é irregular e também há falhas de energia com frequência. Nestas situações, os aparelhos mais simples podem ser mais confiáveis. "Mesmo com estes dois obstáculos, o telefone permite comunicar", afirma Melese.
Nas zonas rurais da Etiópia, onde os cortes de energia e os problemas de rede são mais comuns do que na cidade, não demorou muito para que os telemóveis, que têm mais funcionalidades para além de fazer telefonemas ou enviar mensagens escritas, se tornassem populares. Mesmo os agricultores, que não têm eletricidade nas suas aldeias, estão ansiosos por comprar telefones. Uma vez carregada a bateria numa cidade próxima, os telemóveis podem ser usados por duas a três semanas.
Estes aparelhos podem ser ainda uma fonte de luz elétrica depois de escurecer. Os rádios também funcionam bem e alguns aparelhos permitem mesmo aceder à internet.
Além de todos estes benefícios, são aparelhos baratos. De acordo com os vendedores, estes telefones podem custar entre 400 birr (o equivalente a 17 euros) e 600 birr (25 euros). Os modelos melhores podem custar apenas 1000 birr (40 euros).
Na Etiópia, 80% da população, estimada em cerca de 100 milhões, vive nas zonas rurais. Por isso, o custo dos aparelhos é um factor importante a ter em consideração no momento da compra.
Ali Hussein é proprietário de uma loja de telemóveis e acessórios, na cidade de Dessie, a cerca de 400 quilómetros a norte de Addis Abeba. Conta que há uma grande procura destes telemóveis por parte dos residentes das zonas rurais.
"As vendas são melhores. Porquê? Porque tem melhores serviços. Apesar da qualidade se ter tornado baixa, atualmente tem mais consumidores do que outros produtos. Os consumidores pedem-no", explica Hussein.
15%da população temsmartphone
Este tipo de telefone não é apenas popular na Etiópia, mas também na África subsaariana.
Segundo um estudo realizado pelo Centro Pew em sete países subsaarianos em abril de 2015, apenas 15% da população possui um smartphone, enquanto 65% das pessoas têm um telemóvel com funcionalidades mais básicas.
Nas zonas urbanas da Etiópia, muitos usam estes telefones como segundo aparelho. Comerciantes, condutores, trabalhadores de organizações não-governamentais e aqueles que realizam trabalho de campo preferem esses telemóveis como reserva.
Os fãs de smartphone têm sido conhecidos por gozar com estes aparelhos, referindo-se a eles como walkie-talkies. Aparelhos que eram volumosos e tinham duas vias de rádio - foram usados pela primeira vez durante a Segunda Guerra Mundial.
Outros apelidaram estes telefones de Dangote, em associação aos sacos de cimento produzidos pela companhia do bilionário Aliko Dangote.
Melaketsehay Melese encolhe os ombros face aos comentários que ouve sobre a dimensão do seu telefone preferido.
"O volume não me envergonha. Se alguém se esquecer dele em algum lugar, vai lembrar-se de imediato, porque vai sentir que o bolso ou o saco está mais leve. Portanto, nunca o perdi", observa Melese.
30 anos do telemóvel - o sucesso em África
O telemóvel completa 30 anos em 2013. Em África, a revolução móvel mudou o cotidiano. Um em cada dois africanos tem um telemóvel. Em nenhum lugar do mundo, o número de usuários cresce tão rapidamente.
Foto: picture-alliance/dpa
Conectando povos através de mensagens escritas
O telemóvel completou 30 anos em 2013. Em África, a revolução móvel mudou o cotidiano de meio bilhão de usuários. Entre os Maasai, do sul do Quênia e norte da Tanzânia, a comunicação com os anciãos é feita por SMS (mensagens escritas de telemóvel).
Foto: picture-alliance/Ton Koene
O boom do telemóvel em África
545 milhões – um em cada dois africanos tem um telemóvel. Em nenhum lugar do mundo, o número de usuários cresce tão rapidamente como em África - aumentou mais de seis vezes, desde 2005. Os aparelhos estão à venda em quase todos os lugares, até mesmo às margens da estrada, como se vê em Moçambique (foto de Chimoio, Manica). A maioria dos africanos usa o telemóvel com contrato sem tarifa fixa.
Foto: DW/Johannes Beck
Revolução móvel
Atualmente, apenas 12 milhões de africanos têm um telefone fixo. Muito mais africanos têm um telefone móvel. Exatamente onde a infraestrutura é deficiente, os telemóveis são um ajuda importante para que pacientes alcancem seus médicos e se informem sobre as medicações. Quem não tem uma conta bancária, pode transferir dinheiro por meio do telemóvel.
Foto: Getty Images
Mais lucro graças ao telemóvel
Por meio da telefonia celular, os agricultores podem verificar os preços atuais de seus produtos no mercado e, assim, vendê-los com maior lucro. Também dados meteorológicos podem ser acessados, o que permite planejar melhor a semeadura e acolheita ou a armazenagem de produtos agrícolas. Graças ao telemóvel, fornecedores e clientes estão mais conectados. Às vezes, um bom negócio é selado por SMS.
Foto: picture-alliance/Ton Koene
O primeiro telemóvel
O primeiro telefone portátil - o protótipo DynaTAC – foi apresentado por Martin Cooper, ex-vice-presidente da Motorola, em 1973. Mas apenas 10 anos depois, em 21 de setembro de 1983, o aparelho começou a ser vendido. Ele pesava menos de um quilo, o que foi revolucionário na época. Menos revolucionário era, entretanto, o preço: custava cerca de 4.000 dólares americanos.
Foto: picture-alliance/dpa
O fenómeno do SMS
Em 1994, foi introduzido o Serviço de Mensagens Curtas (SMS, na sigla em inglês). Originalmente, foi concebido para enviar mensagens sobre a má recepção ou interrupções de rede para os clientes. Mas, a mensagem de 160 caracteres tornou-se rapidamente o serviço mais popular da telefonia móvel. Muitos jovens criaram abreviações como "lol" ("laughing out loud" ou “rindo alto”, na tradução literal).
Foto: DW/Brunsmann
Os primeiros telefones com acesso à Internet
Em 1999, o Nokia 7110, foi o primeiro telemóvel com Protocolo para Aplicações sem Fio (WAP, na sigla em inglês). Com ele, os usuários passaram a ter acesso à internet móvel. Oferecia apenas uma simplificada versão de texto da Web, mas significou um passo revolucionário para a Internet móvel. Seguiram-se modelos similares, que condensavam as funções de telemóvel, pager e fax em um único aparelho.
Foto: imago
Uma nova era
Em 2007, o primeiro iPhone da Apple causou uma nova revolução no mercado da telefonia móvel. Não era o primeiro smartphone, mas foi o primeiro a ter uma interface amigável. Mais tarde, foi adaptado para a tecnologia 3G, disponível desde 2001.
Foto: imago
Visão futurista
A tecnologia LTE é uma preparação para a ainda mais poderosa quarta geração da telefonia móvel. Em breve, casa, carro e escritório podem ser controláveis por meio do telemóvel. Mesmo os avanços do smartphone ainda não chegaram ao fim. O pagamento de contas por telefone e o controle por meio dos movimentos oculares já estão em desenvolvimento.
Foto: picture-alliance/dpa
Banco móvel
Em África, as transferências de dinheiro por telemóveis já fazem parte do dia a dia há muito tempo. O sistema queniano M-PESA torna possível enviar valores mesmo sem uma conta bancária, a baixo custo e com conforto - a partir de casa ou da rua. Atualmente, milhões de pessoas usam o M-PESA. Agora, o sistema começa a ser introduzido também na Europa.
Foto: Getty Images
A vida sem sinal
Telefonar – isso ainda não é fácil em lugares como o vilarejo de Nqileni, na África do Sul. Este é o único lugar em todo o povoado, onde o sinal de recepção do telemóvel é estável. Por isso, um suporte foi planejado junto com a construção da cabana. Também os vizinhos vêm e depositam seus telemóveis ali. Alguém está sempre por perto para assumir o serviço de telefonia.
Foto: DW/C. Stäcker
Estar tecnicamente preparado
"Usuários da telefonia móvel" não é um tópico escolar reconhecido na Libéria. Mas, claro, se quer aprender a utilizar os telemóveis corretamente. Nesta escola em Bensonville, o professor explica com clareza. Seus alunos devem aprender desde cedo a aproveitar as vantagens que o telemóvel oferece.