A Etiópia está num momento de renovação política e social. Desde que assumiu o poder, a 2 de abril de 2018, o primeiro-ministro Abiy Ahmed tem promovido diversas reformas e aberto o país a uma nova mentalidade.
Publicidade
A Etiópia está numa fase de viragem. Desde que assumiu o poder, a 2 de abril de 2018, o primeiro-ministro Abiy Ahmed empreendeu grandes mudanças: fez um acordo de paz com a vizinha Eritreia, promoveu reformas económicas e manteve conversações de reconciliação com a oposição. Abiy conseguiu tudo isso em apenas um ano, mas enfrenta fortes ventos contrários vindos dos seus opositores políticos.
No seu discurso de empossamento, Abiy prometeu reformas no sistema judicial e político. Ele foi elogiado pela decisão de libertar centenas de presos políticos, jornalistas e ativistas, bem como por convidar os políticos da oposição no estrangeiro a regressarem ao país. A abertura que o seu Governo deu às esferas políticas e a mediáticas são vistas como um progresso. Kjetil Tronvoll, professor de estudos de paz e conflitos na Universidade Bjørknes de Oslo, na Noruega, reconhece "ele desconectou o Estado autoritário e permitiu a diversidade de opiniões"
Abertura Política
Jornais e revistas que publicam opiniões estão agora disponíveis nas ruas de Addis Abeba. Os jornais eletrónicos multiplicaram-se como plataformas de diálogo e os políticos organizam-se de forma livre e aberta. Por mais de duas décadas não houve espaço para isso.Merera Gudina, presidente do Medrek, partido multi-étnico da oposição e professor de ciências políticas e relações internacionais na Universidade de Addis Abeba pensa que Abiy merece nota positiva por ter emendado a legislação repressiva. Contudo, lamenta "falta um cronograma para as eleições de 2020 e falta de consenso nacional entre partidos políticos."
Etiópia: Um ano do primeiro-ministro Abiy Ahmed e a liberalização do país
No passado mês de Dezembro no seu relatório sobre as desigualdades na celebração do 70º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, a Amnistia Internacional salientou o progresso feito na Etiópia desde a eleição do primeiro-ministro Ahmed. Contudo também notou que cerca de 3 mil jovens foram presos no passado mês de Setembro, muitas vezes arbitrariamente, devido ao aumento da criminalidade.
Indefinição estratégica
Entretanto, o Governo adiou o recenseamento [eleitoral] previsto para este mês de abril por causa dos conflitos étnicos, do deslocamento de pessoas e da instabilidade. Isso desencadeou reações diversas, enquanto Tronvoll pensa que um adiamento das eleições pode determinar a continuidade do conflito, Merera argumenta que um adiamento terá um maior impacto sobre as eleições de maio de 2020 e poderá mesmo por em causa o processo.Para além da indefinição sobre a data das eleições, outro desafio para Abiy é a proliferação dos partidos políticos, que são mais de cem. O primeiro-ministro sugeriu que se coligassem, entendendo que entre três a seis é o suficiente.
Quanto à política externa de Abiy, logo no início de seu mandato foi bastante elogiada. Ele pôs fim à tensão com a vizinha Eritreia, país que esteve em guerra de fronteira com a Etiópia de 1998 a 2000. Abiy também encontrou-se com o líder eritreu, Isais Afewerki, um diálogo apoiado pelos países vizinhos Sudão, Somália e Djibuti. No entanto, esses passos ainda não são suficientes, entende Tronvoll. "O processo eritreu carece de um quadro legal. Há uma declaração de intenções assinada em Asmara em Julho de 2018 e mais tarde em Jeddah, mas estes não são documentos legais vinculativos. É preciso um novo acordo que regule o comércio, tarifas, moeda, cidadania, segurança."
Abiymania
O fenómeno conhecido como 'Abiymania' continuava muito evidente quando o primeiro-ministro visitou a Alemanha em Outubro de 2018. 20, 000 etíopes a viver no exílio juntaram-se na cidade de Frankfurt para celebrar o novo líder. Desde então, muita dessa euforia dissipou-se.
Merkato de Addis Abeba: O maior mercado de África
O Merkato de Addis Abeba é o maior mercado ao ar livre de todo o continente africano. Café, especiarias e burros: na capital etíope é possível comprar ou vender praticamente tudo.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
O maior mercado da Etiópia
O Merkato de Addis Abeba é o maior mercado ao ar livre de África e o orgulho da capital etíope. Criado durante a ocupação italiana, na década de 1930, é um lugar tipicamente etíope, marcado por contrastes de cheiros, produtos, cores e personalidades.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
"Merkato Indigeno"
O mercado foi concebido por italianos que ocuparam a Etiópia após a guerra Ítalo-Etíope de 1935. Addis Abeba já era o centro comercial do país desde o final do século XIX e os italianos queriam consolidar ainda mais essa topografia comercial centralizada. Substituíram o mercado, que hoje ocupa a área da "Piazza", pelo que chamavam de "Merkato Indigeno".
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Centro comercial italiano na África Oriental
Os italianos queriam acabar com o domínio dos comerciantes estrangeiros e estabelecer um monopólio comercial estatal. Naquela época, os árabes que ocupavam o território do atual Iémen competiam com os comerciantes do povo etíope Gurage. O Merkato de Addis, também conhecido como "Addis Ketema", é hoje um importante centro para os empresários etíopes.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Uma cidade dentro da cidade
Desde comida e bebida até cadeiras, serras, sapatos, cobertores ou fogões: encontra-se praticamente de tudo no Merkato. São 7.100 empresas que empregam cerca de 13.000 pessoas. Além disso, há milhares de barracas informais e uma economia paralela própria em pleno mercado. A dimensão exata de toda a área é desconhecida, mas muitos especialistas dizem que é o maior mercado da África.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Produto de exportação número 1 da Etiópia
O Merkato também é uma vitrine da economia etíope. Há aqui muitas lojas que vendem café em grão. O café é o produto de exportação mais importante da Etiópia - representa cerca de mil milhões de euros por ano. Nos últimos meses, o preço do café caiu de forma inesperada e afetou principalmente os pequenos agricultores, que ganham apenas alguns cêntimos por chávena.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Psicotrópico popular
Há uma rua inteira no Merkato reservada para vendas de khat. As folhas de khat são mastigadas devido às suas propriedades estimulantes. É uma droga popular na Etiópia e nos países vizinhos. O psicotrópico é outro produto de exportação importante. Embora o consumo de khat tenha efeitos negativos para a saúde, ainda é legal devido à sua importância económica.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Bem temperado
As especiarias ocupam um lugar importante no mercado - tal como na culinária etíope. Os clientes podem tocar ou cheirar as especiarias antes de comprá-las. As especiarias são usadas na preparação dos vários molhos tradicionais, que são comidos com o pão típico "injera".
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Oito milhões de burros
Na Etiópia há cerca de oito milhões de burros, os animais de carga preferidos no país. É normal vé-los no Merkato, carregados de mercadorias. Muitos têm ferimentos por causa dos fardos que carregam. Muitos burros velhos ou gravemente feridos são abandonados nos arredores das cidades. Apesar dos programas de sensibilização para melhorar a vida dos animais, ainda há um longo caminho a percorrer.
Foto: DW/M. Gerth-Niculescu
Montanhas de lixo para reciclar
Eliminação e reutilização de resíduos ainda são termos desconhecidos em muitas regiões da Etiópia. No Merkato, a reciclagem informal está a crescer, mas mais por razões económicas do que por razões ecológicas. Pilhas gigantes de recipientes de plástico, sacos e embalagens são recolhidos e vendidos novamente.