Segundo o Governo, o bloqueio tem como objetivo evitar a partilha na internet dos exames nacionais do secundário, como já aconteceu. A Etiópia é um dos países recordistas no que diz respeito à censura da internet.
Publicidade
O apagão da internet em todo o país começou na terça-feira (30.05.). O serviço de internet na Etiópia está inteiramente nas mãos da Ethio Telecom, fornecedora estatal de telecomunicações. Esta é a terceira vez num ano que a Ethio Telecom repete o bloqueio.
Segundo o blogger etíope Daniel Birhane, o apagão deixou poucas empresas e organizações online – apenas as que têm meios alternativos de conetividade como a comunicação via satélite. Na capital, Addis Abeba, estão sediadas a União Africana e a Comissão Económica da ONU para África.
Responsáveis de ambas as instituições afirmaram que o seu acesso à internet foi cortado, tendo voltado depois. No entanto, na quinta-feira à tarde (01.06), muitos etíopes continuavam sem conseguir comunicar. "Não são apenas os serviços de internet móvel que estão cortados, mas também os fixos. Não consigo monitorizar o meu próprio site, as plataformas de social media ou abrir emails. É realmente complicado”, afirma Birhane, em entrevista à DW.
De acordo com o Google, dados preliminares sugerem que houve, de facto, uma grande queda no tráfego da internet na Etiópia desde quarta-feira à tarde (31.05). Birhane afirma que este é um corte que era desnecessário e que viola os direitos digitais dos etíopes. "Os ciber-cafes estão fechados. Às vezes eu sinto-me como se estivesse como há quinze anos atrás . Alguma coisa precisa ser feita”, afirma.
A Etiópia tem vindo a censurar a internet no país há mais de uma década. As redes sociais como o Facebook e o Twitter têm vindo a ser bloqueadas desde o final do ano passado. No mês passado, um tribunal etíope condenou o político da oposição Yonatan Tesfaye a seis anos e meio de prisão por, alegadamente, ter criticado o governo através de um post no seu Facebook.
A Etiópia, que tem uma das menores taxas de conetividade no mundo, foi um dos primeiros países a censurar a internet para reduzir os protestos políticos. Desde novembro de 2015, mais de 500 manifestantes contra o governo foram mortos e milhares foram presos enquanto reivindicavam a reforma agrária e o fim da violação dos direitos humanos.
No ano passado, ativistas partilharam os exames do 12º ano na internet e apelaram ao adiamento das provas, devido ao encerramento de uma escola do estado regional de Oromia. Mohammed Negash, do serviço amárico da DW, afirma que as medidas tomadas visam a prevenção da ocorrência de um incidente semelhante. Negash espera que esta seja apenas uma medida temporária e que as coisas voltem ao normal depois de terminados os exames.
O Governo, através do seu diretor de relações pública, Mohammed Seid, afirma que o movimento foi "pró-ativo”. Em entrevista à Reuters, este responsável afirmou: "Queremos que os nossos estudantes se concentrem e estejam livres de pressão psicológica e distração [que a internet traz].
Cerca de 1,2 milhões de estudantes do ensino secundário estão, atualmente, a fazer exames nacionais. Outros 288 mil jovens preparam-se para os exames de admissão à universidade, que decorrem na próxima semana.
O governo da Argélia tomou uma decisão semelhante quando, em 2016, bloqueou as redes sociais para evitar "batota” nos exames nacionais do ensino secundário.
Jejum voluntário na Etiópia, país assolado pela fome
A Etiópia é um dos países mais religiosos do mundo. Os cristãos ortodoxos jejuam sete vezes por ano e até usam tatuagens religiosas. Numa nação politicamente conturbada, as pessoas estão "rezando mais do que nunca".
Foto: DW/J. Jeffrey
Sete períodos de jejum
Durante a Quaresma, período de preparação para a Páscoa, os cristãos ortodoxos etíopes jejuam por 55 dias consecutivos (católicos jejuam por 40 dias). Ao longo do ano há sete períodos designados de jejum. Os mais fervorosos jejuam por cerca de 165 a 250 dias. Isso inclui abstenção de todos os produtos animais – carne, laticínios e ovos – todas as quartas e sextas-feiras.
Foto: DW/J. Jeffrey
Regras rígidas
Cinzas são preparadas em uma igreja em Gonder para marcar cruzes nas testas dos fiéis. Além da proibição de produtos de origem animal para o jejum atual de 55 dias, os cristãos ortodoxos da Etiópia não podem comer ou beber nada até às 15 horas. Alguns param de escovar os dentes, temendo quebrar o jejum engolindo sangue das gengivas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Fé e espiritualidade
Para os etíopes, a religião e o jejum habitam um reino de fé e espiritualidade que muitos no Ocidente não podem compreender hoje em dia. "A teologia oficial ensina que o jejum é necessário para se aproximar de Deus reprimindo a carne", diz Makonnen, um diácono da Igreja Ortodoxa. "Para ser plenamente humano, você precisa de um equilíbrio entre espírito e corpo".
Foto: DW/J. Jeffrey
Exigências da fé cristã
Algumas restrições de jejum incluem álcool e até mesmo o que pode acontecer dentro do quarto. A doutrina da Igreja não proíbe as relações sexuais durante os jejuns, nem o álcool. Mas os cristãos ortodoxos etíopes voluntariamente aderiram a um teste mais difícil, disse Makonnen. "A teologia popular influencia muito mais fortemente do que a doutrina oficial neste país".
Foto: DW/J. Jeffrey
Sinais externos de observância religiosa
Na região de Amhara, muitos cristãos ortodoxos etíopes são adornados com nikisat, uma forma tradicional de tatuagem. Isto toma frequentemente a forma de cruzes na face, como visto nesta mulher em uma rua de Bahir Dar. A nikisat também é usada nos seios, braços, pernas e para escurecer as gengivas da boca.
Foto: DW/J. Jeffrey
Economia e religiosidade
O impacto do jejum inclui uma grave desaceleração nos negócios para os proprietários de cafés e restaurantes. Mas a Etiópia é um dos países mais religiosos do mundo. Uma pesquisa do Pew Research Center em 2015 descobriu que 98 por cento dos etíopes consideram a religião uma parte muito importante de suas vidas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Símbolos de fé
A maioria dos etíopes usa cruzes ao redor do pescoço, enquanto as imagens da Virgem Maria e Jesus, e as citações da Sagrada Escritura, adornam janelas de táxis e autocarros, ou estão nas paredes das casas das pessoas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Apegar-se à fé
A época de jejum este ano coincidiu com um polémico estado de emergência na Etiópia, que segue um ano de agitação sobre questões como pobreza, desemprego e corrupção. "As pessoas rezam ainda mais e dizem: onde está Deus, esqueceu-se desta terra?", diz um residente de Gonder. "Porque as pessoas não podem protestar, elas estão rezando mais do que nunca".
Foto: DW/J. Jeffrey
Tatuagens religiosas mais modernas
Hoje em dia, jovens etíopes estão se afastando do nikisat, que é visto como antiquado e injusto nas mulheres – geralmente é feito na adolescência –, mas isso não significa que não estejam aderindo às tatuagens religiosas mais modernas, como Haile, de 24 anos, em Bahir Dar.
Foto: DW/J. Jeffrey
No telemóvel
Os etíopes não vêem nada de estranho em usar a tecnologia moderna para refletir sua fé. Jovens ou mais velhos, muitos têm temas religiosos como imagem de fundo dos seus dispositivos móveis.
Foto: DW/J. Jeffrey
Quebrando o jejum
Um prato popular para quebrar o jejum diário é Beuyaineutu. Consiste em injera, o pão esponjoso da Etiópia, coberto com legumes e misturas picantes de feijão e lentilhas.
Foto: DW/J. Jeffrey
A oração nunca tem fim
Uma vez terminado o jejum, os etíopes celebram. A Etiópia tem uma das maiores taxas de consumo de carne per capita em África. Pouco antes de um jejum terminar, os pastores de cabras e ovelhas podem ser vistos dirigindo seus rebanhos ao longo das estradas. Mas mesmo com o fim do jejum, a oração permanece, especialmente nos momentos de necessidade.