EUA acenam com negócios, Presidente angolano faz alerta
23 de junho de 2025
Apostar no setor privado é o caminho, afirmou hoje, em Luanda, o embaixador Troy Fitrell, responsável sénior do Bureau dos Assuntos Africanos do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
O diplomata revelou que 300 mil empresas norte-americanas estão interessadas em operar no continente. "Ainda não fazem negócios em África, mas estão interessadas. Precisamos dialogar com elas para que compreendam as oportunidades disponíveis aqui", afirmou Fitrell.
"As economias africanas são hoje muito diferentes do que eram há 25 anos. Achamos que era necessário mudar a abordagem do Governo americano. Desta vez, trouxemos quase 1.022 participantes, mas sempre que formos à África, traremos líderes empresariais", prometeu.
Garantir a soberania
O Presidente angolano, anfitrião da cimeira, destacou a necessidade de os investimentos estrangeiros valorizarem cada país africano.
"Esperamos mais do que capital. Contamos com parcerias que respeitem a nossa soberania, que valorizem o conteúdo local, promovam a transferência de conhecimento e contribuam para a criação de empregos qualificados", disse João Lourenço.
O chefe de Estado sublinhou ainda que África já não é apenas um continente com grande potencial em recursos minerais, hídricos e florestais, mas sim uma região de decisões transformadoras e projetos concretos.
"Estamos a trabalhar para eletrificar e, consequentemente, industrializar os nossos países. Queremos adicionar valor às nossas matérias-primas, aumentar a oferta de empregos e, assim, evitar o êxodo dos nossos jovens — que são o nosso maior ativo — para a perigosa e humilhante travessia pelo Mediterrâneo rumo à Europa, em busca de melhores condições de vida."
Ausência de Trump
Temas como a agricultura, segurança alimentar, setor energético e desenvolvimento tecnológico estão em debate na Cimeira de Negócios EUA-África até quarta-feira, 25 de junho. O encontro reúne líderes do setor privado para debater oportunidades de comércio, investimento e inovação, com o objetivo de diversificar as parcerias para além da China, atualmente o maior parceiro económico do continente africano.
A ausência do Presidente norte-americano Donald Trump em Luanda foi notada.
O economista Domingos Lukundi considera que a falta de comparência pode estar ligada à guerra no Médio Oriente ou a outras prioridades de Washington. Ainda assim, Lukundi destaca o evento em Luanda como uma oportunidade para fortalecer as relações estratégicas entre os EUA e o continente africano.
"Espero que esta cimeira traga benefícios reais, não apenas no que diz respeito às barreiras comerciais, mas também à organização das relações. A África tem enfrentado dificuldades em salvaguardar os interesses americanos, e há demasiada burocracia que atrapalha a relação socioeconómica entre as duas partes", comentou.
Corredor do Lobito
Um dos temas em destaque na cimeira é o Corredor do Lobito. O ministro angolano das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, Carlos dos Santos, anunciou à imprensa que investidores norte-americanos demonstraram interesse em financiar a construção de uma autoestrada ao longo do corredor que liga Angola à Zâmbia.
"Viemos a esta cimeira para consolidar um outro projeto: a autoestrada Leste-Oeste, que funcionará como o corredor rodoviário do Lobito, ligando-nos prioritariamente à Zâmbia, e também com um ramal para a Namíbia. Já temos um traçado inicial, que aponta para entre 1.300 e 1.400 km de estrada, e definimos por quais províncias ela deverá passar", afirmou Carlos dos Santos.
Segundo a organização do evento, participam nesta cimeira, em Luanda, sete chefes de Estado africanos e seis chefes de Governo, além de vários ministros dos Negócios Estrangeiros — um número bastante inferior ao da cimeira anterior, realizada em Washington em 2022, na administração Biden, que contou com a presença de mais de 40 líderes africanos.
Em novembro deste ano, Angola deverá acolher mais uma cimeira internacional de negócios: a Cimeira União Europeia-África. A confirmação foi feita pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em declarações à Rádio Nacional de Angola.