EUA e Suíça querem erradicar pobreza no norte de Moçambique
Sitoi Lutxeque (Nampula)
30 de janeiro de 2024
O projeto PRO, anunciado em Nampula, prevê a criação de mais de 2.600 postos de trabalho já a partir de fevereiro, nas províncias de Nampula, Cabo Delgado, Niassa e Zambézia.
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Estima-se que 112 mil moçambicanos poderão beneficiar de assistência financeira no âmbito de uma parceria entre a USAID, a Agência Americana de Desenvolvimento Internacional, e sua congénere da Suíça.
O memorando de entendimento foi assinado esta segunda-feira (29.01), em Nampula. De acordo com a administradora adjunta da USAID, Isobel Coleman, o principal objetivo é erradicar a fome e ajudar a tirar as pessoas da pobreza.
"A parceria PRO entre a USAID e a Cooperação Suíça de Desenvolvimento ajudará os agricultores e empresários de toda a cadeia de valor agrícola a passar da agricultura de subsistência para um sistema baseado no mercado", disse.
Os Estados Unidos consideram Moçambique um país prioritário da "Feed the Future", uma iniciativa norte-americana para promover a segurança alimentar global.
A ideia agora, em cooperação com a Suíça, é ajudar a aumentar a produtividade agrícola, incentivar o empreendedorismo e facilitar o acesso ao mercado.
2.600 empregos a partir de fevereiro
O projeto PRO deverá arrancar já em fevereiro e tem a duração de três anos. Prevê-se a criação de mais de 2.600 postos de trabalho.
Segundo o embaixador dos Estados Unidos da América em Moçambique, Peter Vrooman, os parceiros esperam "como resultados, o aumento do nível de emprego e autoemprego para homens e mulheres".
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"Pretendemos impulsionar o setor agrícola em Moçambique, sobretudo no norte do país", afirmou.
O foco do projeto, avaliado em 32,2 milhões de dólares, serão as províncias de Nampula, Cabo Delgado, Niassa e Zambézia.
Desenvolvimento efetivo
Nampula tem mais de seis milhões de habitantes, é a província mais populosa de Moçambique, e cerca de 70% da população tem no setor da agricultura a sua principal fonte de renda, lembrou o governador Manuel Rodrigues.
O embaixador da Suíça em Moçambique, Alain Gaschen, acredita que, com esta parceria, será possível reduzir a pobreza de milhões de moçambicanos residentes no norte.
"A assinatura deste memorando de entendimento tem a mais-valia de agregar conhecimentos e experiências para desenvolver de forma efetiva a região norte de Moçambique, num contexto de consciência de vários desafios", frisou o embaixador.
Nampula: "Terra prometida" não consegue albergar mais "peregrinos"
Nampula tornou-se, desde o início dos ataques terroristas em Cabo Delgado, uma das "terras prometidas" para os refugiados. Muitos deslocados querem agora fixar ali residência, mas há dificuldades por falta de espaço.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Dificuldades em acolher mais pessoas
Muitos deslocados querem fixar residência em Nampula, uma cidade desenvolvida e calma no norte de Moçambique. No entanto, sentem fortes dificuldades devido à falta de terras disponíveis. O Governo local tenta encontrar soluções, que muitas vezes não são as que os habitantes mais gostam.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Há novas construções em zonas de risco
O fluxo populacional que a cidade de Nampula está a conhecer nos últimos anos, principalmente desde os conflitos em Cabo Delgado, tem contribuído para o aumento da construção de habitações em locais de risco. Até 2017, a cidade contava com mais de 700 mil habitantes, mas atualmente, de acordo com fontes do município, estima-se que sejam cerca de 900 mil.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Vende-se terreno: uma violação da lei que é ignorada
Em Moçambique, de acordo com a lei, a terra não pode ser vendida. Os terrenos são propriedade do Estado e cabe ao mesmo atribuí-los aos cidadãos. No entanto, as vendas ocorrem com regularidade. Em Nampula, em todos os bairros, incluindo os que estão em expansão, os terrenos são vendidos com um olhar indiferente por parte das instituições que velam pela legalidade.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
“Conflito por terras” entre mortos e vivos
A procura de espaço para viver está a originar o aumento de conflitos. Na zona do Muthita, no bairro de Mutauanha, a população invadiu áreas de reserva para construção de diversas infraestruturas do município. Esta imagem mostra uma disputa de terra num cemitério comunitário, entre os mortos e os cidadãos que o invadiram, tirando o sossego dos defuntos.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Naphutha: um rio resistente
O Rio Naphuta é fundamental no abastecimento de água da população do bairro de Mutauanha. Contudo, a sua existência é cada vez mais difícil. O rio sofre uma forte pressão humana, devido às construções de moradias e alterações climáticas.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Moradores unem esforços e abrem estrada
Na Unidade Comunal Muthita, no bairro de Mutauanha, os moradores decidiram unir-se. Recorrendo a enxadas, ancinhos, entre outras ferramentas de trabalho agrícola, decidiram abrir estradas. Embora de dimensões reduzidas, estes caminhos em terra batida permitem a mobilidade de viaturas pequenas.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Terras “sem ninguém”
A cidade de Nampula é a maior do norte de Moçambique. Na sua área ainda permanecem vastas terras férteis e intactas. Contudo, muitos cidadãos preferem ignorá-las devido à falta de condições mínimas. Em algumas destas zonas não ocupadas têm sido feitas delimitações de terrenos, mas a distribuição dos mesmos não tem sido frequente.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Nem tudo é negativo
A lotação da cidade moçambicana de Nampula não está apenas a criar pesos negativos. Os bairros de expansão da cidade estão também a conhecer novas e melhores moradias. Há nestes bairros luz e água. No entanto, a oferta desta última, por parte do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), não dura as 24 horas do dia.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Fábricas consomem mais terras
O “boom” populacional na cidade não está a travar o desenvolvimento. Nos últimos anos, a cidade tem vindo a conhecer um aumento de novas infraestruturas económicas e vários investimentos que consomem extensas terras. Ao longo da Estrada Nacional número 1, desde a entrada até à saída da cidade, há novas construções de indústrias a surgirem.