1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

EUA querem "tratar África como potência geopolítica que é”.

Michael Oti | Chrispin Mwakideu | Lusa | AFP
19 de novembro de 2021

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, anunciou esta sexta-feira (19.11) que o Presidente Joe Biden quer realizar uma reunião com os líderes africanos. E desvalorizou a questão da influência chinesa em África.

Kenia Besuch des US-Außenministers Blinken
Antony Blinken, secretário de Estado dos EUAFoto: Simon Maina/AFP/Getty Images

Na sua primeira visita ao continente, Blinken tenta provar o compromisso dos Estados Unidos com África. O chefe da diplomacia disse, num discurso em Abuja, capital da Nigéria, que "o Presidente Biden planeia realizar uma cimeira com líderes norte-americanos e africanos para prosseguir uma política diplomática de alto nível”.

A visita foi realizada antes de um evento organizado pela China, que está planeado para o final de setembro, no Senegal, país que o representante pretende visitar ainda esta sexta-feira (19.11).

O secretário de Estado norte-americano desvalorizou a questão da influência chinesa no continente e afirmou que a cimeira dos EUA pretende "transformar a relação com África e tornar possível uma cooperação eficaz”.

Blinken está a tentar evidenciar o compromisso dos Estados Unidos com África em diversas frentes, como a segurança, a luta contra a pandemia e as alterações climáticas. Segundo o representante do Estado, "a nossa parceria com a Nigéria e muitos outros países não é sobre a china ou outro elemento, é sobre África”.

Blinken quer fazer acordos "de maneira diferente"

Ainda em Abuja, Blinken diz que os EUA pretendem "tratar África como a potência geopolítica que é”. O diplomata explicou que está ciente dos laços que, muitas vezes, acompanham os investimentos estrangeiros e tentou distinguir-se dizendo que os Estados Unidos não pretendem limitar as parcerias com outros países, mas sim que a sua cooperação aponta à sustentabilidade e transparência.

Abuja, capital da NigériaFoto: Reuters/A. Sotunde

"As infraestruturas de outros países vêm com dívidas impossíveis de pagar, nós queremos fazer as coisas de maneira diferente”, afirmou o Secretário de Estado.

Em 2020, a relação dos Estados Unidos com o Nigéria ficou abalada depois de as forças de segurança nigerianas serem acusadas de reprimir de forma violenta os protestos em massa contra a brutalidade policial. De facto, há poucos dias foi divulgado um relatório, de um painel constituído há um ano, para investigar os abusos mencionados. O texto menciona que o Exército disparou munições vivas contra os manifestantes e que estes acontecimentos podem ser considerados "um massacre”.

Problemas africanos, soluções africanas

No início da sua visita, que começou no Quénia, Blinken apelou a soluções africanas para problemas africanos. Na Nigéria pediu um maior papel de liderança de Abuja e falou acerca da importância de construir forças de segurança eficazes, que têm conta os fatores subjacentes ao extremismo e respeitando os direitos humanos básicos dos nigerianos. "Os Estados Unidos estão investidos na parceria de segurança com a Nigéria de forma a reforçar o Estado de direito e a responsabilizar aqueles que cometem abusos que prejudicam o povo nigeriano”, explica.

O Congresso dos Estados Unidos atrasou a venda de 12 helicópteros de ataque US Cobra à Nigéria devido a questões acerca do compromisso dos militares em proteger os civis na sua luta contra a insurgência jihadista do Boko Haram. Ainda assim, o país começou a receber aeronaves de ataque, acordo que foi autorizado pelo antigo presidente Donald Trump, em 2017. "A capacitação vai muito além da entrega de equipamento militar”, explica Blinken.

Secretária de Gabinete para Relações Exteriores do Quénia, Raychelle Omamo, e Antony Blinken, Secretário de Estado dos EUAFoto: Andrew Harnik/Pool/AP/picture alliance

O correspondente da DW na Nigéria, Ben Shemang, acredita que a visita do Secretário de Estado vai "forçar o Governo a agir, os Estados Unidos, a União Europeia, a União Africana, têm interesse nisso. O chefe da diplomacia norte-americana apontou para a disponibilidade de Washington de apoiar o reforço das capacidades do exército da Nigéria, com total respeito pelos direitos humanos, numa altura em que o país luta há uma década com a insurgência extremista islâmica no nordeste.

Antony Blinken anunciou ainda a assinatura de um programa de ajuda ao desenvolvimento de mais de 2 mil milhões de dólares.

Acordos com nigerianos não são acordos com Governo

Oge Ogunogu, diretora para a África Ocidental no Instituto de Paz dos Estados Unidos, alertou para a necessidade dos EUA de lidarem com o povo nigeriano de forma mais direta, não apenas com o Governo, "é importante perceber que há duas Nigérias, muito compromisso tem sido feito com instituições, mas temos pessoas a trabalhar fora das estruturas do Estado e temos de interagir com elas de forma a perceber o que a paz e democracia significam para elas”, explica.

Expetativas dos cidadãos

Num vox pop, Lawrence diz que na visita de Blinken à Nigéria "devia aproveitar-se a oportunidade para discutir o assunto das armas com ele, para que seja possível usá-las de forma apropriada”. O cidadão queixa-se das restrições impostas pelos EUA relativamente ao uso do equipamento militar, " as munições só podem ser usadas contra terroristas, mas não contra bandidos, acho que essas condições não se deviam aplicar”, explica.

Outro cidadão, Favour, explica: "O nosso Governo é muito mau em termos de corrupção, desemprego e educação” e espera que a visita sirva para Blinken "fazer muitas perguntas ao presidente acerca do nosso país, porque as coisas estão más e eles não querem que isto se saiba”.

Vítimas de jihadistas na Nigéria: entre a dor e a esperança

02:04

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema