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EUA reduzem presença militar em África

Daniel Pelz | rl
23 de novembro de 2018

Com um novo foco militar na China e na Rússia, os EUA planeiam reduzir o número de tropas norte-americanas em África. Analistas não estão surpreendidos com a medida, mas alertam para eventuais novos cortes.

Foto: picture-alliance/dpa/US Air Force/N. Byers

Quando o número um do exército norte-americano para África falou ao Congresso, em março deste ano, quase suplicou aos membros do Capitólio para que o país mantivesse o compromisso com o continente.

"A longo prazo, os interesses dos EUA em África beneficiarão de nações estáveis e eficazes, Governos responsáveis, exércitos bem treinados e disciplinados e economias em crescimento", disse o General Thomas Waldhauser. "Os EUA têm de continuar em África".

Mas o Governo norte-americano parece estar a ir por um caminho diferente, pelo menos em parte. Na semana passada, o Pentágono anunciou que vai reduzir a sua presença militar em África em cerca de 10% nos próximos anos. Atualmente, os EUA têm cerca de 7 mil e 200 soldados e funcionários do exército no continente.

Novas prioridades

"A estratégia de defesa nacional foi reescrita em 2017 e com ela surge a mudança do foco militar para países como a China, a Rússia e outros", disse Candice Tresch, porta-voz do Pentágono, em entrevista à DW. "Neste sentido, o secretário da defesa ordenou uma revisão do número de unidades que combatem, atualmente, organizações terroristas em África", explicou.

No novo documento sobre a defesa norte-americana, publicado em janeiro, o combate ao terrorismo, que é o foco da maioria das missões militares norte-americanas em África, continua a ser considerado importante. Mas não é a prioridade. Com a nova estratégia, todos os comandos regionais dos EUA vão pesar a possibilidade de cortes.

Soldados norte-americanos no SenegalFoto: Getty Images/AFP/Seyllou

O Pentágono tenta desvalorizar os efeitos das reduções propostas no continente africano: "Continuaremos a trabalhar para combater organizações extremistas violentas. Trata-se apenas de mudar o foco", garantiu Tresch.

A porta-voz do Pentágono recusou adiantar onde é que terão lugar as reduções. Os Estados Unidos mantêm uma base militar no Djibuti, mas têm forças a operar em vários países, incluindo a Somália, a Nigéria e o Níger.

Segundo a agência de notícias Reuters, a redução será feira nos próximos três anos e deverá incluir países como o Quénia, Camarões e Mali.

Mas além da redução do número de soldados em África, os EUA aparentam estar também a mudar de tática. Em setembro, o New York Times avançou que o país estava a considerar retirar todas as suas unidades anti-terrorismo do continente. Na sua comunicação ao Congresso norte-americano, o General Waldhauser sublinhou também que o papel principal das tropas norte-americanas em África é de formação e apoio.

Mudança além dos números

"Esta é uma abordagem estratégica que enfatiza as capacidades militares dos EUA aplicadas a um papel secundário, não como personagens principais do conflito. As operações de segurança pertencem quase exclusivamente às forças de segurança parceiras", explicou o general.

À DW, Candace Tresch adiantou que as forças no terreno passariam de "assessoria tática para uma estratégia abrangente onde partilhamos inteligência ou fornecemos treino".

As forças norte-americanas sofreram perdas em África, incluindo no Níger, em outubro de 2017, quando quatro soldados dos EUA foram mortos numa emboscada. O ataque lançou o envolvimento militar norte-americano para o centro do debate e da polémica nos Estados Unidos.

Os planos da administração Trump não são uma surpresa para analistas de segurança no continente. "Dada a estratégia ‘América primeiro', claro que os EUA iriam tomar a posição de mover as suas tropas para se focarem em ameaças que consideram mais importantes", considera Fonteh Akum, investigador do Instuto de Estudos de Segurança em Dakar.

Eficácia limitada

EUA reduzem presença militar em África

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O envolvimento norte-americano em África tem tido uma eficácia irregular, diz Akum: "Se ouvirmos as autoridades de defesa norte-americanas, elas dizem que não tiveram sucesso, em alguns países, no treino de tropas para um nível em que poderiam avançar sozinhas para o campo de batalha. Apontam igualmente para o seu papel na Somália. Levaram a cabo ações contra a Al-Shabaab, mas a Al-Shabaab continua viva". Fonteh Akum considera que ainda é muito cedo para julgar os efeitos do plano dos EUA para reduzir as suas tropas, mas alerta para eventuais novas medidas. "Se pegarmos em 10% do pessoal norte-americano em África, cerca de 720 pessoas, e as realinharmos para a Rússia, a China, o Irão ou a Coreia do Norte, temos que nos questionar: será este número capaz de dar resposta ao tipo de ameaça que estes países podem significar? Não tenho a certeza. Portanto, se me perguntar, acho que nos podemos preparar para mais cortes no futuro".

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