O "plano urgente" apresentado segunda-feira em Paris envolve a Líbia, o Níger e o Chade. E defende a preservação da segurança dos países africanos para reduzir o número dos que se aventuram na travessia do Mediterrâneo.
Publicidade
França, Espanha, Alemanha, Itália e a alta representante da União Europeia (UE) para os Assuntos Externos, Federica Mogherini, apresentaram segunda-feira (28.08), numa minicimeira na capital francesa, em Paris um plano para gerir o fluxo migratório.
Além da Líbia, o país de proveniência da maioria dos imigrantes que chegam à costa italiana, o projeto envolve o Níger e o Chade e defende a preservação da segurança e a estabilidade destes países. A ideia é iniciar no Níger e no Chade o processo de identificação dos que têm direito a asilo, sob supervisão do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que esta é uma resposta que se pretende imediata eficaz a uma situação "intolerável", que exige uma ação comum e concreta, apontando para políticas de desenvolvimento a longo prazo.
Europa lança plano para gerir fluxo migratório
"Não vamos desistir de salvar vidas", prometeu o primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, que destacou a importância do trabalho conjunto. "O que podemos e devemos fazer é trabalhar juntos para uma afluência mais controlada, libertando estes cidadãos dos traficantes de seres humanos e, ao mesmo tempo, contribuir para a estabilidade dos países africanos de trânsito", defendeu.
De acordo com os números mais recentes da Organização Internacional para as Migrações (OIM), este ano entraram na Europa pelo Mediterrâneo mais de 119 mil imigrantes, a maioria através de Itália.
Estabilização na Líbia
Os participantes nesta reunião reconheceram ainda que nenhuma solução é sustentável sem o fim dos problemas políticos na Líbia, em crise desde a queda de Muammar Kadhafi, em 2011. Durante a cimeira, o primeiro-ministro do Governo líbio apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), Fayez Serraj, pediu mais apoio para combater o tráfico de migrantes e controlar a caótica fronteira sul do país.
Líderes africanos de países que são importantes pontos de passagem de migrantes também pediram à Europa que ajude a encontrar formas de vida alternativas aos traficantes de pessoas.
Os Presidentes do Chade, Idriss Déby Itno, e do Níger, Mahamadou Issoufou, sublinharam que a pobreza estava a arrastar as pessoas para a migração e o tráfico. "O que leva os jovens africanos a atravessar o deserto à custa da sua própria vida - porque têm menos hipóteses de chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo - é a pobreza, o desemprego e a educação precária", sublinhou Idriss Déby Itno.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que já se tinha mostrado disponível para apoiar as Forças Armadas da Líbia no controlo das fronteiras, prometeu reforçar o apoio na região. "Se quisermos travar os traficantes de seres humanos, só o conseguiremos através da ajuda ao desenvolvimento e a Alemanha faz parte desse processo. Também aumentaremos a nossa cooperação com o Chade", declarou Merkel.
Memórias dos refugiados africanos de Lampedusa
Lampedusa é como uma porta de entrada de imigrantes para a Europa. Mamadou Ba veio do Senegal, mas entrou como estudante bolseiro para Portugal. Estas fotos de Lampedusa refletem a sua visão da "ilha das tragédias".
Foto: Mamadou Ba
Porta de Lampedusa
Lampedusa é como uma porta de entrada para a Europa de milhares de imigrantes africanos. Mamadou Ba também veio de África, Senegal, mas não entrou por esta porta. Foi como estudante bolseiro para Portugal em 1997. É ativista da organização não governamental SOS Racismo. Mamadou Ba tirou estas fotografias em Lampedusa. Refletem a sua visão desta ilha, que viu tantas tragédias de refugiados.
Foto: Mamadou Ba
Cemitério de barcos
Estes cascos encontram-se no cemitério dos barcos. É aí que ficam os barcos que transportaram os refugiados para a ilha italiana. Foram muitas as vidas que se perderam nas travessias do Mediterrâneo. A maior tragédia aconteceu no dia 3 de outubro de 2013 quando 366 refugiados perderam a vida. No dia 11 de janeiro de 2014, cerca de 200 refugiados foram salvos pela marinha italiana.
Foto: Mamadou Ba
Morrer por querer viver
A ilha de Lampedusa tem vindo a ser considerada um cemitério para milhares de imigrantes que “morrem por procurar uma vida melhor”, nas palavras de Mamadou Ba. Só em outubro de 2013 mais de 400 pessoas perderam a vida em dois naufrágios a caminho do norte de África para a ilha de Lampedusa. A maioria dos mortos era oriunda da Eritreia e da Somália.
Foto: Mamadou Ba
Memória dos imigrantes
Pouco sabemos dos milhares que morreram durante as tentativas de chegar à Europa. A maior parte dos imigrantes mortos são conhecidos pelos números anónimos das notícias sobre os naufrágios. Deixam poucos rastros como estas roupas de náufragos, que mal se distinguem. Mas os mortos são também memória na ilha de Lampedusa.
Foto: Mamadou Ba
Objetos que humanizam
Na ilha existe um museu com objetos de vítimas dos náufragos como passaportes, fotografias pessoais e anotações. “O que os objetos nos mostram é um que a morte não consegue levar a memória. Alguns objetos podem mostrar quão humanos eram e quão simples eram os seus sonhos”, conta Mamadou Ba.
Foto: Mamadou Ba
Normalidade em alto mar
Os imigrantes levavam consigo os seus hábitos quotidianos e a sua cultura. Tentavam continuar esta normalidade nas arriscadas travessias, que lhes prometiam uma vida melhor na Europa. No entanto, não se sabe ao certo se os objetos expostos no museu, como estes tachos, pertenceram a pessoas que morreram ou a sobreviventes que "apenas" perderam os seus pertences na travessia.
Foto: Mamadou Ba
Memórias de vidas perdidas
Em muitos pontos da ilha italiana de Lampedusa podemos encontrar a memória dos imigrantes. "A memória serve para manter a vida do que já não vive“, diz Mamadou Ba. A ilha tem uma extensão de apenas nove quilómetros. Ela dista cerca de 205 quilómetros da Sicília, no sul de Itália, e de cerca de 130 quilómetros da Tunísia, o que torna Lampedusa num ponto de entrada ideal para a União Europeia (UE).
Foto: Mamadou Ba
Inimigo à vista
Este bunker da Segunda Guerra Mundial à entrada de Lampedusa servia para defender a ilha da invasão de forças navais inimigas. Mamadou Ba, da organização não governamental portuguesa SOS Racismo, acredita que este bunker é simbólico: “Lampedusa é a construção do imigrante como inimigo da Europa. Que é preciso conter, que é preciso combater.”
Foto: Mamadou Ba
Contra a "Fortaleza Europa"
Em fevereiro de 2014, mais de 400 representantes da sociedade civil, reunidos em Lampedusa, aprovaram a "Carta de Lampedusa". Ela defende uma mudança de paradigma sobre as realidades migratórias. Dado que são já "incontáveis as tragédias fatais que se têm sucedido nas costas marítimas europeias", os signatários querem ver a imigração e os direitos humanos dos imigrantes na agenda da UE.
Foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP/Getty Images
O mar de Lampedusa
A pequena ilha italiana que fica no meio do Mediterrâneo entre a Sicília e o norte de África espera por dias melhores. Poucos pensam que os fluxos migratórios e as tragédias associadas vão acabar se não houver uma transformação radical das políticas de imigração da Europa.