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Resultados da extrema-direita na Europa preocupam migrantes

12 de junho de 2024

Partidos de extrema-direita obtiveram grandes ganhos nas eleições para o Parlamento Europeu. Famílias e grupos de migrantes de todo o continente estão preocupados com o futuro da Europa e com a sua própria segurança.

No domingo, centenas de pessoas protestaram em Paris contra a vitória da extrema-direita nas eleições europeias
No domingo, centenas de pessoas protestaram em Paris contra a vitória da extrema-direita nas eleições europeiasFoto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance

Um mapa publicado pelo diário francês Le Monde mostra a divisão dos resultados das eleições europeias de 2024 por cidades e vilas. Está quase inteiramente a castanho, indicando o apoio dos eleitores ao grupo político europeu de extrema-direita Identidade e Democracia. Só depois de um olhar mais atento é que se pode identificar pequenos pontos de cor no mapa, indicando o apoio a outros grupos políticos europeus.

Em França, o partido nacionalista de extrema-direita Rassemblement National (RN) obteve 31% dos votos nas eleições europeias - o dobro do que obteve a aliança centrista do Presidente francês, Emmanuel Macron. Na sequência deste facto, Macron decidiu dissolver o Parlamento em Paris e convocou eleições antecipadas para o final do mês.

Enquanto a França se prepara para uma nova ronda de eleições, muitos na Europa estão preocupados com o facto de o RN, o partido da populista de direita Marine Le Pen, poder vir a assumir o poder durante os últimos dois anos de mandato de Macron. Mas há um segmento da sociedade que está particularmente preocupado: Os migrantes e os que têm antecedentes de imigração.

Migrantes preocupados com o futuro em França

Raja Ali Asghar, membro sénior do partido político paquistanês Pakistan Muslim League-Nawaz, em França, veio do Paquistão para Paris há 35 anos. "Os imigrantes que vivem em França estão preocupados com o seu futuro", afirma.

"Os partidos políticos de direita sempre tiveram uma visão particular contra os imigrantes. Num Governo [de direita], os problemas dos imigrantes vão aumentar", receia Asghar.

Ele manifesta preocupação com o facto de os imigrantes ficarem em desvantagem na procura de emprego e no acesso a benefícios sociais.

Marine Le Pen (dir.), presidente do grupo parlamentar do RN, e Jordan Bardella (esq.), principal candidato do partido para a Europa, têm vindo a ganhar popularidade em FrançaFoto: Samuel Rigelhaupt/Sipa USA/picture alliance

"Penso que os problemas dos imigrantes vão aumentar na Europa no próximo ano", avalia.

Satar Ali Suman, que emigrou do Bangladesh há 24 anos e gere vários restaurantes em Paris, concorda.

"Toda a gente sabe que os partidos políticos de extrema-direita não gostam de imigrantes, e especialmente de muçulmanos. Os imigrantes que vivem em França têm medo dos próximos dias", acrescenta.

"O fascismo chegou"

A escritora francesa Emilia Roig foi mais direta: "Reconheçam que o fascismo chegou", escreveu no Instagram. "Vamos falar no tempo presente. A negação não ajuda, só piora as coisas".

A organização francesa de assistência social Ghett'Up, que trabalha com jovens migrantes no subúrbio de Paris, também comentou a iminência de eleições antecipadas. "Precisamos de entrar em modo de combate", publicou a organização no X, antigo Twitter.

No outono, a Áustria vai também ser confrontada com novas eleições nacionais. O Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), populista e de direita, liderou as últimas sondagens europeias, ultrapassando o conservador Partido Popular Austríaco (ÖVP).

Em Itália, o partido de extrema-direita e neofascista Irmãos de Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, também obteve a maioria dos votos.

No geral, as fações de extrema-direita do Parlamento Europeu registaram um aumento de poder.

"Conto de fadas de votos de protesto"

Na Alemanha, nenhum partido obteve tantos novos votos nas eleições europeias como a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita. Nos últimos meses, os serviços de inteligência nacionais classificaram o partido AfD como "suspeito" de ser extremista e três estados alemães determinaram que o partido é "extremista de direita".

Dois destes estados, juntamente com um terceiro, vão realizar eleições estatais no outono. Em todos eles, o AfD emergiu das eleições europeias como o claro favorito.

Este facto preocupa muitos na Alemanha, como Aiman Mazyek, secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha.

"Não se trata apenas de um problema para a comunidade migrante, mas para a democracia como um todo. Penso que algumas partes dos nossos partidos democráticos ainda não compreenderam isso", avalia.

Antes das eleições europeias, houve manifestações contra a extrema-direita, como em Leipzig, no leste da Alemanha. Foto: Jan Woitas/dpa/picture alliance

Para Mazyek, o AfD já não é um partido marginal, mas sim um grande partido político, pelo menos no leste da Alemanha. "Estou farto deste conto de fadas de votos de protesto", diz, referindo-se à suposição popular de que o AfD reunia a maior parte do seu apoio de eleitores descontentes que esperavam "chocar o sistema", elegendo um político de fora.

"São pessoas que se escondem ideologicamente, mas que sabem muito bem que se trata de um partido de extrema-direita", explica.

Eyüp Kalyon, secretário-geral da União Turco-Islâmica para os Assuntos Religiosos (DITIB), uma das maiores organizações muçulmanas da Alemanha, diz estar "seriamente preocupado" com a polarização política após as eleições de domingo.

"Tomámos nota de que as bases [políticas] extremas - tanto de esquerda como de direita - constituem a maioria em vários Estados. Ambas as direções tomam posições populistas e protecionistas e estão a envenenar o clima político", afirma Kalyon.

Eleições europeias espelham divisões do continente?

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Atentados terroristas de direita

Em Colónia, no oeste da Alemanha, as eleições europeias coincidiram com o 20º aniversário do atentado terrorista de direita no bairro de Keupstrasse, popular entre as famílias turcas. Na altura, as autoridades atribuíram o atentado à bomba de pregos, que feriu 22 pessoas, ao "ambiente criminoso" do bairro. Só anos mais tarde é que ligaram o atentado à célula terrorista de extrema-direita National Socialist Underground (NSU), que se motivou no racismo para cometer pelo menos 10 assassínios.

Cihan Sinanoglu, diretor do Gabinete Nacional de Monitorização da Discriminação e do Racismo do centro de investigação para a integração e a migração DeZIM, sediado em Berlim, escreveu no X que considerava o sucesso do AfD uma "realidade difícil de suportar".

Meral Sahin tem uma loja em Keupstrasse, em Colónia, e é co.presidente do sindicato do bairro, que representa os interesses da comunidade. "É incrivelmente triste ver como toda a Europa está a inclinar-se para a direita", diz ela em resposta aos resultados das eleições europeias.

"O que é que isto significa para todos nós? Acho que a maioria de nós não sabe". Sahin diz que muitas pessoas em Keupstrasse tentaram fazer a sua parte. Mas acrescenta que "é preciso fazer mais - todos têm de contribuir".

Ameaça crescente

Em janeiro, um relatório de investigação sobre uma reunião secreta de extremistas de direita que discutia a chamada "remigração", ou deportação, de qualquer pessoa de origem não alemã, alimentou debates sobre a proibição do AfD.

Tahir Della, membro da Iniciativa de Pessoas Negras na Alemanha (ISD), afirma que as preocupações dos imigrantes não foram devidamente abordadas.

"Em vez disso, muitos [políticos] estão preocupados com a perda de eleitores, com a perda de confiança e, consequentemente, com a perda de poder. Quando esses movimentos crescem e ganham força, também aumenta a ameaça para os negros, migrantes e refugiados", avalia.

A polícia e os centros de aconselhamento alertaram para o facto de os crimes motivados pela ideologia política de extrema-direita, especialmente a violência racista e antissemita, estarem a aumentar na Alemanha.

Olhando para os resultados das eleições europeias, muitos receiam que esta evolução ainda não tenha atingido o seu ápice - não só na Alemanha, mas em todo o continente.

À lupa: O que faz o Parlamento Europeu?

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