Evariste Ndayshimye vence presidenciais no Burundi
mo | mjp | com agências
25 de maio de 2020
O candidato do CNDD-FDD, partido no poder, foi declarado o vencedor das eleições de 20 de maio, com 68,7% dos votos. Oposição contesta resultados.
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O candidato Évariste Ndayishimiye, do partido no poder no Burundi, venceu as eleições presidenciais, realizadas a 20 de maio, de acordo com os resultados provisórios publicados esta segunda-feira (25.05) pela Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI).
Évariste Ndayishimiye, líder do Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD), no poder, obteve 68,72% dos votos (pouco mais de três milhões), seguido do líder do Congresso Nacional para a Liberdade (CNL), da oposição, Agathon Rwasa, que obteve 24,19% (pouco mais de um milhão de votos).
Com estes dados, que ainda terão de ser validados pelo Tribunal Constitucional, para serem anunciados os resultados finais, a 4 de junho, Évariste Ndayishimiye tem uma maioria absoluta e evita uma segunda volta. Se não houver contratempos, o vencedor tomará posse como novo Presidente do Burundi em agosto, para um mandato de sete anos.
O partido governamental ganhou também as eleições legislativas, que se realizaram no dia 20, ao conquistar 72 dos 100 lugares no parlamento, seguido do CNL (27) e da União para o Progresso Nacional (Uprona, com um lugar).
Numa transmissão em direto nos meios de comunicação burundeses, a comissão eleitoral revelou ainda que 87,7% dos 5,11 milhões de eleitores registrados votaram nas eleições de quarta-feira.
Eleições "fantasia" no meio da crise
Agathon Rwasa e o seu partido já contestaram o resultado da eleição, classificando os primeiros resultados como uma "fantasia" e acusando as autoridades de prenderem os seus agentes, impedindo-os de observar a votação e participar na contagem.
O veterano político atraiu multidões durante a campanha e os observadores consideram que poderá beneficiar do apoio de uma população esgotada pelo regime do CNDD-FDD. No entanto, o líder da oposição já deu a entender que não sairia à rua em protesto, preferindo recorrer ao Tribunal Constitucional para contestar os resultados, embora teça duras críticas ao sistema eleitoral.
A eleição teve lugar sem observadores internacionais, e com pouca consideração pelo surto de coronavírus que está a ser amplamente ignorado pelo Governo do Burundi, apesar de se registarem 42 infeções e uma morte no país.
"As eleições foram calmas. A contagem foi feita no local da votação e a ata foi entregue. A contagem foi feita com transparência", afirmou o presidente do CENI, Pierre-Claver Kazihise, no momento em que anunciou os resultados num hotel em Bujumbura, a capital comercial e maior cidade do Burundi.
Herança de isolamento
Evariste Ndayishimiye, de 52 anos, é um antigo general do exército que foi escolhido pelo CNDD-FDD para substituir o Presidente Pierre Nkurunziza, que está no poder desde 2005 e cujos últimos anos de mandato foram marcados por tumultos. A violência que se seguiu à sua candidatura a um terceiro mandato, em 2015, deixou pelo menos 1.200 mortos e levou 400 mil pessoas a fugir do país.
Ndayishimiye vai herdar um país profundamente isolado, sob sanções e sem apoio dos doadores estrangeiros, com a economia nacional profundamente afetada pelos anos de violência e violações dos direitos humanos.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.