Exército da Etiópia mata 16 civis em semana de protestos
Lusa | mjp
11 de março de 2018
Pelo menos 16 pessoas foram mortas por soldados etíopes na região de Oromia, palco de protestos contra o Governo. Algumas das vítimas foram confundidas com membros de um grupo separatista.
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Pelo menos 16 civis foram mortos pelo exército da Etiópia, esta semana, na região de Oromia (sul), palco de protestos contra o Governo, anunciaram este domingo (11.03) as forças de segurança.
No sábado, um grupo de cinco soldados matou nove civis e feriu outros 12 na localidade de Moyale, perto da fronteira com o Quénia.
Segundo um comunicado, os civis foram confundidos com membros da Frente de Libertação Oromo, um movimento separatista que luta há décadas pela independência. Fontes locais afirmam que 13 pessoas foram mortas em Moyale.
"Os cinco soldados, incluindo o comandante, foram detidos e são objeto de uma investigação", anunciou em comunicado o ministro da Defesa, Siraj Figessa. Outras sete pessoas morreram em outros incidentes.
Estado de emergência
A Etiópia decretou em fevereiro o estado de emergência durante seis meses, prorrogáveis por mais quatro, devido aos protestos e à violência no país.
Os protestos têm por base o descontentamento das duas principais etnias do país -- oromo (sul e oeste) e amhara (norte) --, que se consideram sub-representadas no partido que governa o país desde 1991, mas também na partilha de recursos e acesso a direitos e liberdades.
Em 2015 e 2016, a Etiópia foi palco das maiores manifestações antigovernamentais dos últimos 25 anos. A repressão dos protestos fez 940 mortos, segundo a comissão etíope de direitos humanos, dependente do Governo.
A calma regressou ao país com a instauração do estado de emergência entre outubro de 2016 e agosto de 2017, embora os protestos se tenham repetido ocasionalmente.
Jejum voluntário na Etiópia, país assolado pela fome
A Etiópia é um dos países mais religiosos do mundo. Os cristãos ortodoxos jejuam sete vezes por ano e até usam tatuagens religiosas. Numa nação politicamente conturbada, as pessoas estão "rezando mais do que nunca".
Foto: DW/J. Jeffrey
Sete períodos de jejum
Durante a Quaresma, período de preparação para a Páscoa, os cristãos ortodoxos etíopes jejuam por 55 dias consecutivos (católicos jejuam por 40 dias). Ao longo do ano há sete períodos designados de jejum. Os mais fervorosos jejuam por cerca de 165 a 250 dias. Isso inclui abstenção de todos os produtos animais – carne, laticínios e ovos – todas as quartas e sextas-feiras.
Foto: DW/J. Jeffrey
Regras rígidas
Cinzas são preparadas em uma igreja em Gonder para marcar cruzes nas testas dos fiéis. Além da proibição de produtos de origem animal para o jejum atual de 55 dias, os cristãos ortodoxos da Etiópia não podem comer ou beber nada até às 15 horas. Alguns param de escovar os dentes, temendo quebrar o jejum engolindo sangue das gengivas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Fé e espiritualidade
Para os etíopes, a religião e o jejum habitam um reino de fé e espiritualidade que muitos no Ocidente não podem compreender hoje em dia. "A teologia oficial ensina que o jejum é necessário para se aproximar de Deus reprimindo a carne", diz Makonnen, um diácono da Igreja Ortodoxa. "Para ser plenamente humano, você precisa de um equilíbrio entre espírito e corpo".
Foto: DW/J. Jeffrey
Exigências da fé cristã
Algumas restrições de jejum incluem álcool e até mesmo o que pode acontecer dentro do quarto. A doutrina da Igreja não proíbe as relações sexuais durante os jejuns, nem o álcool. Mas os cristãos ortodoxos etíopes voluntariamente aderiram a um teste mais difícil, disse Makonnen. "A teologia popular influencia muito mais fortemente do que a doutrina oficial neste país".
Foto: DW/J. Jeffrey
Sinais externos de observância religiosa
Na região de Amhara, muitos cristãos ortodoxos etíopes são adornados com nikisat, uma forma tradicional de tatuagem. Isto toma frequentemente a forma de cruzes na face, como visto nesta mulher em uma rua de Bahir Dar. A nikisat também é usada nos seios, braços, pernas e para escurecer as gengivas da boca.
Foto: DW/J. Jeffrey
Economia e religiosidade
O impacto do jejum inclui uma grave desaceleração nos negócios para os proprietários de cafés e restaurantes. Mas a Etiópia é um dos países mais religiosos do mundo. Uma pesquisa do Pew Research Center em 2015 descobriu que 98 por cento dos etíopes consideram a religião uma parte muito importante de suas vidas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Símbolos de fé
A maioria dos etíopes usa cruzes ao redor do pescoço, enquanto as imagens da Virgem Maria e Jesus, e as citações da Sagrada Escritura, adornam janelas de táxis e autocarros, ou estão nas paredes das casas das pessoas.
Foto: DW/J. Jeffrey
Apegar-se à fé
A época de jejum este ano coincidiu com um polémico estado de emergência na Etiópia, que segue um ano de agitação sobre questões como pobreza, desemprego e corrupção. "As pessoas rezam ainda mais e dizem: onde está Deus, esqueceu-se desta terra?", diz um residente de Gonder. "Porque as pessoas não podem protestar, elas estão rezando mais do que nunca".
Foto: DW/J. Jeffrey
Tatuagens religiosas mais modernas
Hoje em dia, jovens etíopes estão se afastando do nikisat, que é visto como antiquado e injusto nas mulheres – geralmente é feito na adolescência –, mas isso não significa que não estejam aderindo às tatuagens religiosas mais modernas, como Haile, de 24 anos, em Bahir Dar.
Foto: DW/J. Jeffrey
No telemóvel
Os etíopes não vêem nada de estranho em usar a tecnologia moderna para refletir sua fé. Jovens ou mais velhos, muitos têm temas religiosos como imagem de fundo dos seus dispositivos móveis.
Foto: DW/J. Jeffrey
Quebrando o jejum
Um prato popular para quebrar o jejum diário é Beuyaineutu. Consiste em injera, o pão esponjoso da Etiópia, coberto com legumes e misturas picantes de feijão e lentilhas.
Foto: DW/J. Jeffrey
A oração nunca tem fim
Uma vez terminado o jejum, os etíopes celebram. A Etiópia tem uma das maiores taxas de consumo de carne per capita em África. Pouco antes de um jejum terminar, os pastores de cabras e ovelhas podem ser vistos dirigindo seus rebanhos ao longo das estradas. Mas mesmo com o fim do jejum, a oração permanece, especialmente nos momentos de necessidade.