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Ex-guerrilheiros da RENAMO querem começar uma vida nova

Bernardo Jequete (Chimoio)
14 de setembro de 2020

Construir uma casa, abrir machamba, apostar no comércio – são alguns dos sonhos de ex-guerrilheiros da RENAMO após serem desmobilizados. A DW África falou com alguns deles.

Foto: DW/B. Jequete

Linda Saize, mãe de dois filhos, afirma que está bem. A ex-guerrilheira da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) ostentava a patente de coronel. Foi recrutada em 1980, com apenas 10 anos de idade, no distrito de Dombe, província de Manica, onde frequentava a 4ª classe do antigo sistema de educação. Agora, 40 anos depois, foi viver para a capital provincial, Chimoio, depois de ser desmobilizada na Gorongosa.

Em mente tem vários projetos. Um dos primeiros que gostaria de concretizar é construir a sua própria casa, com o dinheiro que recebeu do Governo, e dedicar-se à agricultura - ao cultivo do milho, couve, tomate.

Linda SaizeFoto: DW/B. Jequete

"Quero abrir machamba e fazer casa para ficar bem com os meus filhos. Penso que o valor recebido dá para fazer alguma coisa. Não tenho dificuldade com o valor. Só tenho de agradecer ao Governo", diz Linda Saize em entrevista à DW África.

Outro dos sonhos da ex-guerrilheira é conseguir um financiamento do Fundo da Paz e dedicar-se ao comércio de produtos diversos.

Apelos a uma "receção tranquila"

As autoridades moçambicanas têm apelado à população para receberem bem os ex-guerrilheiros. "Estamos num momento de desmilitarização, desmobilização dos homens armados. Queremos apelar para que os recebam da melhor forma e os enquadrem nas comunidades para que eles se sintam parte integrante da nossa sociedade e possamos juntos desenvolver a nossa província", afirmou recentemente a governadora de Manica, Francisca Domingos Tomás.

13% dos mais de 5.000 guerrilheiros da RENAMO já beneficiaram do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), de acordo com o Instituto para a Democracia Multipartidária.

Numa nota publicada na semana passada, a organização apela igualmente a que se crie um ambiente "favorável" para que os ex-guerrilheiros possam ter uma "receção tranquila nas suas zonas de origem e nos setores de trabalho em que passarão a fazer parte". Além disso, o processo de reintegração deve "considerar as necessidades específicas das mulheres, ao passarem para a vida civil", sublinha.

Linda Saize afirma que, desde que chegou ao seu novo bairro, não teve problemas com ninguém. "Toda a gente está a gostar de mim."

Pedro MoisésFoto: DW/B. Jequete

Uma vida nova

Quem também quer uma vida nova é Pedro Moisés. Desde que retornou à vida civil, a 10 de junho de 2020, o ex-tenente-general tem vários projetos em mãos, à semelhança de Linda Saize.

O antigo oficial superior da RENAMO e comandante da base de Savane estava ansioso para regressar a casa, pois estava cansado de viver longe da família: "Há muita diferença, aqui e no mato. Aqui estou a viver com a minha família, estou a sentir-me bem", conta.

Pedro Moisés pretende usar o dinheiro que tem recebido no âmbito do DDR para cobrir as despesas domésticas, construir uma casa e abrir uma machamba. Mas, para fazer tudo isso, também é preciso "capacidade de gestão". O dinheiro "não chega" para todos os sonhos, confessa.

Domingos Andicene, líder do bairro Josina Machel, no distrito de Vanduzi, já convidou os desmobilizados da RENAMO a irem para a sua região, e promete ajudar no que puder.

"Quando necessitarem de espaço para machamba e fazer casa, eu vou dar. Poderei passar declaração para fazerem os seus projetos e a sua vida. Eles podem vir, poderei recebê-los, porque são moçambicanos", afirma Andicene.

No início do mês foram desmobilizadas 140 guerrilheiras da RENAMO numa antiga base militar em Vunduzi, distrito de Gorongosa. Na altura, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, lembrou que a paz é um processo contínuo, que não termina com o DDR. "A paz significa uma inclusão permanente no diálogo e isso não pode parar", disse Nyusi.

Ao todo, cerca de 700 homens e mulheres da RENAMO já regressaram à vida civil.

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