Os "mambas" perderam por um a zero, num jogo criticado pelos altos preços dos bilhetes. O golo da noite foi marcado por Simão Sabrosa.
Publicidade
Antigas glórias da seleção nacional de Moçambique e do Barcelona estiveram frente a frente neste sábado (11.11) no Estádio Nacional do Zimpeto, em Maputo, numa partida de futebol de carácter particular.
Mas aquilo que seria um simples amigável entre veteranos da seleção nacional de futebol de Moçambique, os mambas, e do Barcelona, acabou por ser jogo mais caro de sempre da história do futebol moçambicano.
O bilhete mais "barato", para a bancada sol, custou o equivalente a nove euros – muito para o bolso do moçambicano amante do desporto rei. Normalmente, para um jogo da seleção nacional o bilhete custa o equivalente a quase três euros.
O bilhete mais caro, para a bancada central-sombra, chegou a custar 90 euros. Mas este era para os VIPs. A partida mais milionária de sempre também teve um jantar de leilões, em que a entrada chegou a custar quase os 400 euros. Além disso, embora não tornados públicos, para os camarotes a organização disponibilizou bilhetes que rondaram os dois mil euros.
Adeptos queixam-se do preço dos bilhetes
Jordão Afonso, moçambicano adepto do Barcelona, exibia o seu bilhete que comprou ao preço de nove euros. "Não foi fácil arranjar o bilhete. Sou vendedor ambulante e já imaginas o que são 600 meticais para mim", lamenta.
Outros criticaram a organização pelos astronômicos preços da entrada, por se tratar de um jogo de veteranos. Aliás, em Moçambique é notável que a camada social que adere aos campos de futebol é a mais baixa.
"Quando assisto ao jogo mais decisivo dos mambas normalmente pago duzentos meticais o bilhete. Nem no mercado negro ninguém já vendeu ou comprou a este preço", lamenta Seródio Maculuve, outro adepto.
Nem mesmo António Muchanga, Antoninho, antiga estrela dos mambas que alinhou neste jogo, não poupou criticas à organização: "Pecou pelo facto de o preço ter sido impeditivo para muitos amantes de futebol".
Para os jornalistas que cobriram a partida, também houve inovações na organização. A credenciação tinha de ser feita com uma fotografia tipo-passe.
Os antigos mambas em ação
O Estádio Nacional do Zimpeto, com as bancadas escassas de gente para ver bom espetáculo de futebol, viu os antigos jogadores do Barcelona e mambas, já velhinhos, com barba e cabelos brancos, a mostrarem aquilo que ainda sabem.
Do lado dos moçambicanos o destaque foi para Armando Sá, Tico-Tico, Sérgio Matsolo (Faife) e do lado do Barcelona foi mais vistoso Edgar Davids, Patrick Kluivert, Simão Sabrosa e Rivaldo.
Foi um jogo de muito fair play, passos lentos, desgaste físico, mas os antigos mambas mostraram que quem sabe, não esquece. Mas o único golo da noite foi do Barcelona, surgido através da cobrança de um livro direto, marcado por Simão Sabrosa. Viu-se um Simão que lembrou os seus tempos no Benfica, no Atlético de Madrid e no Barcelona a marcar aquele tipo de golos.
Todos no estádio aplaudiram. O resultado em nada interessava. Os adeptos só queriam viver este momento único. Ver antigas estrelas do futebol: "Devíamos ser brindados assim todos os anos", disse Mario Castelo, que torce pelos mambas.
No fim do jogo, Edmilson do Barcelona considerou que "foi uma festa bonita e parabéns aos jogadores das duas equipas pelo espetáculo que proporcionaram ao público".
Tico-Tico, que arrancou muitos aplausos dos adeptos por ser o melhor marcador de sempre da seleção nacional de Moçambique, achou que "esta iniciativa é boa para inspirar a juventude porque são equipas que só são vistas pela televisão. É importante que tenhamos mais iniciativas destas".
O melhor do mundo, o único neste jogo, Rivaldo, esteve à frente desta organização e disse estar "muito feliz por ter vindo cá. Foi um bom jogo e espero que esta iniciativa não pare por aqui".
No fim houve troca de presentes, entrega de troféus e medalhas a todos que participaram desta iniciativa que envolveu a Federação Moçambicana de Futebol, a Fundação Barcelona e empresários.
Eusébio: O primeiro rei africano do futebol
O moçambicano Eusébio da Silva Ferreira, também conhecido por Eusébio, foi o primeiro africano a tornar-se uma estrela de futebol em todo o mundo. A passagem pelo Benfica e pela seleção portuguesa fizeram dele uma lenda.
Foto: F.Leon/AFP/GettyImages
Homenagem tardia para o craque
O moçambicano Eusébio é considerado a primeira super-estrela africana do futebol. Graças aos seus inúmeros golos, o Benfica de Lisboa venceu os maiores sucessos da história do clube. Da mesma sorte beneficiou a seleção nacional portuguesa, que com Eusébio viveu nos anos 60 do século passado o primeiro auge. Ainda assim, demorou para que o trabalho do jogador fosse reconhecido em Portugal.
Foto: picture-alliance/Pressefoto UL
Eusébio, o Pelé africano
Eusébio é considerado um dos três melhores jogadores de futebol do século passado, juntamente com o brasileiro Pelé (à esquerda) e com o alemão Franz Beckenbauer. Nasceu numa família pobre, em 1942, e cresceu em Maputo, quando a cidade ainda se chamava Lourenço Marques, sob o domínio colonial português. Aos 17 anos começou a jogar no Sporting de Lourenço Marques.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Benfica, o clube do coração
Quando se mudou para Portugal em 1960, Eusébio não começou a jogar, tal como se esperava, pelo Sporting de Lisboa, o clube-mãe do Sporting de Lourenço Marques. Eusébio integrou, precisamente, a equipa rival, o Sport Lisboa e Benfica. A operação da contratação foi mantida em segredo. Anos depois do fim da sua carreira enquanto jogador, Eusébio continuou ativo como conselheiro do clube.
Foto: picture-alliance/dpa
No topo da Europa
Eusébio colocou o Benfica no topo do futebol europeu. A equipa chegou várias vezes à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o precursor da Liga dos Campeões. Em 1962, o Benfica de Eusébio chegou mesmo a vencer o troféu. Porém, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1968, no Estádio de Wembley (foto), o Benfica perdeu frente ao Manchester United por 1:4, já no prolongamento.
Foto: picture-alliance/dpa
Mundial de 1966: O maior sucesso português
Pode dizer-se que foi graças a Eusébio que Portugal chegou em 1966 ao terceiro lugar do Campeonato Mundial de Futebol, o melhor resultado de sempre da seleção das quinas na competição. Esta foi também a primeira participação de Portugal no Mundial. O país falhou a final, ao perder nas meias-finais - na foto - por 2:1 contra a Inglaterra, a 26 de julho de 1966, no Estádio de Wembley, em Londres.
Foto: picture-alliance/dpa
Brasil e Pelé no chão
No Mundial de 1966: O brasileiro Pelé está ferido no chão e Eusébio procura reconfortá-lo. Neste jogo, Portugal venceu o Brasil por 3:1, com dois golos de Eusébio, afastando a equipa sul-americana na fase de grupos. A partida, disputada no estádio Goodison Park, em Liverpool, levou Portugal a sair das eliminatórias como primeiro do grupo. Com nove golos, Eusébio foi o melhor jogador do campeonato.
Foto: picture-alliance/dpa
Quatro golos decisivos contra a Coreia do Norte
Eusébio tornou-se uma lenda viva em 1966. A 23 de julho, Portugal jogava contra a Coreia do Norte e perdia por 3:0. Mas quatro golos do "Pantera Negra", como também ficou conhecido, inverteram o sentido do jogo. Portugal derrotou a equipa asiática por 5:3 e apurou-se para a semifinal. Na foto, Eusébio bate o guarda-redes norte-coreano Lee Chang-myung.
Foto: picture-alliance/dpa
Lesões
Na foto, durante o jogo contra a Hungria, a 13 de julho de 1966, em Manchester, Eusébio é atingido na cabeça. Porém, Portugal acabou por ganhar por 3:1. Ao longo da carreira, Eusébio sofreu vários problemas, especialmente depois de deixar o Benfica, em 1975, e jogou para clubes mais pequenos em Portugal e, mais tarde, no Canadá, Estados Unidos e México. Muitas vezes, estava fora de forma.
Foto: picture-alliance / United Archives/TopFoto
Bota de Ouro
Eusébio (esquerda) recebe a "Bota de Ouro", a 16 de setembro de 1968, como melhor jogador da Europa. O húngaro Antal Dunai recebeu a de prata. No total, Eusébio marcou 1137 golos durante a sua carreira profissional. A sua reputação é conotada, provavelmente, com menos elegância do que a de Pelé ou Beckenbauer, mas Eusébio é hoje considerado o melhor jogador de Portugal de todos os tempos.
Foto: picture-alliance/dpa
Embaixador de Portugal
Eusébio com o ex-técnico da seleção alemã, Jürgen Klinsmann, no Campeonato da Europa de 2004, em Portugal. Depois da carreira de jogador, Eusébio trabalhou quase sempre ao serviço do futebol português. O antigo jogador acompanhava a equipa portuguesa como assistente técnico. Apesar da fama generalizada, os companheiros descrevem-no como uma pessoa humilde e com os pés no chão.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Despedida no Estádio da Luz
A poucos dias de completar 72 anos, Eusébio morreu de madrugada, a 5 de janeiro de 2014, vítima de insuficiência cardíaca. A estátua de bronze que eterniza o antigo jogador à porta do Estádio da Luz, em Lisboa, e que foi descerrada há quase 22 anos, é o palco privilegiado de todas as homenagens ao avançado que inscreveu o seu nome na lista dos melhores futebolistas de sempre.